Tokyo!

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Pelo amor do Malebólgia! Será possível que não exista uma única e caridosa alma que consiga criar algo no cinema? É repetição de fórmula atrás de repetição de fórmula. A fórmula na qual Tokyo! se baseia é: vamos chamar diretores famosos para dirigir pequenos contos baseados em uma cidade.

Os três contos presentes aqui têm um quê de Lars Von Trier misturado a um nonsense light. Algo tipo um David Lynch mais leve.

Eu sei, delfonauta: nunca é uma boa se citarmos Lars Von Trier ou David Lynch e, pior ainda, se falarmos dos dois. E assim que percebi que iria por esse caminho, quando a mulher começou a virar uma cadeira, ainda na primeira história, comecei a bater a cabeça com toda a força na poltrona da frente na esperança de desmaiar e acordar apenas durante os créditos. Esse não é o Michel Gondry que eu conheço.

Infelizmente, isso não aconteceu. A segunda história, sobre um caboclo que sai do esgoto e arranja altas confusões em Tóquio não melhora muito a situação. Admito que, quando o senhor Merde e seu advogado ficaram conversando por uns dez minutos em uma linguagem fictícia, cheguei bem perto de cometer um suicídio ritualístico. Até comecei a desenhar um pentagrama no chão do cinema com meu próprio sangue.

Porém, logo que terminei de desenhar e constatei que, ao invés de um pentagrama sangrento, tinha feito uma linda estrelinha rosa, decidi olhar novamente para a tela e a terceira parte estava começando.

Essa falava sobre um sujeito que escolheu se isolar das outras pessoas. Aparentemente no Japão existe uma palavra para isso, Sayonara-San-Miyagi-alguma coisa. O carinha ficou mais de 10 anos sem sair de casa e sem olhar nos olhos de ninguém. Essa, finalmente, foi uma história com a qual eu pude me identificar e que acabou valendo o ingresso que eu não paguei. Ou pelo menos foi a impressão que tive, afinal, tinha acabado de perder muito sangue fazendo a estrelinha.

Vale a pena? Se você for fã do David Lynch, muito. Se você for uma pessoa normal, não. Se você tiver fobia social, apenas pela última história. Escolha seu perfil, compre o ingresso (ou não) e divirta-se. E não se esqueça de treinar como desenhar um pentagrama antes de sair de casa ou você também vai ficar decepcionado com seu desenho de mariquinha.