As Tartarugas Ninja

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Ícones de uma geração, as Tartarugas Ninja foram criadas em 1983 pelos amigos Kevin Eastman e Peter Laird durante uma tarde de conversas nerd na casa de Laird. Imediatamente, ambos começaram a produzir os primeiros rabiscos como uma brincadeira, até que Eastman desenhou uma versão preliminar do que viria a ser o Michelangelo: uma tartaruga com cara de mau segurando um nunchaku. A lenda surgiu.

A idéia era parodiar na cara dura quadrinhos famosos (que se levavam a sério), como o Demolidor de Frank Miller, os Novos Mutantes e os filmes de artes marciais, uma grande moda nos anos 80. Mas os primeiros roteiros já apresentavam personagens clássicos, entre eles o cientista Baxter Stockman (na versão da raça negra), Splinter e o Destruidor. Aliás, a título de curiosidade, em uma das primeiras histórias, Baxter implodia o World Trade Center em um atentado terrorista. Seria um presságio dos 11 de Setembro de 2001?

No começo, nossos queridos répteis eram bem diferentes da versão bonitinha e divertida que você provavelmente conhece: sanguinárias, vingativas, gordas (veja uma sketch desse período no álbum de fotos lá embaixo) e nada de pizzas.

Apesar da idéia bizarra de quatro tartarugas ninjas e um rato sensei, as primeiras empreitadas de Eastman e Laird eram inteligentes, uma espécie de Lobo Solitário sem limites. Os primeiros esboços fizeram sucesso com os amigos da dupla e ambos resolveram lançar comercialmente a brincadeira. Com a recusa de vários estúdios, os dois pegaram um empréstimo do tio de Kevin e torraram mais algumas economias para produzir uma tiragem inicial de três mil exemplares sob o selo “Mirage Studios” (criado pelos jovens, especialmente com este fim) e um pequeno anúncio na revista Comic Buyer´s Guide, como o próprio nome diz, um guia para colecionadores de quadrinhos.

O lançamento da primeira tiragem ocorreu em maio de 1984, durante uma convenção de gibis em Portsmouth (EUA) e foi um sucesso no meio underground, continuando a ser publicada de forma independente nos anos seguintes.

A grande sacada é que essa primeira edição do gibi foi impressa em formato “Graphic Novel” (grandão) ao invés do formatinho tradicional, por um engano da gráfica que não era especializada em quadrinhos. Mas o “erro” acabou gerando um belo cartão de visitas na convenção e alavancou a curiosidade dos leitores.

Além da série regular, que crescia em níveis estratosféricos, Eastman e Laird contrataram artistas famosos para escrever e desenhar uma outra linha, chamada “Tales of the Teenage Mutant Ninja Turtles”, que ajudava a preencher as lacunas na cronologia oficial entre 1987 e 1989.

De 1988 até 1995, o gibi também saiu pela Archie Comics e chegou ao mercado japonês no mesmo período com o nome de Myutanto Tatorusu ou Tartarugas Mutantes, em versão mangá. De 1996 a 1999, a Image Comics foi a responsável pela publicação.

Para complementar o fenômeno, uma tira diária também foi produzida até 1996 e chegou a sair em mais de 250 jornais simultaneamente (incluindo aí alguns brasileiros). Após esse período, os quadrinhos das Tartarugas Ninja esfriaram, mas volta e meia reaparecem nas bancas em edições especiais.

Vale lembrar que os roteiros começaram – de fato – com histórias bem sanguinárias, mas foram suavizados com o tempo para atrair o público da televisão, sedento por colecionar produtos dos répteis mutantes.

No Brasil, algumas edições saíram também no começo dos anos 90, mas não alcançaram o sucesso da versão estadunidense, especialmente porque aportaram com bastante atraso por aqui e quem comprava esperava encontrar algo parecido com a série de TV e levava um susto grande com as diferenças para a série animada.

Se os quadrinhos pavimentaram as histórias das Tartarugas Ninja, foi na TV que elas alcançaram o estrelato com “A série”. Lembra que eu comentei que as histórias dos gibis eram adultas? Ao transcrevê-las, os roteiristas enfrentaram sérios problemas, para transformar os enredos recheados de humor negro em algo fofinho.

A única solução encontrada foi amenizar e investir no lado cômico (pizza!), nem que, para isso, tivessem de alterar as origens de alguns personagens e buscar um público infanto-juvenil que não conhecia os gibis.

O desenho estreou nos EUA em 28 de dezembro de 1987 e rapidamente se tornou uma verdadeira febre por todo o mundo. Para se ter uma idéia, no Japão, as Tartarugas bateram de frente com animês de sucesso como Dragon Ball Z e Macross. Uma curiosidade é que, no Reino Unido, a série foi rebatizada para Teenage Mutant Hero Turtles com a palavra Hero no lugar de Ninja. O motivo para essa alteração bizarra, é que por aquelas bandas, a palavra ninja ganhou um significado especial com algo como bagunceiro ou vândalo e a rigorosa censura inglesa de 20 anos atrás não gostaria que o termo fosse utilizado pelos pequenos hooligans. Para piorar, o nunchaku do Michelangelo foi totalmente apagado do desenho inglês e substituído por uma corda. Hoje em dia, o termo “Ninja”, voltou a ser utilizado pelos britânicos, mas a série original ainda é conhecida pelo “Hero”.

A historinha básica do desenho parte da mesma premissa dos gibis com pequenas diferenças: quatro tartaruguinhas de aquário em Nova Iorque têm contato – por acidente – com um mutagêneo chamado Ooze. Essa substância altera os genes dos seres vivos adaptando-os ao último animal com que tiveram contato. As tartarugas, como tiveram contato por último, com um humano, acabaram evoluindo para algo próximo de tal forma.

Ao mesmo tempo, nos esgotos, um velho exilado japonês, mestre nas artes marciais, conhecido como Hamato Yoshi, também tem contato com o mutagêneo e, por conviver com ratos, acaba se transformando em um mutante roedor e adota o nome de Splinter. Nosso simpático ratão encontra as pobres tartarugas mutantes e decide acolher e treiná-las na arte ninja para que sejam combatentes do crime.

A origem de Splinter é a principal diferença com relação à versão original criada por Eastman e Laird. Nos gibis, ele era o rato de estimação de Hamato Yoshi, viu seu dono ser covardemente assassinado por Oroku Saki (o Destruidor) e o mutagêneo apenas fez com que desenvolvesse capacidades humanas. Já no desenho, a coisa foi suavizada: nada de mortes e o próprio Hamato Yoshi se transforma em Splinter após ser traído por Saki e atingido pelo mutagêneo.

As tartarugas foram batizadas com nomes de grandes pintores renascentistas – Leonardo, Raphael, Michelangelo e Donatello – e a paixão por pizza foi reforçada. Suas faixas também ganharam cores para que os fãs pudessem diferenciá-las com maior facilidade. Nos quadrinhos, todas têm faixas vermelhas.

Mas os heróis não estavam sozinhos na luta contra o crime. Tinham sempre a ajuda da repórter do Canal 6, April O´Neil (nos quadrinhos, ela era uma ajudante de laboratório de Baxter) e do vigilante mascarado, Casey Jones.

Do lado dos inimigos, bebendo na fonte original, temos Oroku Saki, o Destruidor: mestre nas artes marciais e responsável pela expulsão de Yoshi do Japão, cujo único objetivo é dominar o mundo e exterminar as tartarugas e seu mestre; os soldados do Clã do Pé – originalmente humanos, mas substituídos por robôs na versão animada para que as tartarugas pudessem fatiá-los sem preocupação com o nível de violência do desenho (uma grande sacada, que se tornou clichê depois); o cientista Baxter Stockman (mais tarde transformado em uma mosca gigante) e seus Mousers, robôs originalmente caçadores de ratos, mas com objetivos bem malignos e o Rei Rato, um maluco que vivia nos esgotos e controlava os roedores.

Temos também os personagens criados exclusivamente para o desenho, como o “chiclete mastigado” Krang, que veio da dimensão X e é baseado em uma raça alienígena criada para os quadrinhos (embora o personagem seja exclusivo da animação) e os arruaceiros Rocksteady e Bebop, oriundos de uma gangue de Punks que foram transformados pelo Destruidor em mutantes de rinoceronte e javali respectivamente.

O grande trunfo da série animada eram mesmo os roteiros legais e criativos, com muito humor, aventura e pancadaria, mas nada de sangue. Os personagens tinham personalidades bem características e o desenho não tratava as crianças como retardados mentais. Por falar nos personagens, vamos às características principais das quatro tartarugas:

Leonardo: O líder. Usava a faixa azul e sua arma era um par de katanas (espadas japonesas).

Raphael: Provavelmente o personagem com maior diferencial entre sua versão animada e o gibi. Nos quadrinhos, Rafael é o revoltado nervosinho enquanto no desenho se tornou bem-humorado. Sua faixa é a vermelha e sua arma são as adagas sai.

Donatello: O mais inteligente e o nerd do grupo. Sua faixa é a roxa e sua arma é o bastão bo, o que fazia com que fosse automaticamente o preferido nos jogos de videogame pelo alcance de seus ataques.

Michelangelo: O mais jovem e imaturo, conhecido pelo seu lado adolescente e brincalhão. Em outras palavras, o alívio cômico da série. Sua arma é o nunchaku e sua faixa é a laranja.

O desenho original foi produzido de 1987 até 1996, mas teve várias mudanças no direcionamento ao longo dos anos. Se você for atrás de alguma temporada, procure pelas 5 primeiras que são os “clássicos” mesmo. As demais apelaram para modismos da época.

Em pouco tempo, como não poderia deixar de ser, começaram a pipocar os produtos derivados dos desenhos: brinquedos, jogos de videogames (muitos), lancheiras, fantasias e álbuns de figurinhas (o brasileiro era bem vagabundo, diga-se de passagem).

No Brasil, as tartarugas chegaram em julho de 1989 pelas mãos da toda poderosa Rede Globo. Os episódios começaram a passar na “sessão aventura” de segunda à sexta às 16:30, mas o desenho estourou e rapidinho, mudou para as manhãs no programa da Xuxa, como principal destaque, onde permaneceu até a metade dos anos 90, conquistando definitivamente o espaço em nossos corações.

Em 2003, uma nova série animada chegou aos EUA tentando repetir o sucesso da década anterior. Os novos desenhos bebem mais na fonte dos quadrinhos originais e trazem uma dose moderada de violência, mas sem deixar o bom humor de lado. A primeira temporada chegou ao Brasil há alguns anos também pela Globo, mas não estourou e infelizmente sumiu de nossa programação.

A incursão nos cinemas foi apenas uma questão de tempo. O primeiro filme das Tartarugas Ninja chegou aos cinemas em março de 1990. Os produtores optaram pelo formato Gremlins, ou seja, atores reais interagindo com bonecos animatronics retocados por computador e o resultado ficou muito bom, tanto que foi reaproveitado na série “cult”, Família Dinossauro, lançada um ano depois. Pena que o roteiro era confuso e não focava nem a diversão da série animada, nem a violência dos quadrinhos (apesar de se basear totalmente nessa última mídia). Era uma película sem identidade e adulta demais para seu público.

Para diretor, o escolhido foi Steve Barron, conhecido pelos seus trabalhos com Jim Henson (o criador dos Muppets) e direção de videoclipes dos famosos Michael Jackson e David Bowie. O vilão era o Destruidor e seu Clã do Pé, mas nada de Krang, Baxter, Tecnódromo, Bebop e Rocksteady, o que frustrou todos os fãs mirins, inclusive este que vos escreve. De qualquer forma, foi o filme independente mais lucrativo da história, faturando algo em torno de 133 milhões de dólares e abriu espaço para as inevitáveis continuações.

O segundo filme, dirigido por Michael Pressman (hoje, um dos responsáveis pela série Lei & Ordem), chegou aos cinemas um ano depois e puxou mais para o desenho, tentando corrigir os problemas do roteiro adulto. Novos vilões mutantes foram criados (Tokka e Rahzar) e a história parecia um episódio esticado do desenho. Os críticos torceram o nariz, mas a criançada adorou. Ah sim, esse é o filme que tem a famosa participação do Vanilla Ice com a música Ninja Rap.

Para quem ficou na dúvida sobre o porquê de terem colocado personagens novos como Tokka e Rahzar e não terem trazido Bebop e Rocksteady, existem duas versões da história: a primeira conta que os dois estavam na versão preliminar do roteiro mas foram limados por Eastman e Laird na última revisão, sendo substituídos por vilões mais “sérios” e a segunda, conta que os personagens criados exclusivamente para a série de TV são de propriedade do canal Fox e a Mirage não estaria disposta a pagar pelos direitos autorais, o que fez com que eles não aparecessem nos filmes ou séries animadas mais recentes.

O terceiro filme foi uma grande bobagem e nem vou perder tempo comentando muito (ele nem tinha o Destruidor, pô). Lançado em 1993, ele mandava as tartarugas de volta no tempo em uma aventura no Japão feudal, mas o resultado final é horroroso e bem inferior aos dois primeiros. Passe longe. Sério mesmo!

E qual o segredo de tanto sucesso?

A resposta é uma combinação de vários fatores. Em primeiro lugar, a febre ninja da década de 80, que rendeu vários filmes e especiais sobre o tema. Em segundo, a criatividade e competências do desenho, já que as histórias realmente eram muito legais, criativas e, mesmo sem apelar para a violência, tinham aventura e pancadaria de sobra. E em terceiro lugar, a excelente exploração da marca com produtos competentes, como os primeiros jogos de videogame e os brinquedos, que deram uma maior longevidade à série e atingiram não só o público infantil, mas também um pré-adolescente e adolescente, sedento por novos heróis.

Momento mais tremendão: A série animada original de TV, que mantém uma boa regularidade na qualidade dos episódios e foi a catalisadora da explosão da moda TMNT.

Momento menos tremendão: A série live-action produzida pela Fox Kids que puxava mais para o lado dos Power Rangers e desfigurava toda a mitologia original.

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