Algumas semanas atrás eu publiquei uma crônica relatando minha experiência jogando Mass Effect pela primeira vez em 2021. Depois de alguns dias de pausa, durante os quais joguei Vader Immortal e Ninja Gaiden 3, era hora de retomar a aventura da minha Comandante Shepard e experimentar Mass Effect 2.
E olha, eu sabia que ia gostar mais de Mass Effect 2. Pelas coisas que já tinha lido sobre a série e até pelos comentários feitos pelos meus queridos leitores aqui no site e no Facebook, eu já estava preparado para isso. E mesmo assim não esperava que a mudança fosse tão radical. Coleguinha do coração, eu A-DO-Por-Satanás-REI Mass Effect 2.
MASS EFFECT 2 EM 2021
Embora eu tivesse interesse em conhecer Mass Effect quando joguei o primeiro, devo dizer que jogá-lo me deu a sensação de trabalho, de obrigação. Eu fiquei muito entediado durante quase toda a campanha e terminei o mais rápido possível porque me faltava saco. Durante toda sua duração, eu queria que ele fosse um filme ou uma série de TV, não um videogame. Afinal, ele tinha uma boa história e um mundo extremamente detalhado, mas pouca quantidade de gameplay. E, quando tinha gameplay, era ruim.
Absolutamente tudo melhorou em Mass Effect 2. Este é um jogo extremamente caprichado em todos os aspectos. O que já era bom (personagens e mundos) continuou bom. O que era ruim (gameplay) ficou bom. Mesmo o timing melhorou. Foram poucos os momentos em que eu sentia que o jogo me obrigava a ficar conversando ao invés de me deixar jogar. Agora, quando eu parava para conversar, é porque eu queria fazer isso.
Talvez o maior elogio que eu possa fazer para Mass Effect 2 é que ele se utiliza dos superpoderes que apenas os videogames têm. E isso o deixa muito melhor. Ele não tenta ser um filme. Ele quer ser um jogo e, assim, cria uma experiência que só seria possível com um controle na mão.
UM COMANDANTE EM TRÊS JOGOS
Eu já joguei muitas séries. Com certeza você também. Porém, não me lembro de ter visto algo como Mass Effect, em que a história se adapta a suas escolhas, e mesmo assim pequenos detalhes continuam sendo citados no jogo seguinte.
Por exemplo, no começo do primeiro jogo, você escolhe seu background. No caso, eu escolhi que minha protagonista cresceu no espaço e já começa a história sendo uma heroína de guerra. São coisas pequenas, que eu esperava que fossem citadas em momentos pontuais de Mass Effect 1 (e foram). Para minha surpresa, no entanto, esses fatos continuaram sendo citados em Mass Effect 2.
Personagens que poderiam ter morrido, mas que através das minhas escolhas sobreviveram, voltam a aparecer. Talvez o mais importante seja Wrex, o Krogan que poderia ter morrido em Virmire (e que no meu jogo não morreu). Porém, você volta a encontrar genéricos que salvou durante fases de ação. Mass Effect 2 cita literalmente mais coisas que aconteceram na minha primeira campanha do que eu consigo me lembrar. E isso é muito impressionante, especialmente considerando que originalmente eram jogos diferentes, não um único pacote como esta Legendary Edition.
É visível que a Bioware desde o início pretendia contar sua história em três partes, e se preparou para tal, técnica e criativamente. E isso deixa ainda mais impressionante o quanto o jogo melhorou.
BANGUE-BANGUE, KABUM-KABUM
No primeiro jogo eu não usava os poderes porque não sabia o que eles faziam. Eu não usava cobertura porque dava muito trabalho usá-la. Aqui, minha Comandante Shepard solta tiros de energia, usa a força e muitos outros poderes bacanudos. E se eu não uso cobertura é só porque sou confiante a ponto de metralhar os meliantes sem me esconder, não porque os controles são ruins.
Os tiroteios do primeiro para mim eram um Gears of War que não funcionavam direito. O segundo foi uma combinação de tiros, movimentação e superpoderes que estava mais para um Bioshock melhorado. Apesar de a história continuar exatamente as escolhas que eu fiz no jogo anterior, o que mais me impressionou mesmo foi quão absurda foi a melhora de gameplay. Este também tem um foco bem menor em equipamentos e estatísticas, o que é sempre positivo. Especialmente porque ficar equipando meu time inteiro depois de cada missão era um saco.
Eu joguei o primeiro fazendo o mínimo necessário. Em Mass Effect 2 eu fiz todas as sidemissions, DLCs e ainda queria mais. Fazia tempo que um jogo não me envolvia tanto em todos os aspectos quanto este. E apesar do tédio que foi jogar o primeiro, ainda assim sinto que foi um tédio que eu precisava encarar, pois meu envolvimento com Mass Effect 2 não teria sido tão grande se não o tivesse jogado.
ABERTO E LINEAR
Mass Effect 2 é um jogo aberto e linear ao mesmo tempo. Explico: logo após as missões introdutórias, a Bioware fala “aqui, toma umas 10 missões. Faz na ordem que você quiser”. Daí, quando você está quase limpando o mapa, a Bioware popa de novo, dizendo “surpresa, playboy! Olha mais 10 aqui!”.
Apesar de a história poder ser vivenciada na ordem que você escolher, cada uma dessas muitas missões acontece de forma linear. Ou é uma cidade onde você precisa conversar com personagens específicos, ou é uma fase de ação, em que o objetivo é chegar do outro lado. Mesmo as sidemissions são basicamente assim e, justamente por causa desse esquema mais contido, eu tive vontade de fazer tudo, pois dificilmente sentia que estava perdendo tempo vagando sem objetivo.
HISTÓRIA
O mundo e os personagens ainda são fantásticos. Porém, a história de Mass Effect 2 não anda muito o conflito entre a civilização e os Reapers. O primeiro jogo fez um ótimo trabalho em apresentar o problema, mas este basicamente parece se preparar para o clímax na terceira parte.
Literalmente todas as missões principais envolvem visitar planetas com o objetivo de recrutar novos companheiros. Cada recrutado vem com a sua missão. Recrute todo mundo, faça a missão de todos eles (que são histórias autocontidas) e daí é hora de terminar a campanha, na famosíssima “Missão Suicida“.
Nenhuma dessas missões é ruim, mas elas são como capítulos de um livro de contos. Cada personagem tem uma motivação para entrar na equipe e um conflito que você deve resolver. E isso é 90% da campanha. E daí tem os DLCs.
OS DLCS DE MASS EFFECT 2
Esta Mass Effect Legendary Edition tem um problema grave: ela libera os DLCs no começo da história, sem falar que são DLCs. E os melhores deles acontecem depois da campanha, inclusive referenciando coisas que literalmente ainda não tinham acontecido no meu jogo.
Alguns deles, como o Lair of the Shadow Broker, são fantásticos. Mas tem também um monte de conteúdo que simplesmente não deveria existir. Refiro-me especialmente ao pacote Firewalker
O DLC em questão te dá uma navinha e manda explorar planetas aleatórios em busca de relíquias. Estas nada mais são do que colecionáveis. Então o DLC inteiro envolve cinco missões onde você fica procurando e pegando algumas centenas de porcarias. E isso foi originalmente vendido. Mais conteúdo nem sempre é melhor. E este é um caso literal em que Mass Effect 2 fica pior por ter essas missões. E digo isso mesmo tendo acesso a esse DLC sem custo extra, por ter jogado na Legendary Edition.
Firewalker é o tipo de conteúdo que as desenvolvedoras insistem em colocar porque é ridiculamente fácil de criar, mas acrescentam várias horas de “jogo”. O problema é que, ao fazer isso, tornam o pacote todo pior. Pelo menos os controles da navinha são bem melhores que os do Mako do primeiro jogo, mas até aí… bom, acho que o único jogo que eu vi com controles piores que os do Mako foi o famigerado I Am Bread.
LINEAR X ABERTURA
Particularmente, eu preferia que Mass Effect tivesse uma estrutura menos aberta. Eu não acho legal ter 10 missões e poder escolher a ordem. Acho que tanto a narrativa quanto o gameplay ficam melhores com uma estrutura mais linear. Pelo menos todas as fases são muito legais, apesar de contarem histórias autocontidas e não avançarem a trama geral.
Cito como exemplo a história da Jack (sim, apesar do nome, ela é mulher). Vou contar como é a missão dela, então se não quiser saber, pule os dois próximos parágrafos.
Você vai a uma prisão, onde vai recrutar um prisioneiro que foi literalmente comprado pelo seu chefe para ajudar na missão. O início da fase envolve andar pela prisão, conversando com guardas e prisioneiros, onde você fica sabendo como tudo funciona, bem como a economia particular de prender seres perigosos e vendê-los para quem pagar mais.
É um belo setup, que culmina no momento em que você descobre ser uma armadilha. O diretor da cadeia queria prender Shepard, pois ela é mais valiosa como prisioneira do que como cliente. Obviamente, não dá para aceitar isso. Começa tiroteio. No meio da sua fuga, você liberta os outros presos, inclusive Jack, que começa a destruir tudo, mostrando ser ao mesmo tempo poderosa e perigosa. A fase termina, claro, com Jack entrando para o seu time, mas todo o caminho para chegar nisso é MUITO legal e envolvente.
O EFEITO DA MASSA DOIS
E essa foi minha experiência com Mass Effect 2. Não me lembro de outra franquia em que eu não gostei do primeiro exemplar, mas cujo segundo fez de mim um fã. Foi o caso aqui. Estou bem animado para ver como a história termina em Mass Effect 3. E sim, estou bem ciente das polêmicas envolvendo o final.
Tem uns jogos que preciso cobrir antes de ter tempo para iniciar Mass Effect 3, mas muito provavelmente ainda vou voltar a essa série para concluí-la. Ei, se pá até dou um jeito de jogar o Mass Effect Andromeda em algum momento distante.