O XIII original, lançado em 2003, foi a primeira análise de games que escrevi, e a que inaugurou a seção de games do DELFOS. De fato, ela saiu no segundo dia de vida deste site, em 20 de janeiro de 2004. Os únicos textos publicados antes dela foram a crítica de Irmão Urso e uma resenha de um show do Iron Maiden. Eu era tão novato quando escrevi essa análise que, sem saber como capturar imagens de um jogo, eu literalmente tirei uma foto da tela do meu computador para ilustrar a matéria. Que saudades.
ANÁLISE XIII REMAKE
Muitos anos depois, eu sou agora um fóssil, e o XIII que tanto me marcou ganhou um remake que saiu esta semana. E pior, ele vem sendo rechaçado pela mídia e público como um jogo terrível. E não dá para negar. Ele é uma porcaria. Cheio de problemas técnicos, bugs bizarros e a tendência a sair do jogo sozinho. Abaixo você confere alguns dos bugs visuais que encontrei na minha campanha.
E esses são só os visuais. E, apesar de o jogo ser claramente uma porcaria, eu me diverti com ele.
JOGO CERTO NA HORA CERTA
Desde Ion Fury eu ando meio apaixonado por FPS retrô. Recentemente, eu joguei o primeiro Doom, o de 1993, pela primeira vez do início ao fim. Também joguei o Doom 64 até o fim e estou com Doom 2 na minha lista de pendências. Até comprei o Duke Nukem 3D quando ele estava em promoção, na esperança de jogá-lo novamente um dia.
XIII é bem mais moderno do que estes. Jogando hoje, eu o achei parecido com o clássico de Nintendo 64, Goldeneye. O visual é poligonal, com a diferença de gameplay que isso traz, mas a sensação de jogar XIII é muito diferente da de um FPS moderno, como Call of Duty. XIII parece que tinha uma liberdade maior de criar. De colocar novas mecânicas, de inovar. É até curioso pensar que o jogo original era da Ubisoft, que hoje é conhecida por fazer jogos muito parecidos entre si. Assim, esse remake de XIII foi, para mim, o jogo certo na hora certa, capitalizando no meu tesão atual por FPS old-school.
Eu lembro de ter ficado muito impressionado com o XIII original quando o joguei. Na minha memória, ele ficou marcado como um dos jogos mais bonitos já feitos. Não dá para dizer a mesma coisa desse XIII remake. Ele ainda tem cara de desenho animado, mas as animações são bizarras e os glitches abundam. Mas se tem algo que não dá para negar é que ele é estiloso paca.
ESTILOSO PACA
A narrativa é cheia de quadrinhos que aparecem durante a jogatina, mostrando coisas que estão acontecendo fora da sua área de visão. Headshots especialmente bonitos são destacados com linguagem de HQs. Há onomatopeias e muito mais que dão a XIII um visual de quadrinhos em movimento.
Apesar de muitas coisas causarem estranhamento por não funcionarem direito, o estilo diverte e empolga bastante.
XIII também foi um dos primeiros jogos de ação que eu joguei que eram altamente roteirizados, e isso me marcou. Não dá para comparar XIII com The Last of Us Part 2, é claro, mas na época fiquei bem impressionado.
UM REMAKE QUE ESTÁ MAIS PARA UM REMASTER
A questão é que, ao contrário de Spyro ou Tony Hawk, XIII não é tanto um remake. Não parece que eles refizeram o jogo original do zero, mas que trabalharam em cima dele. As vozes, por exemplo, parecem ser as mesmas. E isso também causa estranhamento, pois o nível de atuação em videogames melhorou muito desde 2003.
O visual teve sua resolução aumentada, e algum retrabalho em cima. Muita gente, inclusive, reclamou que ele agora parece mais um Fortnite do que uma HQ. Eu não diria isso. Vendo comparações diretas, eu percebo diferenças radicais, mas jogando, ele meio que tem o visual que tinha na minha memória.
Inclusive, esses glitches visuais como o clipping, ou cabeças que se estendem, me parecem coisas que eram comuns nos primeiros games poligonais. Isso tudo corrobora minha impressão de que XIII foi trabalhado em cima do original.
O que não dá para desculpar é o terrível framerate. Eu tenho a sensação de que o jogo nunca passa dos 20 fps, e às vezes fica bem abaixo disso. Considerando que ele não é visualmente um jogo pesado, deveria rodar a 60 fps lisinho, no mínimo.
APESAR DOS PESARES
Mas aí é que está. Apesar dos pesares, apesar de o jogo ser um desastre técnico, eu me diverti com ele. E muito.
Sim, eu fiquei frustrado quando o game fechou sozinho no chefe final, não uma, mas DUAS vezes, especialmente porque isso significa voltar ao início da fase. Sim, eu achei muito estranho você pegar reféns que não se mexem e não falam nada enquanto são carregados.
Mas fazer o quê? Eu gostei mais dele mesmo assim do que de muitos outros jogos mais modernos e mais polidos. E eu sei que eu tenho uma certa fama de gostar de filmes ruins. Mas games é mais complicado. Esse remake de XIII talvez seja o pior jogo do qual eu gostei. Mas não vou mentir. Eu gostei mesmo.
CURIOSIDADE:
Para a turma que tem mania de dizer que os jogos hoje em dia são muito fáceis… XIII, mesmo na dificuldade média, é extremamente fácil. Eu diria inclusive que é o jogo de ação mais fácil que joguei no PS4, provando que essa obsessão por dificuldade é um fenômeno recente. E, só para dar uma provocadinha no meu amigo Eric, adivinha de quem é a culpa.