Quem gosta da história da Segunda Guerra Mundial com certeza deve saber o que é Enigma, mas para os não aficionados, explico: era o método de codificação de mensagens criado pelos alemães, envolvendo uma máquina decodificadora (tipo uma máquina de escrever metida a besta) capaz de gerar bazilhões (números auditados pelo DataDelfos) de ajustes possíveis, o que a tornava um sistema considerado impossível de ser decifrado.
Alan Turing era o brilhante matemático inglês incumbido de decifrar o enigma (com o perdão do trocadilho) e assim tornar as mensagens alemãs interceptadas pelos aliados inteligíveis, mudando os rumos do conflito, e basicamente inventando o computador no processo. Como você já deve ter percebido, O Jogo da Imitação é a história de Turing e de sua tarefa aparentemente impraticável.
O filme segue a cartilha das cinebiografias baseadas em personagens ao estilo Sheldon Cooper, brilhantes no campo das ciências, mas com imensa dificuldade de entender e se relacionar com as pessoas. Tipo Uma Mente Brilhante, do Ron Howard, e tantos outros. Com certeza você já viu algum nesse estilo.
Se por um lado o tipo de história e sua condução não apresentam grandes novidades, seguindo o padrão já estabelecido pelo gênero, por outro é muito bem feito, tornando-o bastante interessante e bem agradável de se assistir, tanto por quem já conhece a história de Turing quanto para aqueles que serão apresentados a ela com o longa.
Sua grande força sem dúvida está no protagonista e na interpretação de Benedict Cumberbatch. Enquanto vemos a vida do matemático em três épocas distintas (sua juventude, o período da guerra, e em 1951), entendendo melhor seus dilemas e dramas pessoais, Benedito entrega uma performance sólida e sensível para um personagem que tinha grande potencial para descambar para o antipático.
Contudo, o ator consegue dosar muito bem as facetas do personagem para torná-lo extremamente simpático. Ainda assim, é preciso dizer que tanto o personagem quanto sua interpretação lembram muito o trabalho que fez no papel que o tornou famoso, o Sherlock Holmes da série de TV inglesa. Há muitos pontos similares entre estes dois trabalhos, para o bem (o que eu falei no parágrafo anterior) e para o mal (no caso, não sendo uma criação de personagem exatamente inédita para ele).
Outro ponto alto são os diálogos, a maioria bem construída e muito divertida, cheios da típica e sutil ironia inglesa. Bacana também o fato de que, embora grande parte da película se passe durante a guerra, o conflito é mero pano de fundo. Você não irá ver nada dos confrontos aqui. A ação rola mesmo numa fábrica de rádios no interior, com Turing e sua equipe (que inclui até o Ozymandias) quebrando a cabeça para decifrar o código. Isso ao menos dá uma abordagem diferente a uma trama ligada à 2ª Guerra.
Também choca por mostrar como o preconceito e a burrice humana conseguem passar por cima de qualquer feito que se possa ter conquistado, ao conferir um tratamento desumano a alguém só por ser diferente. Mas quanto menos você souber sobre isso (essa parte da história, pelo menos, eu não conhecia), melhor.
O Jogo da Imitação pode não ser um dos longas mais originais, mas ao menos conta sua história de maneira muito bem feita e apresenta uma faceta da Segunda Grande Guerra pouco explorada no cinema, por não ser tão adrenalinesca quanto a luta nas trincheiras. Prefere focar em um personagem importante de bastidores, resultando num trabalho muito bacana, bastante recomendado para quem gosta desse tipo de história. Vale a sessão.
CURIOSIDADE:
– Segundo o site especializado em árvores genealógicas Ancestry, o ator Benedict Cumberbatch e Alan Turing são parentes beeeeeeem distantes. Eles são primos de 17º grau. Eu nem sabia que existiam tantos graus assim.