Agora que a segunda temporada do Batman da Telltale acabou, a gente pode falar sobre ele. Apesar de eu ter escrito resenhas sem spoilers para os quatro episódios anteriores, penso que agora é chegada a hora de a gente conversar de fato sobre a temporada inteira. Afinal, quem se interessa já pode jogar tudo. Então se você ainda pretende jogar, deixe para ler este texto e conversar com a gente sobre Batman: The Enemy Within depois.
ÚLTIMA CHANCE DE ESCAPAR DOS SPOILERS
Durante a divulgação deste quinto e último episódio, a Telltale focou bastante no aspecto “crie seu próprio Coringa”, dizendo que há caminhos diferentes pelos quais o personagem vai seguir, dependendo das suas escolhas. Bom, isso é o que eu vinha prevendo desde a minha primeira resenha desta temporada. Este parecia de fato ser o objetivo para o qual tudo estava caminhando: a possibilidade do surgimento do Coringa como o vilão que conhecemos ou como um vigilante. Cheguei a especular que ele poderia virar um Robin.
Pois durante toda minha história, eu fiz as escolhas que pareciam seguir por este caminho. E de fato, quando terminei o quarto episódio, a Telltale me contou durante os créditos que eu tinha colocado o personagem no caminho de ser um vigilante.
Pois é assim que John Doe começa Same Stitch. Em uma das melhores cenas de abertura que a Telltale já criou, vemos John Doe adotando o nome Joker, não como vilão, mas como um parceiro do Batman. A cena de ação que se segue, que coloca os dois contra o Bane é muito empolgante e muito engraçada.
O Coringa herói é bastante influenciado pelo Batman (se liga no penteado) e usa ferramentas bem parecidas. Ao invés do batarang, por exemplo, ele tem o jokerang. Mas nessa cena mesmo dá para perceber que algo está errado. “Heróis não matam”, meu Batman falou para o Coringa depois de ele esfaquear o Bane múltiplas vezes. A parceria não seria duradoura.
Eu achei que o episódio que eu construí com minhas escolhas seria focado no Batimão mentorando o seu novo sidekick para que ele não se rendesse ao seu lado assassino, mas não demorou quase nada para…
O CORINGA SE TORNAR O VILÃO QUE CONHECEMOS
Tirando a cena de abertura, praticamente todo o desenvolvimento do episódio colocou o Coringa como meu antagonista. No final do jogo, aparece uma imagem dizendo qual Coringa eu havia enfrentado.
O fato de ter duas opções, e a minha ser chamada de vigilante, me fez pensar que o Coringa viraria vilão de qualquer jeito. Na melhor tradição Telltale, as escolhas são apenas uma ilusão. Provavelmente a diferença é que, enquanto o meu Coringa achava que estava fazendo justiça, o outro sabia que era um criminoso, mas o caminho da história deve ser basicamente o mesmo.
Isso me deixou um tanto decepcionado. Eu realmente esperava que a liberdade que a Telltale conseguiu com os personagens iria ter a possibilidade de um Coringa completamente diferente do clássico. Na luta final, no entanto, ele gargalhava e falava exatamente como o vilão de sempre.
Dito isso, eu realmente gostei muito da temporada toda e, apesar da decepção com a falta de agência do jogador no final, achei não apenas um final deveras satisfatório, como também…
UMA DAS MELHORES HISTÓRIAS DO BATMAN QUE JÁ VI
O Batman da Telltale é uma reimaginação do personagem clássico. Por um lado, é mais ou menos o que costumam fazer os filmes. Por outro, o fato de estar em uma mídia de menor apelo popular possibilitou que a Telltale assumisse riscos que não poderia fazer em um longa.
A segunda temporada já começa impressionante, com o assassinato do Charada, que até aquele momento parecia ser o principal vilão. E convenhamos, precisa de bolas para matar um personagem tão importante na mitologia do personagem tão no início da história.
Além disso, o maior tempo de desenvolvimento possível no formato de história episódica permite que mais da galeria do personagem seja usado. O Coringa, por exemplo, apareceu na primeira temporada como um coadjuvante pouco desenvolvido. Agora foi a vez dele brilhar, enquanto talvez em uma nova história, outro dos vilões apresentados aqui seja o bandidão. Este episódio tem até tempo para apresentar uma reinterpretação do Esquadrão Suicida, ainda que este nome nunca seja usado.
Todos os aspectos, do visual estiloso aos excelentes atores, fizeram com que eu realmente curtisse a jornada de Batman: The Enemy Within. Mas provavelmente o que mais se destacou foi justamente…
A LIBERDADE DA TELLTALE
Talvez muita gente não goste justamente por isso. O Batman que temos aqui não é o dos gibis, mas apenas inspirado por ele. No final desta temporada, meu Bruce Wayne está quebrado, emotivo e bastante dependente do Alfred, o que torna o final ainda mais forte. E o jogo acerta em investir bastante tempo na conclusão da história, mesmo depois da prisão do Coringa.
A Telltale tomou mais liberdades com o imaginário do Batman do que os próprios filmes do Christopher Nolan e isso é o que tornou sua história especial. O que temos aqui é uma história do Batman, mas não é aquele Batman de sempre, e por isso não é mais uma história do Batman. Faz sentido?
Os jogos da série Arkham, por exemplo, já tinham trazido uma excelente história do personagem para os games, mas, ao contrário do que temos aqui, aquele é o mesmo Batman do gibi. Sim, ela tomou liberdades bastante boludas também, tipo (OLHA OS SPOILERS!) matar o Coringa e ferrar a vida da WBIE (que com certeza queria lançar mais jogos) fazendo o herói se aposentar no final da trilogia. Mas aquela é uma típica história do Batman. Ela foi criada como um encerramento, uma última aventura do Batman, mas leva em consideração boa parte da cronologia dos gibis.
O que temos aqui, por outro lado, é totalmente novo. E esta segunda temporada é o que poderia ser chamado de Joker Begins. Imagino que algo com esta proposta já deve ter sido feito um número plural de vezes nos gibis, mas duvido que com tamanha liberdade.
Assim, terminei esta segunda temporada do Batman da Telltale bastante satisfeito com a história que acabei de ver, e ansioso para que esta reimaginação do personagem continue – ainda que o meu final não dê muitas aberturas para isso. Agora eu quero saber de você. Já terminou Batman: The Enemy Within? Deixe sua opinião nos comentários.