Como você já deve ter visto ontem na resenha de Planeta dos Macacos: A Guerra, o ator Andy Serkis veio ao país promover o filme, e participou de uma coletiva de imprensa logo após a exibição da película para os jornalistas, dentro da própria sala de cinema.

Ele é famoso por emprestar seus movimentos, voz e expressões faciais a personagens digitais através de uma técnica chamada de captura de performance. Assim, ele dá vida a tipos como Gollum, King Kong, Líder Supremo Snoke e, claro, o macaco Caesar, protagonista da nova série de filmes de Planeta dos Macacos.

Delfos, Planeta dos Macacos: A Guerra, Logo
Foto: Carlos Eduardo Corrales

E é claro que ele falou muito sobre como é quase nunca aparecer com sua verdadeira fisionomia em cena, sendo substituído por personagens criados em computador. Bem como falou muito também sobre o novo filme da macacada, que estreia hoje em nossos cinemas, como você verá a seguir:

APENAS MAIS UMA TECNOLOGIA

Delfos, Coletiva Planeta dos Macacos: A Guerra
Foto: Carlos Eduardo Corrales

Sendo já um veterano na técnica da captura de performance, a primeira pergunta foi como ele orienta os novos atores da série Planeta dos Macacos que passam a usá-la. “A primeira coisa que eles percebem é que é só uma tecnologia, mas é apenas atuação. Nada muito diferente disso. (na série Planeta dos Macacos) São macacos evoluídos, antropomorfizados. Steve Zahn (que interpreta o Macaco Mau) fez pesquisa, observou macacos em zoológicos, mas se perguntou quem é o Macaco Mau. As escolhas de atuação sempre vêm da emoção humana.”

“PRECISAMOS DE ALEGORIAS QUE EXPLIQUEM A CONDIÇÃO HUMANA”

Por falar em emoção humana, muito do novo filme está na grande gama de emoções e humanidade transmitidas pelos macacos. Sobre isso, o ator disse: “O tema principal da série é empatia, o que acontece se perdermos a habilidade de nos relacionarmos com o outro. É um grande entretenimento e diz algo muito importante para um grande público. Precisamos de alegorias que expliquem a condição humana.”

“Cada personagem tem mudanças na sua bússola moral. Caesar é nobre, mas falho. Ele matou Koba (em Planeta dos Macacos: O Confronto) e pela primeira vez perde empatia e está cheio de raiva e ódio pelos humanos”, analisa Serkis.

Delfos, Coletiva Planeta dos Macacos: A Guerra, Andy Serkis
Foto: Carlos Eduardo Corrales

GRANDES EVOLUÇÕES

A seguir foi perguntado qual o aspecto mais difícil da captura de performance e o que mudou nessa tecnologia com o passar dos anos, ao que respondeu: “o importante é entender que é uma tecnologia e não um gênero. Em O Senhor dos Anéis eu tinha de fazer a performance no set e repeti-la depois em estúdio, enquanto via o avatar do Gollum em tempo real. Daí você esquece isso (os detalhes tecnológicos) e começa a atuar. Mas ainda não tínhamos a habilidade de copiar expressões faciais. King Kong foi a primeira vez com face capture. Já em Tintim tinha a câmera na cabeça e podia me mover em qualquer direção. Em Planeta dos Macacos dava para filmar o motion capture em tempo real com outros atores juntos. Assim, a conexão com os outros atores era ao vivo no set, sem precisar repetir depois em estúdio.”

Aproveitou a deixa para elogiar a WETA pelo fotorrealismo dos macacos e dizer que a empresa consegue utilizar cada emoção e movimento empregado por ele no personagem.

Delfos, Coletiva Planeta dos Macacos: A Guerra
Foto: Carlos Eduardo Corrales

Já sobre o trabalho com o diretor Matt Reeves, que entrou na franquia no longa anterior, e retornou para este, foi só elogios: “é um dos melhores diretores com quem trabalhei. O que o interessa é a performance. Um dos maiores medos dele no primeiro era a tecnologia atrapalhar. Ele nunca posiciona a câmera até ter resolvido a cena com os atores e qual o ponto de vista do filme. Usou a tecnologia de modo brilhante.”

A respeito de qual seria o diferencial do filme: “o apelo é ver uma grande história se desenrolar diante de seus olhos, é uma experiência bem rara, este filme é diferente (da maioria dos blockbusters), é um filme para os nossos tempos em termos de mensagem. É uma peça poderosa de cinema.

“É um filme para os nossos tempos em termos de mensagem”

O ator também elaborou sobre como dar voz a uma criatura que não deveria falar, no caso, o macaco Caesar: “foi um grande desafio criar macacos falantes críveis. Eles não constroem sentenças como os seres humanos. No primeiro filme ele diz um ‘não’ quase primitivo, que vem lá do fundo, junto dos sentimentos. No segundo eu usava um protetor bucal para tornar o processo de fala mais difícil, como se fosse um esforço. Há uma diferença para o novo em termos de articulação”, concluiu, e é claro que ele acabou exemplificando isso ao fazer a voz de Caesar na hora para os presentes, como você pode conferir no vídeo abaixo:

O DEVIDO RECONHECIMENTO

Andy também falou sobre as experiências positivas e negativas no set. “Foi uma experiência intensa. Cinco meses numa floresta canadense não é divertido com uma roupa de captura de movimentos. Mas era sempre divertido filmar com Steve Zahn como o Macaco Mau, ele sempre me fazia rir. O resto era difícil, meu personagem estava sempre acorrentado, amarrado ou sendo chutado, era bem exaustivo.”

A seguir um jornalista perguntou se já não estava na hora de atores que fazem captura de performance como ele terem o devido reconhecimento, ao que Serkis respondeu efusivamente com um “damn right“! E continuou: “acho sim. Acho que é ignorância (da parte de quem não os reconhece como um trabalho de atuação legítimo). É apenas mais um modo de se interpretar um personagem. Os membros mais velhos (da academia do Oscar) se recusam a entender o que é (a captura de performance). A atuação acontece como qualquer outra criação. Se eu fizesse Caesar com maquiagem prostética e uma roupa peluda de macaco, chamariam de atuação. É frustrante”, concluiu.

“Se eu fizesse Caesar com maquiagem prostética e uma roupa peluda de macaco, chamariam de atuação”

Voltando a Caesar, o ator foi perguntado sobre como foi fazer o personagem mais velho. “A mudança inclui mudança física. O mais difícil foi o primeiro, quando era só um chimpanzé e mais ágil. No segundo Caesar ganhou mais peso, as mãos eram levemente mais humanas (no sentido de segurar coisas). No último eu o queria um líder em tempos de guerra com peso sobre os ombros. Usei pesos nos braços e pernas para ficar mais lento e só andar, passar um senso de cansaço.”

Delfos, Coletiva Planeta dos Macacos: A Guerra
Foto: Carlos Eduardo Corrales

Quanto ao processo da evolução da mente do personagem: “no começo o tratei como um humano em pele de macaco. Queria pensar nele como uma criança superdotada. Intelectualmente assim, mas em forma de macaco. No segundo era um líder capaz de unir os macacos. No terceiro quis aproximar a coisa de mim, pensando em como me afetaria (pessoalmente).”

O FUTURO PRÓXIMO

A respeito da divisão do novo filme, que se sustenta entre a filosofia e a ação: “Acho que é ambos, e tem de ser. É um filme de guerra, sobre como uma pessoa responde à guerra. Ao mesmo tempo, é mais difícil ver um macaco morrer do que um humano, o que isso diz de nós?”

Sobre as inúmeras possibilidades da técnica de captura de performance, deu seu parecer final: “estamos num ponto interessante com a captura de performance porque ela é transmedia friendly, podendo ir do cinema para os games (aliás, amanhã teremos uma matéria delfiana a respeito da participação do ator no mundo dos games), a VR, etc… É uma ferramenta amistosa em várias arenas.”

Delfos, Coletiva Planeta dos Macacos: A Guerra
Foto: Carlos Eduardo Corrales

Finalizou a entrevista falando sobre seus próximos projetos que, incidentalmente, não serão como ator, mas sim atrás das câmeras como diretor. “Um está em pós-produção, O Livro das Selvas, para o ano que vem. É diferente da versão da Disney, é mais próximo do tom do livro de Rudyard Kipling.”

Breathe (com previsão de estreia em outubro deste ano na Inglaterra) é uma história pessoal para mim. É baseada no meu sócio de negócios que tem poliomielite. Ele foi um pioneiro, vivendo fora dos hospitais com um alto nível de deficiências”. Andrew Garfield será o protagonista.

Assim, acabou-se o tempo da entrevista e, como a maioria dos entrevistados em coletivas, o sujeito vazou do recinto tão rápido que até a sombra dele ficou para trás. Seja como for, ele falou bastante sobre seu trabalho e sobretudo sobre o processo de captura de performance, como você pôde ler na matéria. Agora só resta prestigiá-lo nos cinemas com uma sessão de Planeta dos Macacos: A Guerra. E não deixe de ficar delfonado, pois outras entrevistas virão!