Top 5: Filmes Românticos

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Nerds são românticos de uma forma diferente. A maior parte das pessoas acha romântico sair para jantar em um lugar lotado, caro e barulhento. Nós, por outro lado, preferimos algo mais íntimo e sentimental. Para mim, pelo menos, é muito mais gostoso ficar embaixo das cobertas fazendo cafuné naquela pessoa tão especial, enquanto você come uma pizza e faz uma maratona de filmes de amor do que encarar o trânsito paulistano, amargar uma longa fila de espera e comer uma comida ruim em um lugar desagradável (porque aqui em São Paulo nenhum restaurante que eu conheça é agradável no dia dos namorados, já que todos ficam lotados e barulhentos). Como sei que muitos delfonautas compartilham dessa minha opinião, resolvi fazer uma listinha com meus filmes de amor preferidos. Assim, se você não passar o dia dos namorados no show do Alice Cooper, pode fazer exatamente o que acabei de sugerir e provavelmente terá uma noite que será lembrada para sempre.

Como todos os Top 5 delfianos, a seleção abaixo é uma escolha completamente pessoal. São os meus cinco filmes de amor preferidos no momento e, como já falei várias vezes, para um longa ser realmente romântico para mim precisa sair daquele lugar comum de “cara conhece mina/cara perde mina/cara recupera mina e eles vivem felizes para sempre”. Eu gosto de algo mais racional, de um mundo menos idealizado e de casais que passam por situações com as quais eu possa fazer um paralelo com a minha própria vida, ou seja, algo mais triste e menos cor de rosa do que 99% dos filmes que tratam sobre o assunto. Por causa disso, todos os filmes abaixo me emocionam e trazem lágrimas toda vez que eu os assisto e, em alguns casos, inclusive começo a gostar mais deles a cada vez que coloco o DVD para tocar (tanto que quando escrevi a resenha de um ou outro após vê-los pela primeira vez ela não foi tão positiva quanto seria hoje – nesses casos, a resenha está linkada como curiosidade). Embora todos tenham como tema primordial o amor, ao criar a lista constatei que o tempo também é uma constante em quase todos eles e isso provavelmente se deve ao meu lado mais nostálgico. Acredito que todos têm capacidade de agradar tanto a homens quanto a mulheres, sejam solteiros ou comprometidos. Só esteja avisado, as histórias de cada um deles serão comentadas, logo, haverá alguns spoilers. Tudo bem que filmes de romance não costumam ter final surpresa ou algo do tipo, mas se você não quiser saber de nada, é melhor parar por aqui. Leitores avisados, vamos à listinha.

5 – DRÁCULA DE BRAM STOKER (Bram Stoker’s Dracula – EUA – 1992)

Diretor: Francis Ford Coppola

Roteirista: James V. Hart, baseado em romance de Bram Stoker

Elenco: Gary Oldman, Winona Ryder, Anthony Hopkins, Keanu Reeves, Cary Elwes, Bill Campbell, Sadie Frost, Tom Waits e Monica Bellucci.

História: O conde Drácula compra uma casa em Londres para ir ao encontro da garota que acredita ser a encarnação da mulher que ele amou séculos antes.

Por que é romântico: Ao voltar da guerra, onde defendia o cristianismo, Drácula encontra sua amada morta. Se sente traído por Deus e, portanto, renuncia à sua religião e dá um jeito de vencer a morte para poder reencontrá-la um dia. Em outras palavras, o amor que sentia pela garota foi tão forte que simplesmente evitou que ele morresse. Cacilda, você consegue pensar em algo mais romântico que isso? Não é à toa que o cartaz original do filme exibia a belíssima frase “Love never dies” (O amor nunca morre). Aliás, essa é uma profundidade que não existe no livro que deu origem ao filme, onde o conde é muito mais monstruoso e menos carismático. Aliás, o que diabos o vampiro da versão literária foi fazer em Londres?

Cena mais marcante: A introdução, que conta justamente essa adição à história que não existe no livro e que torna, portanto, o filme melhor e muito mais romântico que sua contraparte literária.

4 – ANTES DO PÔR-DO-SOL (Before Sunset – EUA – 2004)

Diretor: Richard Linklater

Roteirista: Richard Linklater, Kim Krizan, Julie Delpy e Ethan Hawke.

Elenco: Ethan Hawke e Julie Delpy

História: O casal de Antes do Amanhecer (que você confere em breve aqui na listinha) se encontra pela primeira vez depois de nove anos do encontro original. Dessa vez, terão apenas uma hora e pouco juntos para passear por Paris e vão colocar o papo em dia em tempo real, ou seja, o tempo que eles passam conversando equivale à duração do filme.

Por que é romântico: É uma abordagem extremamente racional do amor, mas nem por isso menos romântico. Os dois vão falar sobre relacionamentos, sobre o tempo, sobre destino e sobre a vida no geral. Leva a pensar como aquelas pessoas que foram importantes no nosso passado estão hoje e o impacto que tivemos na vida delas. Sem falar que o diálogo é muito bem construído e você realmente torce o filme inteiro para que eles dêem um jeito de ficarem juntos. Os protagonistas Ethan Hawke e Julie Delpy ajudaram na criação do roteiro e possivelmente isso fez com que o diálogo e suas atuações ficassem ainda mais emocionais.

Cena mais marcante: Depois de muito conversar, a garota começa a ficar frustrada com os rumos que sua vida tomou, romanticamente falando e explode. Entre outras coisas ela reflete sobre como é cruel a idéia de que você só pode se sentir completo com aquela única pessoa e em como as decepções amorosas e a idade vão nos deixando cada vez menos românticos e mais cínicos, ao ponto de que, em determinado momento, você simplesmente deixa de tentar, levando inevitavelmente à saudade daquela época em que você realmente acreditava no amor. Em outro momento, o cara fala que sua vida de casado faz com que ele se sinta gerenciando uma pequena creche com alguém que ele costumava namorar. Uma ótima metáfora para todos aqueles casamentos sem amor e sem desejo sexual que vemos por aí e um dos principais medos da minha vida.

3 – PROCURA-SE AMY (Chasing Amy – EUA – 1997)

Diretor: Kevin Smith

Roteirista: Kevin Smith

Elenco: Ben Affleck, Joey Lauren Adams, Jason Lee, Matt Damon, Kevin Smith e Jason Mewes.

História: O único filme de amor nerd que eu conheço. O quadrinhista Holden McNeil (Ben Affleck) se apaixona pela companheira de profissão Alyssa Jones (Joey Lauren Adams). Só que logo descobre que ela é lésbica. Depois de muita confusão, eles acabam ficando juntos. Mas conforme o passado da guria vai ficando claro, Holden descobre que pode não ser capaz de lidar com isso. Além da história de amor, é bem legal por lidar com o preconceito e com a homossexualidade sem cair naquela coisa clichezenta de um Brokeback Mountain. Por exemplo, quando Alyssa fala para suas amigas lésbicas que está namorando um cara, elas agem como se estivessem decepcionadas, como se, de alguma forma, Alyssa tivesse traído o grupo, o que, por si só, é um absurdo.

Por que é romântico: Por ser uma história de amor com personagens nerds, com sentimentos nerds e, portanto, com os quais a gente pode se identificar muito facilmente. Eu mesmo nunca me apaixonei por uma lésbica, mas isso é o de menos. Várias das minhas inseguranças (e provavelmente das suas também) são refletidas no personagem de Ben Affleck. Acho que todo cara, ou até mesmo toda mina, já passou pela situação de dar mais importância a algo irrelevante do que ao que realmente importa, inclusive colocando o seu relacionamento em risco por causa de uma bobeira que, na maior parte das vezes, poderia ser resolvida com um diálogo. Sem falar na tremenda mudança de gênero que rola na metade do filme: começa como uma comédia e depois vira um drama pesado. Isso fez com que, na primeira vez que assisti, não gostasse tanto dele por acha-lo muito deprê. Contudo, a cada vez que o revejo, mais sobe na minha lista de longas preferidos. Procura-se Amy é um dos raros filmes de amor que têm um lado pessoal muito grande. É uma história autoral, ao mesmo tempo tradicional e diferente. Por causa disso, leva a nossa medalha de bronze.

Cena mais marcante: Ora, a cena que dá nome ao filme, quando Silent Bob (Kevin Smith) conta de suas peripécias com sua ex-namorada, Amy, e de como o relacionamento acabou de forma estúpida porque o cara deu mais importância ao passado da guria do que ao presente e, assim, perdeu sua chance de ser feliz com a mulher da sua vida. Um erro que todo homem está propenso a cometer e que cabe a cada um de nós evitar que as coisas saiam de suas devidas proporções.

2 – BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS (Eternal Sunshine of the Spotless Mind – EUA – 2004)

Diretor: Michel Gondry

Roteirista: Charlie Kaufman, Michel Gondry e Pierre Bismuth.

Elenco: Jim Carrey, Kate Winslet, Elijah Wood, Kirsten Dunst, Mark Ruffalo e Tom Wilkinson.

História: O casal formado por Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet) acaba de se separar. Há uma empresa, chamada Lacuna, que permite que você apague pessoas da sua memória. Clementine faz isso e, ao descobrir o que ela fez, Joel decide fazer também, quase que por vingança. Durante o filme, acompanhamos o processo de destruição das memórias, começando pelo final do romance, quando o relacionamento já estava bem desgastado. Só que logo chegam as memórias boas e Joel muda de idéia. A partir daí, ele e a Clementine da sua memória ficam arquitetando planos para burlar o sistema e permitir que seu relacionamento continue vivo, nem que seja na memória de Joel. Um filme ao mesmo tempo louco e romântico. É impossível não estranhar algumas cenas e isso é parte do charme dele. É um dos poucos longas que se arriscam no perigoso terreno do nonsense sem ser comédia. E se dá bem.

Por que é romântico: Porque embora ambos tenham deletado seu relacionamento de suas respectivas memórias, eles novamente se encontram e voltam a se apaixonar. É destino, se for para você ficar com alguém, não interessa as dificuldades ou os problemas que encare, você vai ficar. E nem apagar a sua memória vai resolver isso, pois o próprio universo vai conspirar para que as coisas aconteçam e vocês voltem a se apaixonar. Eu não sei você, amigo delfonauta, mas por mais que cada sofrimento e cada relacionamento falido façam parte da sua história e contribuam para ser quem você é hoje, se eu tivesse essa possibilidade, provavelmente apagaria algumas pessoas do meu passado. Decepções amorosas doem muito e só sabe disso quem realmente já amou e perdeu.

Cena mais marcante: Depois de tudo deletado, chegamos à memória final: o dia em que Joel e Clementine se conheceram. Após várias tentativas frustradas de burlar o sistema, nada mais há a ser feito. Clementine diz: “Essa é a última memória, Joel. Depois disso, acabou. O que fazemos?”, e Joel responde: “Aproveitamos”. Ao invés de tentar fugir ou de ficar preocupado com o tempo escasso que têm juntos, a melhor coisa a se fazer é mesmo aproveitar. Quem nunca teve essa sensação de que a felicidade vai acabar em breve? Diante disso, o melhor a fazer é mesmo aproveitar enquanto ela ainda está lá ao invés de ficar se torturando pelo futuro incerto. Nessas situações, nos resta acreditar que tudo que é bom dura o tempo suficiente para ser inesquecível e fazer a nossa parte para que realmente o seja. Mesmo que essa memória seja apagada logo em seguida, por uma máquina ou pelo desgaste e sofrimento do dia a dia.

1 – ANTES DO AMANHECER (Before Sunrise – EUA – 1995)

Diretor: Richard Linklater

Roteirista: Richard Linklater & Kim Krizan

Elenco: Ethan Hawke e Julie Delpy.

História: Um estadunidense e uma francesa se conhecem em um daqueles trens que cruzam a Europa. Eles descem em Viena e só terão uma noite juntos, pois na manhã seguinte, ele vai pegar um avião de volta para os EUA. Absolutamente nada acontece no filme. São quase duas horas dos dois conversando. E é exatamente por isso que é especial.

Por que é romântico: É aquele tipo de amor impossível, mas não por nenhuma situação forçada, mas simplesmente porque os dois moram em países distantes e o destino, como se para rir da cara dos dois, fez com que eles se conhecessem e se apaixonassem. Durante essa única noite que têm juntos, vão conversar sobre relacionamentos, sexo, destino, a morte, a vida, o universo e tudo mais. E vão se apaixonar. E vão, eventualmente, ter que se separar. O filme termina de forma um tanto aberta. Os dois combinam de se encontrar novamente dali a seis meses e, a julgar pela noite que eles passaram, eu tinha certeza que iam se reencontrar e viver felizes para sempre. Contudo, só vamos saber o que realmente aconteceu na segunda parte, Antes do Pôr-do-Sol, sobre a qual você já leu aqui na listinha.

Cena mais marcante: Em um filme focado única e exclusivamente nos diálogos, é curioso que a cena mais marcante seja justamente a única sem palavras. Ou, pelo menos, sem palavras saídas das bocas dos atores. Trata-se do momento em que os dois estão em uma loja de discos e entram em uma daquelas cabines para ouvir uma música da Kath Bloom, chamada Come Here. O pouco espaço os obriga a ficar pertinho um do outro e os dois ficam visivelmente sem graça, se olhando de forma disfarçada, porém carinhosa, evitando cruzar olhares e, ao mesmo tempo, se apaixonando, enquanto a letra da música passa perfeitamente o sentimento da cena. É um dos momentos mais belos do cinema na minha opinião e uma daquelas cenas que, à primeira vista, podem parecer longas demais e chatas. Contudo, quando você percebe a profundidade sentimental daquele momento e lembra de momentos semelhantes da sua vida, é simplesmente impossível não se emocionar. É, provavelmente, o melhor momento da carreira de Richard Linklater, Ethan Hawke e Julie Delpy e um dos mais tocantes do cinema. Até porque eu costumo adorar quando uma história é contada sem diálogos, apenas através de música e de olhares. Nesse caso, é a cena mais crucial do longa, o que a deixa ainda mais fofa. Também gostaria de destacar o primeiro beijo dos dois. Normalmente, em filmes de amor, o desejo sexual é quase inexistente ou absurdamente idealizado. Não aqui. Na primeira vez que o casal se beija, é possível sentir aquele forte desejo inerente a todos os primeiros beijos. É um beijo molhado, forte, real, mas nem por isso menos romântico. Aliás, muito pelo contrário.

E você? Lembra de algum filme romântico que não está nessa lista? Então deixe um comentário e divida esse conhecimento com a gente. 😉

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