Assassin’s Creed II

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Muita gente torceu o nariz, mas para mim, Assassin’s Creed foi a grande surpresa de 2008, na frente de muito medalhão por aí. Tá, o jogo se tornava repetitivo depois de um tempo e algumas missões eram frustrantes pra caramba. Eu também achei tudo isso, mas a história misturando conspirações e sociedades secretas com misticismo me pegou de jeito! Estava com saudades de entrar de cabeça em um enredo, manja? Atualmente, são muitos personagens canastrões e pouca história de fato, nos jogos eletrônicos. Claro, quando o segundo exemplar foi anunciado, a expectativa foi lá para cima e, que bom, cara! Nada disso foi em vão.

HISTÓRIA

Para consertar o que muitos julgavam o principal erro do jogo anterior, o final, a Ubisoft foi esperta e começou a história exatamente onde havia parado: nos dias atuais, com Desmond e os novos assassinos fugindo dos templários que controlavam a Animus, a máquina que projeta memórias de vidas passadas. Para deixar claro, eu gostei bastante do final em aberto da primeira versão. Pô, se você pensar, ele criava inúmeras possibilidades, não explicava nada e era o gancho perfeito para qualquer idéia besta que os caras pudessem ter. Mas, como o povo gosta de tudo mastigadinho e isso não é um privilégio apenas dos brasileiros, a Ubisoft se rendeu e já começa o jogo explicando até mais do que deveria.

Levado a um esconderijo em um galpão e conhecendo novos assassinos (além de Lucy, que volta do primeiro jogo com uma “plástica” no rosto e continua com a voz da Kristen Bell), Desmond vai passar por mais uma experiência de vidas passadas. Dessa vez, ele vai retornar à rica época do renascimento italiano na pele de Ezio, um jovem aristocrata florentino, filho do poderoso banqueiro Giovanni Auditore. A família Auditore tem laços estreitos com Lorenzo di Médici, personagem histórico real e governante de Florença.

Ezio é um jovem brigão e boêmio, mas responsável com os negócios e carinhoso com a família. Sua vida, no entanto, está prestes a mudar quando seu pai e irmãos são injustamente presos e condenados à morte. Toda uma conspiração começa a se desenhar, Ezio descobre que seu pai fora um assassino participante de uma antiga sociedade (é, aquela lá do título) e herda o manto de seus antepassados.

Esse começo é bem legal, pois nos aprofundamos no personagem Ezio, na relação com a família e como ele vai, progressivamente, evoluindo de um adolescente fanfarrão para um assassino frio. Este foi um ponto bastante evoluído se compararmos ao Altair do primeiro jogo, que era intrigante (mais pelo ambiente que o cercava), mas sem qualquer histórico para que pudéssemos nos identificar. Além de Ezio, outra figura histórica também tem participação importante no desenvolvimento da narrativa: um jovem inventor chamado Leonardo da Vinci. Leonardo funciona como “Professor Pardal”, decifrando enigmas, criando engenhocas e aperfeiçoando o armamento que Ezio usará contra seus inimigos.

CIDADES HISTÓRICAS

Quem esperava mudanças radicais na mecânica, vai se decepcionar. O jogo lembra bastante o primeiro Assassin’s Creed: você vai de cidade em cidade, coletando missões, ajudando pessoas aleatórias e seguindo atrás de suas vítimas. A idéia de “contrato de assassinato” em cada cidade continua a mesma, mas digamos que as coisas estão mais complexas e você tem muito a fazer em cada lugar. O legal é que 90% dessas coisas são opcionais, mas todas trazem seus benefícios, seja no desenvolvimento da história, seja em alguma arma bacana que você pode ganhar. Daqui a pouco, falo mais sobre isso.

Além das cidades principais do jogo (Florença, Romagna, Toscana e Veneza), você ainda tem uma espécie de “base” em Monteriggioni. Esta pequena vila (logo batizada com o sobrenome de Ezio) é o refúgio dos antepassados “assassinos” do personagem e lá, como herdeiro da família governante, você terá direito a receber impostos da população. Quanto mais bonita a cidade (você pode incentivar o desenvolvimento dos estabelecimentos do lugar comprando upgrades), mais impostos você irá coletar e dinheiro significa armas e armaduras melhores. Coisa fundamental contra os soldados inimigos que cruzarão seu caminho.

Por falar na história, ela começa quente em Florença, quando toda a conspiração já mencionada se arma e segue bem bacana até a última cidade, Veneza. Daí em diante, infelizmente e justamente em um dos pontos mais “clássicos” do renascimento, dá a impressão que os programadores e roteiristas estavam de saco cheio e resolveram terminar logo a produção do jogo. O resultado é uma lástima: as missões são chatas, o roteiro, brilhante até então, se torna cheio de furos, os personagens que você encontra na cidade são muito rasos, enfim, todo o brilho que o jogo trouxe até então quase foi para o lixo. O pior é que Veneza é a cidade onde se concentra a maior parte do jogo, então haja paciência, mas não se preocupe tanto, pois o que vem “após” a cidade compensa.

E QUE FINAL!

Assassin’s Creed II é salvo pela excelente primeira metade e sua sequência final. Cara, que final insano (no bom sentido)! Como eu já disse, uma das principais reclamações dos jogadores do primeiro jogo era sobre a conclusão totalmente em aberto. Aqui as coisas mudam radicalmente de figura e me deixaram com uma pulga atrás da orelha sobre o direcionamento que a Ubisoft vai dar às próximas versões (claro que temos um gancho para continuações, isso não é nenhum spoiler, certo?).

Sem revelar muita coisa, mas acho que os caras realmente chutaram o balde e transcenderam todo o lance místico. Se isso vai ou não gerar bons frutos no futuro, só o tempo dirá, mas acharia legal um Assassin’s Creed III se passando na Revolução Francesa, por exemplo. Apenas para me contrariar, a Ubisoft já revelou que o próximo capítulo da série irá se passar com Ezio mesmo e em Roma.

JOGABILIDADE

Quanto à jogabilidade, nada de novo. O segredo das lutas de Assassin’s Creed sempre foi o timing na hora de apertar o botão. O truque é pegar o inimigo desprevenido ou esperá-lo atacar e acertar o counter para matar os caras de primeira, como um bom assassino da fraternidade.

Agora, no entanto, a variedade destes inimigos é maior e você cruzará com gigantes brutamontes armados com um martelo, bem malinhas de matar. Contra estes, facas e punhais não são uma boa opção.

O arsenal de armas à sua disposição, para compensar, também está maior: você terá facas, espadas, martelos, além da famosa hidden blade, que comparece em dose dupla, possibilitando o assassinato simultâneo de dois desafetos. Mais para frente no jogo, você também terá contato com uma versão rústica de um revólver.

MISSÕES

Na comparação com o primeiro Assassin’s Creed em relação às missões, saem eavesdropping, interrogation, pickpocketing e informers. Na verdade, alguns destes itens podem até aparecer esporadicamente, mas não fazem mais parte da rotina obrigatória para se completar uma missão.

Isso não quer dizer, no entanto, que o Assassin’s Creed II deixou totalmente de ser repetitivo. Sempre que você chega em uma nova cidade ou libera um “bairro” deve seguir ainda alguns passos importantes, como subir nos waypoints para abrir o mapa, coletar páginas do codex, comprar mapas que mostram onde estão os tesouros, ir atrás dos tais tesouros, cumprir contratos de assassinato, beat up events e coisas do gênero.

Tirando os codex, nada disso é obrigatório, mas colabora no entendimento da história e você vai acabar indo atrás de todos os objetivos mais cedo ou mais tarde. Já que mencionei alguns eventos, vale a pena explicar um pouco sobre cada um:

Beat Up Event: São missões engraçadas onde – normalmente – uma mulher te procura para que vá atrás de seu marido infiel e o traga de volta para casa. Como fazer isso? Na base da porrada, amigão! Dê uma lição no sujeito (na mão, nada de armas) e ele aprende a nunca mais trair sua devota companheira;

Race: Como o próprio nome entrega, são corridas para ir de um ponto X ao Y de uma cidade contra o relógio. Podem ser a pé ou a cavalo, dependendo de onde você esteja (cavalos não são liberados no interior das cidades). Geralmente eu diria que são os eventos mais chatos, mas a trilha sonora é tão legal que dá até para esquecer e curtir um pouco. Mas sim, se você quiser cumprir todas as corridas, encontrará algumas frustrações pela frente;

Courier Missions: Missões onde você deve entregar uma carta a alguém do outro lado da cidade em um determinado espaço de tempo;

Assassination Contract: Em todas as cidades, Lorenzo di Médici tem seus inimigos e opositores. Cabe a você assassiná-los sem chamar a atenção. Essas não são missões obrigatórias, mas ajudam no entendimento da história e vale a pena cumpri-las. No geral, são fáceis e rendem uma boa grana, mas algumas mais para o final do jogo precisam de um bom planejamento;

Tomb Exploration: Para mim, é uma das novidades mais legais do jogo. Você deve invadir e explorar “dungeons” onde estão escondidos os restos mortais dos assassinos de épocas passadas, normalmente dentro de catedrais italianas famosas. Descobrindo o sarcófago do tal assassino, você encontra uma chave, descobrindo todas as chaves (seis, no total) você desbloqueia a armadura do Altair, embora não seja a mesma usada por ele no jogo. Essa é a mais forte de todas. Os dungeons são bastante desafiadores (lembram muito Prince Of Persia) e requerem muita paciência, mas é uma novidade que vale a pena;

Codex Page: Páginas de um antigo código estão espalhadas e guardadas a sete chaves (normalmente por dois ou quatro guardas bem armados) pelas cidades. Localize-as, leve para Leonardo fazer a decodificação e um importante segredo será revelado ao final de sua aventura. Este item é obrigatório, pois só depois de pegar todos os codex, você pode acessar as últimas missões;

Glyphs – Uma série de símbolos secretos escondidos nas construções históricas das cidades. Encontrando e “acionando” os símbolos com o eagle vision, você entra em um quebra-cabeça onde deve encontrar um objeto perdido em um quadro famoso (tipo Onde está Wally?), montar uma figura ou encontrar alguma lógica em uma série de retratos. Alguns destes puzzles são fáceis, outros são bem chatinhos. Desvendando cada enigma, você libera um segundo de um vídeo chamado “The Truth” (A Verdade). Resolvendo todos os Glyphs, você libera o tal vídeo completo que, digamos, é bastante interessante dentro da mitologia da série.

O jogo ainda traz uma série de coisas a fazer, que não vou mencionar aqui para que a resenha não tenha dez páginas, mas acredite: você tem coisa pra caramba para se divertir, desde coletar “penas” para abrir suas conquistas até simplesmente observar as belíssimas paisagens e o cotidiano dos NPCs.

A trilha sonora é muito legal e engloba desde músicas com inspiração renascentista, mais calmas, até temas mais agitados para as batalhas. Mas tudo dentro de uma proposta bem elaborada. Para os nostálgicos de plantão, em momentos chave da jogatina, você consegue ouvir alguns acordes das músicas do primeiro Assassin’s Creed, o que cria um maior vínculo com o primeiro jogo.

A dublagem dos personagens é boa, mas abusa do sotaque italiano canastrão. Às vezes me deu saudade de assistir Terra Nostra, sem aquele lance tão dramático mexicano! Mas no geral, foi feito um bom trabalho!

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Assassin’s Creed II só não leva o selo por conta da parte chatinha de Veneza e o lado meio cansativo de repetir missões parecidas, mas é um jogão e vale a pena ser comprado!

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
assassins-creed-iiAno: 2009<br> Gênero: Ação / Plataforma<br> Plataforma: PS3, Xbox 360 e PC<br> Fabricante: Ubisoft Montreal<br> Versao: Xbox 360<br> Distribuidor: Ubisoft<br>