Quando este The Last of Us Remake foi anunciado, a pergunta na boca do povo era bem clara: por quê? Eu tenho algumas teorias, mas vamos entrar nelas amanhã. Pois acaba de dar o embargo de review, e você sabe o que isso significa: é hora da nossa análise The Last of Us Part I.
ANÁLISE THE LAST OF US PART I
Vamos começar com o mais importante: o que você vai encontrar em The Last of Us Part I? Bom, temos aqui a campanha single player originalmente lançada em 2013, e o DLC narrativo Left Behind, de 2014. O remake NÃO INCLUI o multiplayer, que esteve presente tanto nas versões de PS3 quanto na remasterizada de PS4 (e que, até onde sei, ainda tem o multiplayer jogável). Sons, músicas, vozes, level design, colecionáveis… tudo isso é exatamente igual ao original. Os troféus são diferentes. Sem o multiplayer, exigem basicamente terminar as duas histórias e pegar tudo.
A campanha tem as mesmas fases, mesmos puzzles e cenas de combate. Você passa pelos mesmos lugares, matando os mesmos meliantes e ouvindo as mesmas performances e músicas que conhece. The Last of Us Part I não é um relançamento do tipo Dark Souls II Scholar of the First Sin, que remixou os encontros com inimigos. Se você já jogou antes, não terá surpresas em quem vai encontrar e onde.
O Left Behind também continua sendo uma história independente, escolhida no menu inicial. Ou seja, não há aqui uma “versão completa”, onde você joga tudo em uma ordem curada pelos criadores. A principal diferença para a maioria dos jogadores será o visual. Este foi refeito, em cima do original. Não há redesign de personagens e de cenários. O que temos aqui é como a arte final de um gibi. Ou, como se diz na indústria, “passar por cima”.
YOUR MOTHER IS A TRACER!
Na imagem abaixo, por exemplo, tem muito mais folhas e detalhes do que no mesmo lugar da versão de PS3 ou na remasterizada. Mas a verdade é que a versão remasterizada, que joguei ainda outro dia, continua linda. Não acho que os gráficos envelheceram muito, e inclusive digo que The Last of Us Remastered ainda tem um visual melhor do que muitos jogos lançados especificamente para a geração atual.
Em outras palavras, se você olhar para o mesmo lugar nos dois games, verá uma diferença brutal. Mas dificilmente ao jogar a versão remasterizada vai pensar algo como “deveria ter mais plantas neste lugar”. O salto de gráficos do The Last of Us de PS3 para este é muito menor do que, por exemplo, de Metroid para Super Metroid. Ou mesmo de Streets of Rage para Streets of Rage 2, que estavam no mesmo console.
FUCKIN’ TRACER!
Isso é um reflexo dos tempos atuais. Fazer esse tipo de imagem acima, dá MUITO mais trabalho, mas a diferença não é tão perceptível quanto o saldo de qualidade dos 8 para 16 bit, por exemplo. Já há um bom tempo, os criadores de games são mais limitados por tempo e dinheiro do que pelo equipamento que rodará o jogo.
É um trabalho um tanto injusto, assim como o do “fuckin’ tracer” de Procura-se Amy. Faz diferença? Faz sim, e exige muito tempo e atenção de quem faz. Mas um jogador normal só vai perceber diferenças se olhar comparações entre antes e depois. Jogar The Last of Us Part I hoje deixará qualquer pessoa estupefato com a qualidade gráfica do bagulho. Mas arrisco dizer que você também se impressionaria jogando a versão de PS4, simplesmente porque o jogo original não envelheceu quase nada.
A ATUAÇÃO DOS BONECOS
Apesar de as vozes serem as mesmas, uma diferença perceptível é na atuação dos bonecos. Criar cenários bonitos e realistas, era algo que já era possível 10 anos atrás. Porém, a computação gráfica avançou muito nas sutilezas (daí o fato de ser difícil perceber os upgrades apenas por memória). Assistir à morte da Sarah, no prólogo do jogo, nunca foi uma cena agradável. Mas a cara de dor e sofrimento que ela faz quando está morrendo agora é de apertar o coração. Sempre foi ótimo, mas agora é mais próximo de um ser humano real.
Você não vai perceber coisas como “agora ela tem um machucado extra na bochecha” ou “o franzido das sobrancelhas está mais proeminente”. Porém, o impacto que a atuação do boneco vai ter em você será maior, pois a nova fidelidade é capaz de enganar mais o cérebro e fazê-lo acreditar que está vendo uma pessoa de verdade morrendo.
The Last of Us sempre foi o ápice da narrativa em games, com ótimos atores, em ótimas performances, recriados lindamente em computação gráfica através de planos lindos e estilosos. The Last of Us Part I eleva isso a um novo nível, provavelmente colocando a categoria “atuação em games e computação gráfica” mais próximo de estar de fato em uma premiação como o Oscar, como Andy Serkis gostaria.
REDESIGN DOS BONECOS
Algo que já tinha reparado nos vídeos divulgados antes do lançamento é que os personagens ganharam contornos mais tipicamente fotorrealistas. Se você comparar a nova Ellie com a original, perceberá que os olhos são menores. Ela agora parece menos cartum, mas também menos menininha.
Ela ainda parece uma criança, e ainda é uma criança adorável (muito pela excelente interpretação de Ashley Johnson). Mas ela é muito mais parecida fisicamente com a versão jovem adulta que apareceria em The Last of Us Part II. Aliás, é chocante pensar na evolução da personagem, e como essa menina fofinha e brincalhona virou um ser tomado por vingança que lembra o Kratos original. Mais curioso ainda quando a gente lembra que o próprio Kratos foi suavizado em seu jogo mais recente.
Outro que ficou bem diferente da imagem que eu tinha na memória é o Henry. Mas seu irmão Sam se manteve igualzinho, e continua tão adorável quanto sempre foi.
Tirando a Ellie e o Henry, todos os outros personagens me parecem iguais, apenas mais detalhados. Eles têm coisas como mais fios de cabelo e de barba, mais sardas… esse tipo de coisa. Detalhes que dão trabalho de fazer, mas que são pouco perceptíveis sem ter a imagem original do lado para comparar.
ANÁLISE THE LAST OF US PART I E A ACESSIBILIDADE
Provavelmente o principal ponto de venda em The Last of Us remake é quão customizável é a experiência. E sim, estou consciente de que isso vai fazer pouca diferença para a maior parte do público. Porém, para aqueles que sentirão, pode ser a diferença entre conseguir ou não jogar. E isso é lindo!
Na primeira vez que você rodar o jogo, aparecerá a tela acima, com presets de acessibilidade onde você pode escolher com o que tem dificuldade (visão, audição e/ou motora). Escolher uma ou mais delas vai ativar todas as opções relacionadas que vão te ajudar a curtir o jogo. E fica ainda melhor, pois você pode entrar fundo nos menus para configurar exatamente como quer que The Last of Us Part 1 funcione para você.
Uma coisa que eu liguei, e que achei que deixou o jogo mais agradável, foi pegar os itens simplesmente andando perto deles. Sem precisar apertar triângulo várias vezes. É só se aproximar e esperar o personagem pegar tudo que dá pra pegar. Achei bem mais prático assim.
DIFICULDADE TAMBÉM É ACESSIBILIDADE
The Last of Us sempre teve várias opções de dificuldade, que iam do “quase zero” ao “quase impossível”. The Last of Us Part I aumentou isso até o 11 também. Agora você pode configurar cada aspecto do desafio do jogo.
Há os mesmos presets de antes, que mexem tudo de uma vez. Mas você pode, por exemplo, deixar os inimigos ou os aliados mais perigosos e diminuir a dificuldade do stealth. Ou deixar o jogo difícil, mas aumentar os recursos para tirar o aspecto survival do survival horror e transformar The Last of Us em um jogo de ação, algo como um Uncharted extremamente tenso.
ACESSIBILIDADE É MESMO UMA COISA LINDA!
Há outras opções lindas, como poder desligar o “balanço da arma”. Isso originalmente era um upgrade caríssimo, e você ainda pode juntar recursos para desligar. Ou então pode simplesmente desativar isso no menu. E se você é um dos doidos que curte permadeath, ou adora um speedrun, The Last of Us Part I tem várias opções para se adequar a você. Dá até para pular puzzles que não quiser fazer, simplesmente apertando um botão no menu.
Basicamente, este The Last of Us Part I parece capaz de levar sua experiência narrativa para QUALQUER pessoa. Do gamer mais cascudo à galera que nunca jogou um videogame antes, mas está interessado em aprender, de forma casual e sem stress. Ou melhor, mantendo o stress da narrativa, mas tirando as exigências mais pesadas que os games costumam fazer.
Sei que fazer um jogo tão customizável dá um trabalho danado. E particularmente, eu mantive a maior parte dessas opções desligadas. Mas acho lindo que elas estejam lá, e sonho com o dia que isso seja o padrão, e todo mundo possa jogar o que quiser, quando e como quiser, sem ter que lidar com o ingrediente especial do chef José Marques.
CONTEÚDO EXTRA OU FALTANDO EM THE LAST OF US PART I
Além dos jogos em si, temos alguns extras, como artes conceituais (tanto da versão de 2013 quanto desta nova de 2022), vídeos de making of, comentários da equipe de produção e uma pá de skins.
Infelizmente, coisas como as skins e os comentários só ficam acessíveis depois de você terminar o jogo uma vez. É uma pena, especialmente porque quem mais se interessaria por essas coisas é quem já jogou antes.
Por outro lado, algumas coisas pequenas foram retiradas. O uso do falante do controle, por exemplo, está completamente desligado. Você deve lembrar que antes ele tocava sons de gravações ou da lanterna. Estes agora saem pelos falantes normais junto com o resto do som do jogo.
THE LAST OF US PART 2 EM THE LAST OF US PART 1
Uma última diferenciação que quero fazer é no gameplay de The Last of Us Part 2 que foi retroativamente colocado aqui. Verdade, não tem a possibilidade de se abaixar em grama alta, que foi a primeira coisa que todo mundo percebeu nos vídeos. Mas tem, sim, coisas que só entrariam na continuação. Porém, todas elas são pequenas e não alteram consideravelmente a experiência, como o supracitado caso dos códigos dos cofres.
Alguns inimigos imploram para viver. Você precisa colocar o código dos cofres para pegar o loot. Lembra como no segundo jogo dava pra dar um golpe extremamente satisfatório para quebrar vidros? Agora tem isso aqui também. Da mesma forma, temos aquelas lindamente detalhadas animações de upgrade nas armas, que são absurdamente impressionantes. Porém, a implementação que faz mais diferença é esta:
O modo de audição ganhou os upgrades do segundo jogo (que podem ser desativados nos menus). Você também pode clicar no L3 a qualquer momento para ver o caminho da história. Eu adoro essa funcionalidade, mesmo em jogos lineares, pois permite que eu explore bem os cenários e colete todas as porcarias antes de progredir com a campanha.
Infelizmente, até o momento isso não está funcionando corretamente. Mais de uma vez, o jogo me mandou para um lugar, eu fui para outro, na esperança de pegar colecionáveis, e daí o caminho fechou atrás de mim, e eu fiquei sem explorar a área que, teoricamente, progredia com a história. Também seria legal se, como em Dead Space 2, ele me mostrasse caminho para colecionáveis ou outros objetivos secundários, não apenas para a história.
GUIAS EMBUTIDOS NA ANÁLISE THE LAST OF US PART I
Uma novidade legal para quem assina a Plus é que The Last of Us Part I pretende incluir guias em vídeo para todos os colecionáveis nos cards de atividades. Isso possibilita que qualquer pessoa platine o jogo sem precisar ir atrás de guias de terceiros. Isso me ajudou muito a curtir Astro’s Playroom, e provavelmente vou rejogar The Last of Us Part I em algum momento pra fazer a limpa.
Por que eu não fiz agora? Pois é, esta funcionalidade não estava disponível no período de review de The Last of Us Part I e não está até agora, quando o embargo caiu. Porém, a Sony promete que estará até a data de lançamento em dois de setembro, então você vai poder usar.
Outra coisa que ajudaria muito – e ajudou – é que o modo audição permite encontrar vários colecionáveis. Porém, não todos. Teve broches dos Vagalumes, por exemplo, que eu estava usando o ping na frente dele e o jogo simplesmente se recusava a destacar. Isso provavelmente vai ser resolvido. E já que falamos no que deve ser resolvido…
THE LAST OF US PART I E A INTRODUÇÃO DOS PROBLEMAS TÉCNICOS
Eu me lembro de The Last of Us ser um jogo tecnicamente perfeito. Não recordo de ter encontrado nada “estranho”, em nenhuma das minhas muitas passagens por todas as suas versões. Até agora. The Last of Us Part 1, pelo menos no período de review, está um tanto mais cru do que os jogos da Naughty Dog costumam ser. Felizmente, são coisas bem pequenas.
Você provavelmente vai encontrar coisas como o hud que não desaparece depois de cenas de batalha, ou prompts de interação que não aparecem e impedem o progresso. Reiniciar o checkpoint em geral resolve o problema, então não é nada além de um inconveniente. Porém, durante minha campanha, eu provavelmente precisei reiniciar pelo menos dez vezes por causa dessas coisas. Algumas cutscenes também ficaram com animações “erradas”, tipo com as mãos não encostando onde deveriam.
Uma última coisa que eu gostaria que a Naughty Dog tivesse implantado é um símbolo, texto, ou o que seja, que mostrasse para o jogador quando o jogo salvou, ou quando um checkpoint foi passado. Essa informação nunca é mostrada (a não ser no menu de pausa, que diz quanto tempo faz desde o último save). Por isso, ao morrer, ou quando quiser parar de jogar, você nunca sabe exatamente de onde vai voltar. Felizmente, o sistema de autosaves é bem generoso, mas não muda o fato de que eu gostaria de saber quando ele fosse acionado. Isso é um problema que a Naughty Dog tem desde o primeiro Uncharted, no entanto.
CONCLUINDO A ANÁLISE THE LAST OF US PART I
Foquei aqui no que o remake tem de novo ou diferente. E não é muita coisa, o que permitiu que fizesse um artigo bem detalhado e informativo. Se você quer saber mais sobre o jogo em si, como obra criativa, leia nossa análise original de 2013.
Preferi não dar nota nesta análise pois, mais do que a maior parte do que avaliamos aqui, The Last of Us Part I tem um valor muito pessoal. Como jogo, ele é fantástico. Se você ainda não jogou, sem dúvida vale o preço cheio. Porém, se você deve pegar esta versão ou a remasterizada, são outros quinhentos.
QUANTO VALE PARA VOCÊ?
The Last of Us Part I é vendido por preço cheio em cima dos gráficos retrabalhados. Porém, o real valor desta nova versão está na possibilidade de o jogador ter a experiência que deseja. Se você não precisa ou não deseja essas coisas, e especialmente se o dinheiro for curto, provavelmente a versão remasterizada é mais negócio. Afinal, o conteúdo em si é o mesmo.
Eu falei várias vezes e falo aqui no último parágrafo para deixar claro. The Last of Us Part I é lindão. Mas a verdade é que The Last of Us Remastered também é. Este tem mais detalhes, mas não acho que alguém que vai jogar a versão remasterizada de PS4 em 2022, vai sentir que seus gráficos são realmente datados. Para a fidelidade máxima, claro, pegue esta Part I. Quão importante isso é para você, apenas você pode dizer. Mas se ainda não jogou The Last of Us, dê um jeito de jogar. A versão escolhida é o de menos, mas jogue, pois este é um dos melhores e mais impressionantes games já feitos. E volte amanhã, pois vai sair por aqui um texto especial explicando porque este remake existe.
FICHA TÉCNICA
Disponível: PS5, futuramente no PC
Analisada: PS5 Desenvolvedora: Naughty Dog Editora: Sony Interactive Entertainment Lançamento: 2 de setembro de 2022 Gênero: Survival Horror extremamente dramático |