Como Cães e Gatos 2 – A Vingança de Kitty Galore

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Quando eu olho para o Corrales de alguns anos atrás, é incrível perceber como eu mudei. Quando Como Gães e Gatos passou no cinema, lembro de ter ido até uma sala longe pra burro na sessão da meia-noite, pois era o único lugar e horário que estava passando o filme legendado. Na época eu já não gostei do filme, mas pensando hoje, eu não acredito que fiz isso. E também não acredito que ele ganhou uma continuação.

PAPA-LÉGUAS

O filme abre com um novo curta do Papa-Léguas. E não é que foi legal? Nada muito criativo, são as mesmas piadas de sempre, com o Coiote se machucando adoidado, mas o visual em CGI ficou bem legal e o 3D é melhor e mais eficiente do que o do prato principal (que é praticamente 2D, embora exija óculos). O único ponto a reclamar do curta é que ele é realmente curto, muito provavelmente tem menos de dois minutos.

SERÁ QUE NÃO PERCEBEM QUE NUNCA ALGUÉM CHAMOU UM CACHORRO DE CÃO FORA DA TV/CINEMA?

Agora falemos do prato principal, onde acompanhamos uma organização de cachorros que tem como objetivo proteger os humanos dos gatos. Quando a gata Kitty Galore revela seu plano terrorista, eles sabem que terão à frente sua maior aventura – e altas confusões para acompanhar.

Tem algumas piadas boas, como o momento que eles encontram a gata que faz parte da organização de gatos que protege humanos de cachorros ou o fato de Kitty Galore estar constantemente acariciando um ratinho. Além dessas piadas, boa parte do charme do longa se deve ao fato de que cachorros são naturalmente bichinhos fofos e engraçados. E quem não gosta de bichinhos fofos?

O problema é quando as piadas vão na linha de trocadalhos como “cãotel general” e “cãofusão”. Isso para não ignorar o fato de que não há registro de algum ser humano brasileiro, em algum dia da sua vida, ter chamado um cachorro de cão. Aliás, acho que eu nunca pronunciei a palavra “cão” na vida. Será que a turminha da tradução não percebe isso?

Além de traduzirem “dogs” com a inutilizada palavra “cão”, a dublagem é tosquíssima, bem típica de coisas de criança, com aqueles frases típicas de adultos que querem soar legais e joviais e com isso acabam só soando ainda mais velhos e caretas. Ou você já viu um menino ou mesmo algum adulto usar no dia a dia a frase “que parada é essa?”. Acho que a única pessoa que fala isso é o Sérgio Mallandro e, convenhamos, ele é a melhor prova para tudo que eu acabei de falar.

Além disso, o roteiro traz obviedades atrás de obviedades, inclusive parodiando coisas que toda sátira de espião já parodiou, como o vilão contando todo o plano e depois deixando os heróis para morrer uma morte lenta e de fácil escapatória sem ninguém vigiando. Porém, ao tentar apontar e fazer rir com os clichês, ele faz um trabalho tão fraco que acaba se tornando só mais um imenso clichê.

Dessa forma, ele se torna extremamente chato para qualquer um que tenha mais de três anos, ainda que faça rir em alguns momentos. Talvez fosse uma boa opção para levar os pequenos nos longínquos anos 80 ou 90, mas hoje em dia tem gente como a Pixar mostrando que um bom filme para crianças não precisa excluir ou alienar os pais. E essa é uma lição que o povo que criou Como Gães e Gatos 2 precisa aprender urgentemente para não repetir o erro.

Mas pelo menos temos aqui um bom novo episódio do Papa-Léguas. Mas quando o aperitivo diverte mais que o prato principal, você sabe que tem alguma coisa errada.