Ash vs Evil Dead – 1ª temporada

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Fãs do cinema de terror mais podreira e sem noção sem dúvida devem conhecer e gostar da trilogia Evil Dead. O primeiro longa, de 1981, feito de forma totalmente independente, com pouquíssimo dinheiro e recursos, porém com muita criatividade, colocou o diretor Sam Raimi no mapa de Hollywood e transformou o protagonista Ash, interpretado por Bruce Campbell, em ícone cult.

O segundo filme, de 1987, é a mistura perfeita entre terror e comédia pastelão e o terceiro, de 1992, parte totalmente para a fanfarronice. Seja como for, durante anos cogitou-se retomar a cinessérie, principalmente quando aconteceu o remake do primeiro filme. O quarto longa protagonizado por Ash acabou não rolando nas telonas, mas ele encontrou uma nova casa na televisão e em novo formato, transformado no seriado Ash vs Evil Dead.

Eu não sei quanto a você, mas ao lado de Demolidor, esta foi a melhor coisa que estreou nas telinhas em 2015 (ainda que o episódio final da temporada só tenha ido ao ar no começo de 2016). Não sei se é porque eu adoro a franquia e acho Bruce Campbell um dos atores mais divertidos (e subestimados) de todos os tempos. Ou se é porque simplesmente eu goste de uma sangueira exagerada ao extremo, mas essa série proporcionou, a cada um de seus 10 episódios desta primeira temporada, 30 minutos de puro hell, yeah.

EL JEFE

Cronologicamente, a série cinematográfica sempre foi complicada, com o segundo filme sendo mais um remake do primeiro do que uma continuação propriamente dita. Posto isso, a série parece levar em conta apenas o segundo filme (incluindo até algumas cenas dele como flashbacks em alguns episódios), embora a personalidade de Ash seja mais próxima ao panaca completo que ele vira no terceiro longa.

Seja como for, o negócio se passa 30 anos após os eventos de Evil Dead II. Ash agora é um cara de meia idade que mora num trailer e continua com o mesmo emprego sem perspectiva como estoquista numa loja de departamentos. Sua única alegria é ir a bares pegar mulheres utilizando cantadas toscas e histórias enfeitadas sobre como perdeu sua mão direita.

E não é que, durante uma noitada com uma garota regada a muita maconha, ele comete a imbecilidade de ler novamente uma passagem do Necronomicon, o livro dos mortos, e novamente desperta o mal sobre a Terra? Agora, ao lado de seus colegas de trabalho Pablo (Ray Santiago) e Kelly (Dana DeLorenzo), terá de se virar para corrigir a burrada e finalmente acertar as contas com os eventos iniciados 30 anos antes.

A impressão inicial não poderia ser melhor, com várias referências e homenagens à trilogia, especialmente ao segundo filme, como já ficou estabelecido. A estética também é a mesma dele, equilibrando com maestria terror e comédia, indo de momentos realmente assustadores, passando pela comédia pastelão e, claro, pelos absurdos proferidos por Ash, o tipo de protagonista hilário que se acha a última bolacha do pacote, mas na realidade não passa de um velho relaxado, preconceituoso e sem qualquer noção ou semancol, o que sempre rende situações deveras engraçadas.

ATIRE PRIMEIRO, NUNCA PENSE

Outra coisa que impressiona é o nível de violência gráfica. Não pense que é porque Evil Dead foi para a TV que maneiraram no gore. Pelo contrário, o canal deu toda a liberdade e a série é extremamente violenta, de forma sempre cômica, com muitos momentos de puro splatter. Este é o tipo de programa onde você tem de enxugar o sangue da tela de seu televisor ao final de cada exibição.

Decapitações, desmembramentos e os personagens sendo invariavelmente banhados por litros de sangue falso são uma constante, sempre feito das formas mais criativas e, o melhor, com efeitos práticos, que dão um charme a mais à produção, especialmente porque nas poucas vezes em que ela utiliza CGI, o resultado é bem tosquinho.

A decisão de dar uma dupla de sidekicks ao protagonista também se mostra acertada, e a interação entre Ash, Pablo e Kelly funciona muito bem, com diálogos divertidos e até uma boa carga dramática, visto que Ash sabe que todo mundo próximo a ele costuma acabar morrendo horrivelmente, o que o deixa constantemente preocupado com a segurança de seus jovens amigos.

A série acerta também ao não ficar só na luta contra os chamados deadites (pessoas e cadáveres possuídos pelas forças do mal) e alguns dos melhores episódios são justamente os que fogem desse padrão, como o terceiro, que apresenta um demônio de design extremamente caprichado (em meia hora que coloca 11 anos inteiros de Supernatural no bolso) e o lisérgico episódio onde Ash faz uma viagem espiritual regada a drogas e vemos o que se passa em sua cabeça e qual o seu maior desejo.

VOCÊ NUNCA VIU UM CARA COM BRAÇO DE SERRA ELÉTRICA ANTES?

Embora a qualidade geral da série seja excelente, ela apresenta alguns probleminhas e coisas que ainda podem melhorar. Talvez o principal seja justamente a questão da direção. Sam Raimi assina apenas o primeiro episódio, com seu estilo único, ângulos de câmera inusitados e montagem cinética. Os outros diretores não conseguem imprimir o mesmo estilo marcante aos outros episódios, embora eles até copiem coisas como a tradicional câmera do ponto de vista do mal, planando em velocidade pelos ambientes.

Não que a direção geral seja ruim. Pelo contrário, é muito competente em todos os episódios. Mas é inegável que se Raimi tivesse dirigido todos os episódios, a coisa poderia ser ainda melhor. Afinal, se Steven Soderbergh pode dirigir todos os episódios das duas temporadas de The Knick, Sam Raimi poderia comandar os 10 desta temporada inicial de AvED.

Alguns episódios também dão uma caída de ritmo, o que numa série tão curta é algo que não deveria acontecer. Me lembro especialmente do sexto, que veio após uma sequência particularmente excelente de capítulos, e não manteve a pegada, só engrenando mesmo no finalzinho, que quase se redime com uma das sequências mais splatter de toda a série.

Como a segunda temporada foi confirmada antes mesmo do primeiro episódio ir ao ar, fica claro que eles tiveram de alterar o desfecho originalmente planejado, deixando as portas abertas para a vindoura temporada. Isso cria um último episódio anticlimático, embora em total acordo com a personalidade extremamente idiota do Ash, mas que não deixa de ser um certo balde de água fria no que se anunciava como a grande batalha da série.

Mesmo assim, esses defeitos são pequenos e não tiram o brilho do seriado. Os diálogos hilários, as situações absurdas tratadas da forma mais natural possível e a violência desenfreada e extremamente cartunesca, amparados pelo grande carisma de Bruce Campbell, que consegue transformar o envelhecido Ash num dos mais improváveis heróis da televisão, mais que compensam esses pormenores, transformando Ash vs Evil Dead em excelente entretenimento não só para os saudosos fãs dos filmes antigos, mas também para toda uma nova geração de apreciadores da mistura entre terror e comédia. Ash está de volta em grande estilo. Hail to the king, baby!

CURIOSIDADES:

– No Brasil, até o fechamento desta matéria, a série ainda não tem data definida para exibição. Sabe-se que deverá ser exibida por algum dos canais da Fox, com estreia nos primeiros meses de 2016 e só. Porém, na Argentina, você já pode assistir à temporada completa.

– A principal arma de Ash na verdade é uma motosserra e não uma serra elétrica, visto que ela funciona com combustível e não eletricidade. Contudo, desde que o The Texas Chainsaw Massacre original foi erroneamente traduzido por aqui como O Massacre da Serra Elétrica, convencionou-se a chamar dessa forma a ferramenta em questão.

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