Após o lendário diretor Hayao Miyazaki anunciar sua aposentadoria, o Estúdio Ghibli anunciou que suspenderia sua produção de animações, o que levou muita gente a entrar em polvorosa, acreditando que a lendária produtora japonesa estaria fechando suas portas.
Pouco depois, eles se pronunciaram para acalmar os ânimos, dizendo que a parada seria temporária, ainda que por tempo indeterminado, para estudar qual caminho seguiriam dali para a frente, mas por enquanto cabe a este As Memórias de Marnie o honroso posto de última animação do estúdio até o momento. Seja como for, mesmo como despedida temporária, serve como um belo “até logo”.
Anna é uma menina melancólica que parece desconfortável com tudo e todos ao seu redor. Para ajudar a melhorar suas crises de asma, sua mãe lhe manda para passar uma temporada com os tios numa vila distante e isolada. Lá, ela imediatamente fica fascinada por uma mansão abandonada. Ou melhor, aparentemente abandonada, visto que logo ela conhece Marnie, a menina que mora lá.
A partir da nova amizade, Anna vai montando as peças do mistério que envolve a presença de Marnie, bem como vai entender melhor tudo que a incomoda em sua própria vida, ajudando-a no processo de superar seus próprios problemas e neuras e se tornar uma jovem mais de bem com a vida.
É um drama sensível sobre o processo de crescimento de uma pré-adolescente, que se utiliza muito bem de elementos lúdicos para completar o enredo. Desta forma, ele fica entre o fantasioso e o psicológico, visto que o filme nunca escancara se Marnie é uma presença sobrenatural ou uma manifestação dos desejos reprimidos de Anna, trafegando com desenvoltura entre essas duas possibilidades, até finalmente atingir sua resolução.
A animação é lindíssima, com belos cenários campestres lindamente coloridos e grandes planos abertos que acentuam ainda mais a beleza da técnica. Os personagens também são muito bem construídos, com destaque para os tios de Anna, que são bastante simpáticos.
No mais, a história é muito bem contada, com uma sensibilidade impressionante, sem nunca cair no piegas, e quando a história vai se aproximando de seu desfecho, você fica com vontade de que ela não acabasse, de tão bem estruturada e apresentada que ela é. Um dos raros casos onde se deseja que uma película fosse mais longa e não o contrário, como comumente ocorre.
Após assisti-lo, é fácil entender porque os fãs ficaram tão desolados com o anúncio do hiato de produção do estúdio. Resta torcer para que esse tempo inativo não seja muito longo e que eles retomem sua produção de conteúdo novo em breve. Enquanto isso, As Memórias de Marnie possui qualidade suficiente para ser o belo último capítulo momentâneo da história do estúdio e merece ser visto não só pelos fãs do Ghibli, como pelos apreciadores das boas animações em geral.