Fazia algum tempo que estava acompanhando de longe As Boas Maneiras. Ele fez boa carreira nos festivais internacionais de cinema fantástico e de terror, angariando elogios e críticas positivas. Finalmente pude conferir o filme e gostei do que vi, embora eu não o classificasse exatamente como uma película do gênero horror.

Na verdade está mais para um drama com elementos fantásticos e, sim, também de terror. Tem até um pouco de gore nessa mistura. E a coisa funciona bem, com bastante naturalidade entre esses elementos elencados.

Delfos, As Boas Maneiras, CartazA história é a seguinte: Clara é uma moça humilde, com experiência em enfermagem, que descola um trabalho de babá do ainda não nascido filho da grávida Ana. A convivência entre as duas mulheres lentamente vai passando do profissional para o pessoal.

Principalmente depois que Clara começa a notar o comportamento estranho que Ana apresenta em noites de lua cheia. E não se tratam dos hormônios da gravidez em ação. Você já sabe do que se trata, mas como nenhuma sinopse oficial diz abertamente aquela palavra com “l”, também não sou eu que vou fazê-lo.

Seja como for, ainda que esta premissa inicial não seja uma grande surpresa, o filme tem sim uma reviravolta lá pela metade que eu não estava esperando, e funcionou muito bem, mudando totalmente o direcionamento da narrativa. Uma boa e ousada decisão de roteiro.

O longa também tem alguns efeitos especiais caprichados. Eu já mencionei o gore e ele também tem outras coisas de efeitos práticos muito bacanas. Tem também coisas em CGI que se não ficaram igualmente boas, até que estão passáveis para um filme brasileiro, sem muita prática nesse departamento.

Por mais que a história seja legal, surpreenda e até dose bem drama, suspense, terror e até uma pitadinha de comédia, faltou também tirar algumas rebarbas. Seus 135 minutos de duração são simplesmente excessivos. Ele tem muitas cenas que duram vários segundos a mais do que deveriam. E também podia tirar fácil as várias passagens em que os personagens resolvem cantar e que nada acrescentam ao desenvolvimento narrativo.

Delfos, As Boas ManeirasSem contar que é mais um que passa do ponto de encerramento natural, que ficaria até mais forte do que como de fato ele acabou. Com uma tesoura um pouco mais impiedosa do editor, a experiência narrativa ficaria ainda mais bacana.

Seja como for, As Boas Maneiras acaba rendendo um bom filme de drama/fantasia/terror. Parece que o cinema tupiniquim está finalmente enveredando de vez por essa seara em tempos recentes. Ainda tem muito espaço para desenvolvimento, mas este aqui já aponta os rumos certos. Vale a assistida.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
as-boas-maneirasTítulo original: As Boas Maneiras<br> País: Brasil/França<br> Ano: 2017<br> Gênero: Terror/Fantasia<br> Duração: 135 minutos<br> Distribuidora: Imovision<br> Direção: Marco Dutra e Juliana Rojas<br> Roteiro: Juliana Rojas e Marco Dutra<br> Elenco: Isabél Zuaa, Marjorie Estiano, Miguel Lobo e Cida Moreira.