A PlatinumGames foi uma das primeiras desenvolvedoras que eu decidi acompanhar, quando percebi que os excelentes Bayonetta e Vanquish foram feitos pela mesma empresa. Esta é nossa análise Astral Chain, o mais recente jogo dos nossos amigos japoneses.
PLATINUMGAMES
Infelizmente, meu amor com a Platinum não durou muito. Depois de Vanquish, eu fui seco no Metal Gear Rising Revengeance. E eu sei que muita gente gosta deste, mas eu o achei deveras entediante. Daí veio um monte – UM MONTE – de porcarias. A maioria licenciada de marcas de terceiros. Tivemos jogos das Tartarugas Ninja, dos Transformers, e era um pior que o outro. Tão ruins, aliás, que eles nem estão mais disponíveis nas lojas do PS4 e Xbox One, onde saíram (na real isso aconteceu porque a licença dos personagens venceu, mas a falta de qualidade com certeza não ajudou na renovação).
A Platinum se tornou, pelo menos para mim, o equivalente gamer do Nicolas Cage. Tipo, um dia foi boa, mas faz tanto tempo que não é mais relevante. Até acho engraçado quando falam que o estúdio é conhecido por ação estilosa, uma vez que eles só fizeram dois títulos que foram bem sucedidos nisso.
Em 2017, veio o Nier Automata. Foi o primeiro deles em bastante tempo a ser muito elogiado. Mais uma vez, eu odiei. Astral Chain é a primeira IP original na qual a Platinum trabalha em muitos anos, e o jogo vem tendo seu ovo devidamente babado. Será que dessa vez a desenvolvedora voltaria às minhas graças? Sabe onde você descobre isso?
NA NOSSA ANÁLISE ASTRAL CHAIN: TAN-TAN-TAAAAN!
Eu poderia enrolar bastante para responder esta pergunta. Poderia escrever parágrafos e mais parágrafos sem dar minha opinião e concluir apenas no final. No entanto, eu não gosto de enrolações e, por causa disso, sem mais delongas, vou dizer o que achei de Astral Chain imediatamente… depois da imagem.
Eu gostei de Astral Chain. Muito. Isso corrobora minha teoria de que a Platinum manda muito melhor quando trabalha em uma marca própria do que quando fazem algo licenciado. Dito isso, este está muito longe do ápice de Bayonetta e Vanquish. É um excelente jogo, e vale ser adquirido por proprietários de um Switch, mas não é a melhor obra da desenvolvedora.
CORRENTINHA DE AMOR
O combate de Astral Chain é o que mais o diferencia de outros. Ele combina a ação tradicional de um hack and slash estiloso com jogos em que você joga como um summoner, estilo Overlord.
Isso porque você controla diretamente um herói ou heroína, mas este fica o jogo todo acorrentado em monstrões superpoderosos chamados de “Legion“. Estes monstros, que são inimigos dominados e escravizados, vão sendo adquiridos ao longo do jogo e vêm em cinco sabores.
Há, por exemplo, o legion “besta” que, apesar do nome, não é um idiota, mas um cachorrinho, capaz de rastrear personagens ou cavar em busca de itens. Outros são especializados em ataque à distância ou corpo a corpo, e todos têm utilidades específicas que vão além do combate.
O sucesso e a diversão em Astral Chain são diretamente dependentes do quanto você conseguir dominar seu legion. Há opções para jogadores casuais, em que basta chamá-los e deixá-los lutar, mas é claro que é muito mais recompensador se você se envolver mais. Dá para fazer ataques sincronizados, golpes especiais e muito mais.
Talvez o mais bacana seja a corrente que prende o jogador nos monstros domados e dá nome ao game. Esta se envolve diretamente no gameplay. Por exemplo, se um inimigo avançar na sua direção, você pode colocar a corrente na frente dele, fazendo-o tropeçar e ficar vulnerável. Outra opção é rodear os desafetos, o que os deixa amarrados por alguns segundos.
Isso tudo faz com que a ação de Astral Chain seja absurdamente complexa. De novo, dá para você jogar casualmente, no estilo de um easy automatic do Devil May Cry, mas é óbvio que esta não é uma opção para quem quiser realmente saborear tudo de bom que o jogo oferece. Estes vão precisar aprender a jogar. Admito que eu mesmo não uso todo o arsenal existente. Tem coisas, como parries e técnicas mais avançadas que são, sinceramente, avançadas demais para mim.
INVESTIGANDO COM CARINHO
Astral Chain não é simplesmente um jogo de ação, como Bayonetta. Um dos pilares de seu gameplay é a investigação. Nestes momentos, você deve analisar pistas espalhadas pelo cenário e conversar com NPCs para conseguir dicas e saber como prosseguir. Felizmente, a investigação ainda é muito boa.
Infelizmente, como é padrão nos jogos modernos, Astral Chain traz também muita enrolação. Tem muita coisa aqui que só existe para aumentar a duração – que é considerável (durou 35 horas para mim).
Um ótimo exemplo é um capítulo que vem depois de uma cena de ação absurdamente épica. Nesta fase, sua missão é voltar para o mesmo lugar e limpar a bagunça. O resultado é um capítulo inteiro repleto de minigames, com objetivos como cavar 10 buracos em 60 segundos, por exemplo. Tem até um puzzle pentelho envolvendo mover veículos para liberar uma linha reta, igualzinho a um que estava em Nier Automata e envolvia movimentar caixas.
Esta fase é um bom exemplo porque é um capítulo todo só de enrolação, mas praticamente todas as missões têm trechos com pentelhações do tipo, que tiram a atenção do que o game tem de melhor. A coisa é bem mais grave na segunda metade, quando a quantidade de missões secundárias dá um salto enorme, deixando a história principal em segundo plano.
Todos os capítulos também envolvem um retorno para a base, onde você pode conversar com os coleguinhas, estocar em itens e customizar seus personagens. Aí vai de cada um. Sei que tem gente que gosta disso, mas eu sinceramente achei um saco ficar analisando dúzias de “abilities” diferentes coletadas nas fases para escolher o que equipar em cada legion. Isso, claro, está aqui porque foi acordado na convenção de Genebra que não é mais permitido fazer um jogo em 2019 sem loot, mas poucas vezes senti isso tão desnecessário quanto aqui.
SWITCH DO CORAÇÃO
Por ser um exclusivo de Switch, obviamente não dá para comparar os gráficos de Astral Chain com God of War, mas a boa notícia é que ele abunda estilo. O jogo todo é muito colorido, brilhante e cheio de faíscas. As cenas de ação são bagunçadas o suficiente para você não saber exatamente o que está rolando, mas empolgantes o suficiente para arrancar um número plural de “hell, yeahs”.
Ainda sobre os gráficos, o visual é bem bacana quando você está nas cidades, mas em quase todas as fases há um trecho em que você passa por um portal. E o outro lado do portal é sempre igual. Na primeira vez, é bacana. Na 18ª, já cansou. Lembra aquela repetição do mesmo cenário em Devil May Cry 5? É tipo aquilo.
Outro lado bom é que, apesar de ter sidemissions e alternar ação/investigação/bate-papo, Astral Chain não é mundo aberto. Ele é um jogo linear divididos em fases. Você encontra as sidemissions no meio do caminho e pode escolher parar para fazê-las (o que vai no mínimo dobrar a duração do jogo) ou continuar com a história. Isso faz com que Astral Chain não seja um jogo de ação tão focado quanto Bayonetta, mas sem dúvida é bem mais focado do que um tradicional RPG em mundo aberto. E se tem algo que o mundo dos games precisa atualmente é de foco.
“Precisamos de mais jogos assim” é uma boa forma de resumir esta análise. Não sei você, mas eu sinto muita falta de hack and slashs. Astral Chain acaba pecando por ter muita gordura, muito conteúdo que não precisava existir, mas quando ele está focando no que faz bem, sai de baixo. Astral Chain mostra a Platinum de volta no caminho certo. Vamos esperar que eles saibam focar melhor seus esforços na próxima vez, e talvez teremos algo realmente especial. Neste momento, é seguro dizer que a PlatinumGames voltou às minhas graças. Vejamos como o futuro se desenrola.