A cura para o caos

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No dia 27 de janeiro deste ano, acordei e me dirigi ao trabalho, para o que eu achei que ia ser mais um dia normal e monótono. Não foi. Enquanto fazia café na cozinha da empresa, liguei a televisão e fiquei sabendo do incêndio da boate Kiss, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

Sendo bastante sincero, eu não me comovi com o caso. Senti um pouco de dó por causa dos jovens e suas famílias, mas eu sou um cara bastante conformado com a morte e de que muitas vezes ela é inescapável. Como naquela hora a TV estava falando somente do incêndio em si, achei que tinha sido alguma daquelas trágicas peças que o destino prega: algum holofote caiu, um raio atingiu a boate, alguma coisa que não deveria explodir acabou explodindo. Quem dera fosse tão simples assim.

Aos poucos, os fatos foram revelados: um imbecil acendeu um sinalizador em um local fechado, revestido de espuma acústica, um material altamente inflamável. Não é preciso ser nenhum gênio para saber porque isto é uma péssima ideia, afinal, creio que todos nós conhecemos aquela velha canção.

Mas o que mais me chocou foi saber que o dono da boate, ao saber da confusão, mandou selar a porta, a única saída do local, para as pessoas não saírem sem pagar. Em sua defesa, ele disse achar se tratar de uma briga e que as pessoas se aproveitariam disso para causar o caos e saírem sem dar seu dinheiro a ele, que já havia lucrado bastante colocando mais gente do que deveria dentro de um estabelecimento com alvará vencido.

Comecei o texto contando a história da boate Kiss porque este é o mais recente de uma série de acontecimentos brutais e bizarros que ocorreram no Brasil durante os últimos meses: uma grávida de oito meses é assaltada e morta. Uma garota é estuprada por seus próprios colegas de trabalho e sua psique é destruída até ela cometer o suicídio. Uma mulher faz o marido em pedaços e esconde seu corpo em malas. E, quando paro para refletir sobre estes eventos, não consigo deixar de crer que a culpa disso tudo é da impunidade.

“O HOMEM CIVILIZADO É MAIS CRUEL QUE O SELVAGEM, POIS SABE QUE PODE FAZER O QUE QUISER SEM TER SEU CRÂNIO DESPEDAÇADO”

A citação acima foi parafraseada do conto A Torre do Elefante, uma das clássicas aventuras de Conan, o Bárbaro, e serve como metáfora para refletir o atual estado da criminalidade no Brasil.

A nossa política de “sermos bonzinhos e extremamente tolerantes” acabou por criar pessoas que não têm o menor dos escrúpulos. Some isto a policiais desmotivados com a risível quantia que ganham para arriscarem suas vidas todos os dias e políticos corruptos que criam leis que protegem seus próprios interesses obscuros, e o que temos é o caos instalado.

Por exemplo, no caso do incêndio de Santa Maria, por que alguém continuaria com um estabelecimento funcionando com o alvará vencido? Isto pode não ser um crime grave, mas ainda assim é um crime que, indiretamente, custou muitas vidas.

O caso do estupro da estágiária é algo que me intriga ainda mais. O que leva uma pessoa a estuprar? A sociedade que nos bombardeia com imagens sensuais? O vestidinho curto que as meninas usam? A bebida alcoólica que deixa os outros com o julgamento deturpado? Engraçado, eu vivo nessa mesma sociedade, vejo os mesmos vestidos, tenho um barril no lugar do fígado e, de quebra, sou tímido pra caramba com garotas (algo que eu duvido que o estuprador do caso acima fosse). E posso dizer com todas as letras que eu jamais estupraria alguém. Sob hipótese alguma. Então por que o estuprador fez o que fez?

Se você perguntar para cada uma das pessoas que fazem algo contra a lei o porquê de elas fazerem isso, a resposta será a mesma: “porque não dá nada”. O cara sabe que pode fazer o que quiser sem ser devidamente punido por isso. Ninguém mais teme em ir para a cadeia, e com razão. Um julgamento leva anos para acontecer, tempo mais que suficiente para um acusado arranjar e forjar todo tipo de desculpa.

E mesmo que o réu seja sentenciado à prisão, se tiver dinheiro, poderá viver em condições de dar inveja a muitas famílias brasileiras. Se for um coitado sem oportunidade na vida, viverá em celas congestionadas sem o mínimo de higiene, criando contatos com criminosos piores do que ele foi um dia. Por influência ou por promessas de riquezas com a qual ele jamais sonhara, quando este coitado sai da prisão, sai pior do que voltou.

“EM UMA HORA DE ESCURIDÃO, O CEGO É O MELHOR GUIA. EM UMA ERA DE LOUCURA, PROCURE UM LOUCO PARA LHE MOSTRAR O CAMINHO”

Você que está lendo este texto provavelmente imaginou que ele acabaria por ser a favor da pena de morte. A verdade é que estamos em um ponto em que nem a pena de morte resolveria.

A pena de morte é um processo relativamente frio e burocrático, que envolve julgamentos, períodos de cadeia (que eu expliquei no parágrafo anterior) e uma morte relativamente calma, com a utilização da injeção letal, vista por poucos. Em outras palavras, não chocaria. No máximo, só faria alguém que comete um crime pensar “ah, que se dane, eu vou morrer mesmo”, e resolver transformar um “simples” assassinato em algo pior ainda. E eu sei que há centenas de coisas piores do que apenas matar uma pessoa, mas não quero imaginar nenhuma delas.

O que nós precisamos é de uma solução suja (porém honrada), barulhenta e brutal, para que todos vejam, ouçam e entendam o recado. Não precisa ser algo cruel, ou mesmo mostrar uma pilha de cadáveres na televisão. Não precisamos colocar cabeças nas muralhas das cidades. Mas é necessário que o cidadão comum, de qualquer classe social, saiba exatamente que algo está sendo feito, para pensar duas vezes antes de sair da linha. E que, quem sair da linha, vai tomar um belo de um corretivo. Sem desculpas, sem julgamentos, sem regalias. É a simples lei do pegou, já era. Por algum motivo que eu não compreendo, este tipo de abordagem realmente assusta as pessoas. Mais do que a pena de morte. E como diria Arya Stark, “o medo corta mais profundamente do que as espadas”.

A princípio, isto pode parecer loucura e extremismo, mas, do jeito que eu vejo, é a única forma de voltarmos a ter um pouco de sanidade no nosso país. E sim, tirar uma vida é algo horrível. Eu nunca disse que era lindo e maravilhoso. Mas a verdade é que a própria história nos ensina que às vezes isso é preciso. Afinal…

“SE NINGUÉM TIVESSE PEGO EM ARMAS E COMEÇADO A TIRAR VIDAS, EU ESTARIA VESTINDO UMA CAMISETA COM UMA SUÁSTICA”!

Matar outro ser humano não é algo agradável. Eu mesmo nunca vi nem ao menos a vida esvair dos olhos de uma vaca (e olha que eu já morei a menos de um quilômetro de um matadouro), quanto mais de um ser humano. Mas a partir do momento que uma pessoa tira a vida da outra sem ser em autodefesa ou realizando um desejo de eutanásia, ele violou uma lei, violou uma regra, violou aquilo que nos torna humanos, e por isso deve pagar.

Você pode ser um pacifista convicto, amigo delfonauta, mas é fato que se a segunda guerra mundial não tivesse ocorrido, nós estaríamos vivendo sob a bandeira de Hitler até hoje. E, por mais cruel que seja dizer isto, se você for descendente de judeus ou de negros, provavelmente nem estaria vivo.

E a Segunda Guerra foi, literalmente, uma batalha pela liberdade, onde homens livres pegaram em armas e lutaram com sua vida contra loucos genocidas que queriam impor a sua ordem ao mundo. Claro, toda essa poesia se foi quando os malditos estadunidenses resolveram jogar duas bombas atômicas em um país rendido, mas eu acho que este terrível evento não deve encobrir os feitos dos heróis que morreram por nós.

Hoje, porém, os valores estão invertidos. Não são mais loucos totalitaristas que querem impor a sua visão de organização sobre nós, mas sim psicopatas sádicos que matam e torturam a bel-prazer por terem liberdade demais e punição de menos. E, infelizmente, precisamos de um pouquinho de totalitarismo, violência e medo para consertar isto. Afinal, são os criminosos que deveriam temer a lei e não os cidadãos que deveriam temer os criminosos.

NÃO DEIXE DE LER:

– Não perca a outra parte do debate. Leia a resenha de A Hora Mais Escura, que inspirou o Lucas a escrever o contraponto que você acabou de ler.