Coletiva: Stratovarius (Jörg Michael e Lauri Porra)

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São Paulo, sexta-feira. Em outras palavras, o pior dia para se sair de casa por conta do trânsito infernal. Para piorar, a coletiva com os caras do Stratovarius está marcada para as 19:30, bem no meio da hora do rush. Depois de muito stress atrás do volante, chegamos com alguma antecedência ao local da entrevista, um bar na Vila Madalena.

Olho meu relógio, são 19:45 e não há sinal deles. Parece que um dos pré-requisitos para ser um Rock Star é esquecer a pontualidade. Algum tempo depois, às 19:54 para ser mais exato, o novo single, Maniac Dance, começa a tocar. Antes de mais nada, devo dizer que não ouço Heavy Metal. Não tenho nada contra o estilo, ele simplesmente não me atrai. Portanto, não se ofenda com minhas impressões sobre o disco, mas o chefe insistiu para eu colocá-las aqui, afinal, temos que fazer jus ao fato de sermos um site de “jornalismo parcial”. Esclarecida a questão, devo dizer que achei a nova música de trabalho parecida com Bon Jovi, o que não quer dizer muita coisa, pois ultimamente tenho achado qualquer coisa parecida com eles. O que estará acontecendo comigo?

Seguem-se as outras faixas do disco novo, intitulado simplesmente Stratovarius. Por algum motivo, talvez pelo nome da banda, achei que as músicas seriam mais melódicas. Enquanto penso sobre isso, a banda finalmente chega. Ou melhor, a cozinha da banda chega. Somente o baterista Jörg Michael e o novo baixista, Lauri Porra (por favor, sem piadinhas com o sobrenome do rapaz, até porque os jornalistas presentes se encarregaram de fazer todos os gracejos possíveis e imagináveis), dão o ar da graça.

Claro, a primeira coisa que eles fazem antes de começarem as perguntas, é explicar porque o resto da banda não veio. Jörg diz que o guitarrista Timo Tolkki preferiu ficar no hotel descansando para o show que fariam no dia seguinte, que seria registrado como o primeiro DVD ao vivo deles. Timo Kotipelto, o vocalista, estava sofrendo com dores nas costas e preferiu ficar se recuperando. Quanto à ausência do tecladista Jens Johansson… bem, este será o nosso mistério, já que não disseram porque ele não apareceu. As más línguas, contudo, diziam que ele estava extremamente bêbado, o que não chega a ser uma novidade quando falamos de finlandeses.

Dadas as devidas explicações, é chegada a hora de trabalhar. A primeira pergunta é a óbvia: por que a banda escolheu São Paulo para gravar seu primeiro DVD ao vivo? Segundo Jörg, por três razões. “São Paulo tem um dos melhores públicos do mundo. É também o início da turnê, então, se estragarmos alguma coisa dá para refazer depois. E o que acabou nos convencendo foi a oportunidade de trabalhar com a mesma equipe que gravou o (DVD do Rush) Rush in Rio”.

Questionado se a sonoridade atual é apenas um período de transição ou se é o novo som da banda, o batera declarou: “gravamos tantos sons diferentes, com orquestras…” dentre outras coisas. “Não queríamos ficar iguais àquelas bandas que parecem gravar o mesmo álbum várias vezes. Não tínhamos mais para onde ir, então decidimos voltar às raízes. Esse é o nosso som em 2005. Rock curto e direto”.

A seguir, o baixista Lauri revela que ligou para Jari Kainulainen, para esclarecer sua saída da banda. “Não teve briga, ele saiu porque queria passar mais tempo com a esposa e com a família”. Sobre o novo baixista, Jörg manda brasa nos elogios: “Nos surpreendeu que ele não disse sim imediatamente. Ele foi nossa primeira escolha e é o melhor baixista que podemos conseguir”. A seguir, ele se vira para Lauri e faz com os dedos o sinal universal de quem quer uma propina.

Eis que, neste momento, algo no mínimo inusitado (ao menos para mim) acontece. A maioria dos jornalistas presentes simplesmente desencana da entrevista e começam a conversar entre eles. O que era para ser trabalho vira uma balada com cerveja correndo solta e um animado bate-papo entre amigos, o que atrapalha muito os poucos que ainda estavam interessados na banda. O descaso dos colegas de profissão tornou impossível ouvir as perguntas e ficou difícil de entender as respostas em inglês dos integrantes, principalmente as de Lauri, que tinha um inglês muito ruim comparado ao de Jörg. Ainda bem que havia um tradutor presente. Com isso, a moral da história é: não marque entrevistas em bares, pois os fracos de espírito sucumbirão à tentação do álcool. Aliás, de acordo com o Corrales, o jornalismo metálico chega a ser patético de tanta falta de profissionalismo (é só ver o caso de quando fizemos uma entrevista exclusiva com o W.A.S.P. mas não conseguimos credencial para cobrir o show), mas não vou me estender muito nesse assunto, pois ele já está preparando uma Pensamentos Delfianos onde vai descer a lenha. Enquanto isso, fique com a primeira edição da coluna, que também trata do mundo jornalístico.

Aos poucos que continuaram bravamente a trabalhar, Jörg falou sobre sua experiência no Saxon: “no Stratovarius, eu toco o que eu quiser. No Saxon, eu tinha que tocar exatamente como eles queriam. Não dava para trazer nada novo. A música era completamente diferente”.

Hora de uma pergunta padrão. O que acham da música brasileira e já tocaram com músicos daqui? Porra responde que adora a música brasileira, já tocou com muitos músicos de nosso país, estudou a música latina e toca em uma banda finlandesa de bossa-nova (!).

Sobre o show de gravação do DVD, Jörg responde: “vai ser um show normal, com algumas projeções e um set list grande. Espero sobreviver. Mas não quero tornar esse show especial em detrimento dos outros, pois esses também são importantes. Vão ser quase a mesma coisa”. Lauri complementa: “damos tudo o que temos, 110%, não dá para ser melhor”. Sobre a expectativa, declarou: “estou muito ansioso, amanhã é o meu quinto show com o Stratovarius. É uma grande experiência tocar com esses caras”.

Hora de falar sobre projetos paralelos. Jörg Michael diz não ter “nada no momento. A turnê começa agora e depois vamos gravar outro disco do Stratovarius. Os próximos dois anos estarão cheios”. Já Lauri arranjou um tempinho para tocar bossa-nova. Além disso, seu primeiro disco solo sai em setembro e está compondo em seu tempo livre.

Assim se encerrou a entrevista coletiva, depois de cerca de 20 minutos de sua chegada. Sim, o tempo de espera por eles foi maior do que o tempo de entrevista. Também, o que havia para se perguntar à cozinha de uma banda, sendo que um deles acabara de entrar e nenhum deles nunca compôs nada para a banda? Todos que haviam preparado perguntas haviam pensado em entrevistar os “Timóteos”, já que no convite para a coletiva, não foi especificado quem estaria presente. Grande erro da banda e da produção do show.

Bom, o clima de balada deu uma pausa para fotos e autógrafos de Jörg Michael (Porra sumiu tão logo a entrevista acabou) que atendeu a todos que o procuraram, sem abrir sequer um sorriso no rosto, nem na hora que posaria para uma foto exclusiva para o DELFOS. Novamente, a festança voltou a imperar e sabe-se lá até que horas durou, afinal fomos embora após concluir nosso trabalho. Foi minha primeira entrevista coletiva com músicos – e olha que antes disso, fiz até uma exclusiva com o Gotthard por telefone, que você confere em breve – e, se esse tipo de comportamento por parte dos colegas jornalistas for uma constante, digo que nossa reputação está condenada. Por isso, rogo para que tenha se tratado de um caso isolado. Mais sorte, respeito e profissionalismo da próxima vez.

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