Em muitos aspectos, este filme do Coringa lembra o longa solo do Venom. Em ambos os casos, são personagens famosos por serem vilões clássicos de super-heróis populares. Porém, o Venom que conhecemos dos gibis do Homem-Aranha sempre teve um lado mais, digamos, do bem. Verdade, ele queria matar o aracnídeo, mas era motivado apenas por vingança e em geral não era um perigo para o novaiorquino padrão.

Já o Coringa tem uma crueldade que vai muito além da sua relação com Batman. Ele é um grande perigo para Gotham e seus cidadãos. Então como vão fazer um personagem como este ser alavancado de antagonista para protagonista? A resposta? Transformando-o em alguém com uma história realmente trágica.

O PALHAÇO QUE CHORA

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Para esta crítica Coringa, eu farei uma sinopse um pouco diferente. Ao invés de te contar detalhes da história que acontecem no primeiro ato, vou resumí-lo de forma bem simples e sem spoilersCoringa conta a história de um sujeito com problemas mentais tentando lidar com a absurda e gratuita crueldade do mundo.

É o tipo de coisa que é ridiculamente difícil para todo mundo, mesmo para aqueles que têm mentes sadias. Imagino quão desafiador deve ser para um pobre coitado que precisa de mais de meia dúzia de medicamentos simplesmente para aguentar a vida.

Crítica Coringa, Coringa, Joker, Batman, Warner, DelfosLogo no início é estabelecido que uma das formas que os problemas mentais de Arthur Fleck (o nome civil deste Coringa) se manifestam é com uma gargalhada incontrolável, que não representa como ele se sente. E pelo que vemos nos primeiros conflitos, esta risada aparece sempre que ele se depara com crueldade. O que, em uma Gotham tomada por brigas de classe e crimes, é bem frequente.

Pois é, temos aqui um filme do Coringa repleto de atos de crueldade, mas a imensa maioria deles não é causado pelo arquiinimigo do Batimão. Arthur, aliás, é um coitado, um sujeito digno de pena e simpatia.

E O BATMAN?

Ao contrário de VenomCoringa não é totalmente independente do Batman. Esta história acontece muitos anos antes, no entanto. A família Wayne é importante para a história, mas Bruce ainda é uma criança. O mais desenvolvido é seu pai, Thomas.

E aqui entra meu principal problema com o longa: aquilo que o Cyrino costumava chamar por aqui de “mal do autor”. Ou seja, a necessidade que os roteiristas sentem de conectar tudo de forma extremamente amarradinha. Sem entrar no território de spoilers, há uma relação direta da família Fleck com o clã Wayne. E é algo totalmente desnecessário, que arrasta o filme todo para baixo.

Além disso, esta interpretação de Thomas Wayne como um grandessíssimo FDP não foi novidade para mim, tendo sido muito melhor realizada pela Telltale em Batman: The Enemy Within.

Apesar de Bruce Wayne existir aqui, e a história ter sementes que poderiam ser aproveitadas num eventual novo Batman cinematográfico, o diretor Todd Phillips (de Se Beber, Não Case) já disse que não há planos deste Coringa se encontrar com o morcegão. E isso realmente parece difícil. Joaquin Phoenix já não é mais um ninfeto, e considerando que Bruce Wayne aqui é uma criança, até ele se tornar Batman, este Coringa já será um senhor idoso.

Isso me deixa um pouco temeroso pelo futuro do Batman no cinema. Afinal, Batman sem Coringa é como o Professor Xavier sem Magneto.

CORINGA INDEPENDENTE

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Muito provavelmente o novo homem-morcego encontrará um outro Coringa em suas aventuras. Assim, podemos deduzir que o Coringa deste filme vai acabar sendo uma história à parte. Uma reinterpretação de um personagem famoso da literatura. E tudo bem.

A verdade é que o Coringa de Phoenix é a primeira versão do personagem que eu realmente considero muito boa desde a de Mark Hamill. Pois é, ao contrário da maioria, eu não pago pau para a versão do Heath Ledger.

Antes de asssistir a este filme, já tinha lido muitos elogios à atuação de Phoenix, e desta vez eu concordo que o cara mandou bem. Temos aqui uma daquelas interpretações que parece ter vindo da alma. O cara não só está fisicamente muito diferente, mas simplesmente sumiu no papel.

De fato é uma atuação que parece ter sido feita para angariar prêmios. E você sabe, eu não sou um cara que coloca muita importância nessas baboseiras, mas devo dizer que a interpretação é forte o suficiente para merecer ganhar alguns.

E mais surpreendente ainda é ver este nível de atuação e de entrega em um personagem de gibi. Claro, você e eu sabemos quantos bons personagens saíram dos quadrinhos, mas não é uma opinião que a sociedade em geral corrobora. E definitivamente não é comum vermos alguém de uma HQ de super-heróis ganhar este tipo de tratamento na tela grande.

CORINGA ADULTO

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Venom, goste ou não do filme, ainda é uma história de super-heróis. Coringa não. Este é um drama pesado e muito mais adulto do que mesmo a versão do Batman dirigida pelo Christopher Nolan. Se fosse compará-lo a outro filme, eu o colocaria ao lado do clássico Taxi Driver, o que é definitivamente inesperado.

O que me surpreendeu é quão pouco o Coringa aparece devidamente paramentado. Todas as imagens de divulgação do filme parecem mostrar o palhaço do crime já montado, dando a entender que este seria um daqueles casos em que mal veríamos o ator de cara limpa. E definitivamente não é o que acontece. Todas as imagens nesta matéria são do terceiro ato do longa, mas fazer o quê se são essas que a Warner FNORD! divulgou?

Eu diria que Coringa é uma grande surpresa, mas convenhamos que não é o caso. Afinal, já faz algum tempo que as resenhas gringas poparam, e a essa altura todos já sabem que este não é um novo Venom.

Ainda assim, eu me surpreendi com o quanto gostei dele. Em geral eu prefiro uma boa aventura de super-heróis a um drama pesado, mas os criadores deste filme do Coringa fizeram um excelente trabalho em mostrar uma nova e marcante versão para um personagem tão importante. Imagino que você já pretende fazer isso, mas caso ainda esteja em cima do muro, Coringa definitivamente é uma obra para ser vista no cinema.