Ao começar a jogar Kona II, fiquei estupefato com quão diferente ele era do primeiro. Curiosamente, ao reler minha análise da época, vi que na verdade não mudou quase nada. Minha memória é que estava errada. Afinal, lembrava-me de ele ser um walking simulator sem combate, mas na minha resenha de anos atrás, já o classificava como uma mistura entre walking simulator e survival horror. Veja só, grandes mentes realmente pensam igual.
ANÁLISE KONA II BRUME
Te dizer, eu não lembrava nada da história de Kona, a ponto de ficar em dúvida se o segundo era uma continuação direta ou uma nova história. Mas ao reler meu próprio texto, lembrei que ele termina de forma repentina quando você está se aproximando da mansão Hamilton, e este é exatamente o ponto de início de Kona II Brume.
Sim, Kona II é uma continuação direta de um jogo que conta uma história incompleta. Felizmente, ele não força uma trilogia, e realmente tem um fim decente agora. Você ainda é o detetive Carl, contratado pelo ricaço Hamilton, odiado pelos canadenses. Para solucionar a morte dele e todas as coisas estranhas que estão acontecendo neste gelado lugar, você deve explorar, solucionar quebra-cabeças e matar fantasminhas. Como na vida real.
KONA II – COMO NA VIDA REAL
O jogo é mais linear do que o anterior, e em muitos aspectos me lembrou Resident Evil Village. O jogo tem dois dungeons que devem ser “solucionados” (a mansão e a mina) e dois mapas mais abertos, em que você tem alguma liberdade para explorar e avançar da forma que preferir. Mas a ordem das coisas é meio fixa. Você começa num caminho linear até a mansão, faz o dungeon da mansão, vai pra um mapa aberto, depois de alguns objetivos, começa o dungeon da mina, daí vai para o último mapa aberto que culmina na batalha final. Esta é a totalidade da campanha de Kona II Brume.
Embora os gráficos sejam bacanas, ele tem alguns problemas visuais fortes. Ou é escuro demais e a tela fica quase totalmente preta, ou é claro demais e a tela fica quase totalmente branca. Em outras palavras, você dificilmente consegue enxergar mais do que um palmo à frente, o que deixa Kona mais desconfortável do que assustador.
SURVIVAL HORROR LIGHT
De survival horror ele tem combates, recursos consumíveis e cuidados com sobrevivência. O frio, por exemplo, pode matar tanto quanto os inimigos. Assim, você atira em fantasminhas (ou os ataca com uma machadinha se não quiser gastar munição) e de tempos em tempos precisa se aproximar de uma fogueira, onde pode também salvar o jogo. Aliás, lembra quando a gente salvava o jogo em banheiros? Agora parece que todo game usa fogueiras para salvar.
Além dos inimigos padrão, tem o monstro, o Wendigo – o inimigo mais arroz de festa dos games depois dos zumbis. Este é imortal e aparece para te perseguir em – poucos – momentos específicos.
DIFICULDADE TÃO LIGHT QUANTO O TERROR
Apesar de parecer ser um jogo difícil, e cometer o enorme pecado de não permitir mudar a dificuldade ao longo da campanha, ele é extremamente fácil na dificuldade padrão, em que joguei. Eu acumulei centenas de balas, pilhas para a lanterna e medicamentos. Ou pelo menos eu acho, já que por alguma decisão bizarra ou glitch inexplicável, o jogo não mostra a quantidade de medicamentos que você carrega. De qualquer jeito, eu usei sempre que necessário e não me faltou. Aliás, acredito que terminei Kona II sem morrer nenhuma vez.
Eu recomendei Gylt para quem tem medo mas gostaria de tentar um survival horror. Kona II é mais adulto em sua apresentação, mas também é muito mais fácil. Então se seu problema com o gênero forem os recursos limitados e a alta dificuldade, pode ser também uma porta de entrada. Em uma grande melhoria em relação ao anterior, agora não é nem mais necessário “pagar para salvar”. Basta encontrar lenha perto de lareiras e levá-las até lá. Daí o lugar vira um save point permanente.
Depois que você libera o trenó, o game também abre a liberdade de se teleportar para lugares mais importantes. Isso não é vital, já que você não tem muito incentivo de voltar para onde já visitou, mas ainda assim é um bom acréscimo de qualidade de vida.
KONA II E SEUS CHARMINHOS
Quando é possível enxergar, Kona II é visualmente muito legal. É extremamente charmoso como ele coloca comentários do protagonista como parte do visual. E assim como falei no anterior, acho muito gostoso explorar lugares ermos e silenciosos nos videogames.
Em matéria de bugs, ele é mais redondo que o primeiro também. O que mais me incomodou foi que o jogo não mostra a quantidade de medicamentos no inventário, mas outro problema que aconteceu é que ele se recusou a me dar o troféu para terminar o jogo sem matar nenhum animal “não-fantasma”, o que eu intencionalmente não fiz. Sempre que aparecia um lobo ou outro bicho selvagem, eu passava longe dele para não precisar matá-lo, então quero meu troféu.
Narrativamente, também poderia ser mais polido. Vários diálogos aconteciam em hora errada para mim. Por exemplo, alguém me avisa do monstro e o protagonista fala como se nunca o tivesse visto, sendo que eu já o havia encontrado múltiplas vezes. Em outro de muitos casos, eu estava pegando um bagulho que achava que era um simples colecionável quando o narrador fala que “agora tinha pedras suficientes para entregar para o NPC”. Só que eu nem tinha encontrado ainda o NPC em questão.
KONA II E SUA SUSTÂNCIA
Kona II também me surpreendeu por sua sustância. Eu esperava um game que poderia matar em uma tarde, mas em matéria de tempo de campanha, ele se aproxima de Resident Evil Village, tendo durado de 10 a 15 horas para mim. Sinceramente achei que ele terminaria quando solucionei a mansão, e constatar que depois daquilo fui levado a um enorma mapa aberto me deu uma preguiça sem igual de continuar. Mas depois que reuni forças para continuar, acabei me divertindo e gostando do jogo, ainda que não tenha especialmente me empolgado.
Enquanto esperamos pelo sucessor de Resident Evil Village (Resident Evil 4 não conta!), Kona serve para saciar nosso insaciável paladar. Mas não espere a mesma qualidade, imersão ou simplesmente possibilidade de enxergar que os games da Capcom nos trazem. Kona II é legal, mas talvez receberia mais destaque da imprensa e do público se saísse em outra época do ano.
