Batman: O Longo dia das Bruxas

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Escrever histórias do Batman é uma tarefa complicada. É muito fácil cair na armadilha de recontar, da forma mais clichê possível, o surgimento do homem-morcego, a morte dos pais do jovem Bruce Wayne, sua tortura psicológica e obsessão. Sem falar na dificuldade de fazer um mistério realmente intrigante, que possua uma solução lógica que apenas o maior detetive do mundo poderia resolver. Jeph Loeb, roteirista que ganhou notoriedade quando escreveu os X-Men nos anos 90, se esforça, escreve uma história interessante, mas não tem jeito. Ele não é um Alan Moore.

Não que a história seja ruim. Ela é competente e bem escrita em vários aspectos. Loeb, que gosta de explorar o psicológico dos seus personagens, consegue escapar de todos os clichês ao escrevê-la. Aqui os dramas de Bruce Wayne servem para mostrar o porquê de suas atitudes, qual a sua motivação, e não são exibidos a cada três páginas apenas para mostrar um homem amargurado. No entanto, Loeb peca ao tentar criar algo consistente ou mostrar uma solução que faça sentido.

Não são poucos os vilões interessantes do Cavaleiro das Trevas. Apesar de todos serem basicamente psicopatas, os motivos que os levaram à loucura conseguem torná-los simpáticos aos nossos olhos. Conseguimos entender porque essas situações limite os levaram ao caminho do crime. Sabendo disso, esta minissérie explora extensivamente todos os principais vilões do Batman nos quadrinhos.

O Coringa, Hera Venenosa, Mulher-Gato, Espantalho, Charada, Chapeleiro Louco, Solomon Grundy e até o Crocodilo aparecem ao longo da série. Todos se envolvem para montar o pano de fundo de onde surgirá um dos vilões mais cruéis do Cavaleiro das Trevas, o Duas Caras. Sabendo que esta história serviu de base para o novo longa do homem-morcego, Batman – O Cavaleiro das Trevas, não era difícil imaginar que o vilão realmente surgiria neste filme, roubando um pouco da estrela do Coringa que, aliás, acaba se tornando um mero coadjuvante na obra impressa.

Essa salada mista de vilões é uma das principais causas da confusão. Parece que eles estão ali apenas para dizer que estão, meros figurantes que os personagens principais utilizam como muleta para a trama principal. Poucos são realmente úteis para o desenvolvimento da trama, com exceção da Hera Venenosa e da Mulher-Gato. Parece que Loeb, que não é um bom escritor de ação, tentou remediar a situação colocando ao menos um combate em cada uma das 13 edições da publicação original. O roteirista foi acusado diversas vezes pelos fãs dos mutantes da Marvel de criar histórias chatas, uma vez que, em um único arco, podiam se passar duas ou até três edições sem um único combate.

Ok, mas quem são os personagens principais? Para responder a esta pergunta, segue a sinopse: o jovem promotor público Harvey Dent se alia ao homem-morcego e ao comissário de polícia James Gordon para tentar colocar o chefão do crime Carmine “o Romano” Falcone atrás das grades. Entretanto, um assassino em série que a imprensa apelidou de “Feriado”, porque ataca apenas em datas comemorativas, está matando membros das famílias Falcone e sua principal rival, Maroni. Isso motiva ambos os lados a contratarem os super-vilões para tentar acabar com o “Feriado”. É nessa trama intricada que Batman se encontra. Ao mesmo tempo em que tenta prender “o Romano”, deve protegê-lo do “Feriado” e descobrir quem é este assassino. E as principais suspeitas caem sobre seu maior aliado, e a última pessoa que ele gostaria de imaginar cometendo os crimes, Harvey Dent.

Aí somos apresentados à origem do vilão. Após levar Sal “o Chefão” Maroni ao banco dos réus, ele acaba tendo metade de seu rosto deformado quando o gangster lhe joga ácido. Dent consegue recuperar sua aparência através de inúmeras cirugias plásticas, mas desde o primeiro momento vemos que a personalidade do Duas Caras era latente. Desta forma, é apenas questão de tempo até ele se tornar o cruel assassino, renegando Harvey Dent e sua vida.

Pelo pouco que vimos de Batman – O Cavaleiro das Trevas até agora, essa não deve ser a origem do Duas Caras nas telas do cinema. Na verdade, se você ler a revista, poderá encontrar as idéias que inspiraram certas partes do filme, e o que Dent fazia no chão coberto de gasolina no último trailer.

Acompanhando o roteiro competente, mas nada extraordinário, de Loeb, temos a arte também competente, e também nada extraordinária, de Tim Sale. Mas aqui há uma ressalva a ser feita. Tim Sale entende de narrativa e iluminação, e isso é imprescindível numa história do Batman. Mas a arte, muitas vezes crua e relativamente caricata, pode incomodar.

Apesar dos pontos ruins, que fizeram a obra deixar escapar um Alfredo inteiro (cuidado! Dragão vermelho à solta!), esta ainda é uma ótima narrativa do homem-morcego, e uma origem muito bem feita para o Duas Caras. Ao terminar de ler, é impossível não compreender melhor a motivação de seus personagens principais. Só não espere entender tudo no final. Até agora não sei quem era o assassino (e não, não era o mordomo Alfred).

A Panini Comics lançou neste mês a “versão definitiva” da minissérie. Caprichadíssima, com capa dura e 400 páginas, além de vários extras, como entrevistas com os autores e com Cristopher Nolan. O preço é meio salgado (R$ 95,00), mas não pode faltar na estante dos verdadeiros fãs do Homem-Morcego. Você pode comprá-la aqui.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
batman-o-longo-dia-das-bruxasPaís: EUA<br> Ano: 1996<br> Autor: Jeph Loeb (roteiro) e Tim Sale (arte)<br> Editora: Abril (1998)<br>