Eu sou um cara muito chato. Exemplo é o título desta crítica Infiltrado. O Guy Ritchie fez uma carreira de décadas com filmes autorais, mas é só ele fazer um longa comercial, motivado unicamente por dinheiro, que eu vou sempre me referir a ele por isso. Aliás, lembra do Michel Gondry, diretor de Besouro Verde? O caso dele é ainda mais divertido sendo que o filme em questão veio logo depois daquela coletiva em que o cara falou um monte de groselha sobre este mesmo assunto. Pelo menos Guy Ritchie, até onde sei, não soltou aquele papo elitista antes de se vender.
CRÍTICA INFILTRADO
A princípio, Infiltrado parece trazer Guy Ritchie de volta à sua zona de conforto: thrillers sobre crimes e criminosos. Porém, não se engane. Infiltrado não é um longa autoral deste cara que nos trouxe uma versão live action de Aladdin. Acredito que, em 2021, é seguro dizer que Cara Ricardinho não faz mais filmes originais. Infiltrado é um remake em inglês de Le Convoyeur. E é bem naquele esquema “estadunidenses não conseguem ler legenda”.
Porém, isso não significa que o filme seja ruim, ou que a mão de cineasta de Ritchie não seja mais capaz de produzir belas imagens. Infiltrado é um longa muito legal e intrigante. Não tem o humor dos primeiros filmes do diretor, mas se bobear, se analisado como cinema, é ainda melhor que eles.
DO CARA QUE TE TROUXE ALADDIN
Infiltrado é daquelas obras que é melhor ver sem saber muito sobre a história. Isso porque sua narrativa é construída de forma não linear e fica intrigante especialmente por isso. Então vou me manter vago por aqui.
Limitar-me-ei a dizer que tudo se inicia com um assalto (se liga quando o filme começar: é um plano sequência!) onde acontecimentos gerarão repercussões para todos os envolvidos.
Nosso amigo Jason Statham começa o filme trabalhando em uma empresa especializada em transportar muito dinheiro. A função dele é proteger o dinheiro, e garantir que este chegue a seu destino. Mas é claro, esta é uma função arriscada. Coisas vão acontecer. E tal.
POR QUE O JASON STATHAM NÃO ESTAVA EM ALADDIN?
Infiltrado não é um filme de ação. Muito já se falou sobre Guy Ritchie ser um pastiche inglês do Tarantino. Em matéria de gênero, é por aí. É uma história intrigante, na qual boa parte dos personagens pode ser considerada vilã – ou, pelo menos, bandidos. Quem tem a envergadura moral é algo discutível, porém é claro que o longa tem um protagonista e um final feliz.
A direção é bem estilosa, cheia de planos bem pensados que contribuem para a história de forma não óbvia. O mais legal é ver como as peças vão se encaixando, construindo uma narrativa fragmentada, mas envolvente. Admito que é tanto vai e tanto vem, que eu me perdi em alguns momentos – em especial, não peguei o motivo pelo qual a turma do Statham queria saber se o caminhão ia virar para a direita ou esquerda – então até gostaria de ver uma segunda vez e tirar a teima. Será que eu me perdi mesmo ou a coisa simplesmente não foi desenvolvida adequadamente?
Quanto a isso, o júri ainda vai decidir. Porém, eu posso dizer sem medo de errar que Infiltrado, apesar do título nacional genérico (e Wrath of Man é um nome tão legal!) está longe de ser genérico. Trata-se de um longa envolvente e divertido, que vale a pena ser visto no cinema.