Terra-Média: Sombras de Mordor

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Poucos jogos surpreenderam tanto os gamers este ano quanto este Terra-Média: Sombras de Mordor. Não, a surpresa não é pelo fato de o jogo ter saído aqui com o título traduzido, apesar de ser provavelmente o primeiro game com o qual isso aconteceu. A surpresa é que era um jogo do qual pouco se esperava e que acabou surpreendendo a todos.

Eu acabei colocando minhas sardentas mãos nele apenas em dezembro (o lançamento foi no final de setembro), então já sabia da sua fama de jogão e minhas expectativas estavam altíssimas. E finalmente é chegada a hora de contar aos meus fiéis delfonautas o que achei da grande surpresa de 2014.

COMECEMOS PELO COMEÇO

Aqui acompanhamos a história de Talion, um guerreiro de Gondor que teve a família assassinada em um ataque de Uruks. O pior é que não foi apenas sua esposa e seu filho que bateram as botas no ataque, mas ele também. Ele acaba ressuscitando preso a um espírito que lhe concede várias habilidades sobrenaturais. E agora é hora de você assumir o controle e chutar algumas bundas urukaias na Terra-Média.

As pessoas costumam se referir a Shadow of Mordor como um Assassin’s Creed com o combate dos jogos do Batman. A comparação faz sentido bem rápido, pois Talion tem a habilidade de escalar, mas a sensação é bem diferente do que a do Assassin’s Creed, até porque aqui é bem mais fácil. Para escalar uma torre, basta segurar o X e a alavanca na direção dela. Não é necessário procurar por lugares para segurar, como na série da Ubisoft. Claro, isso deixa um tanto menos interativo, mas o foco aqui não é em escalada.

O combate, por outro lado, pega bastante da fórmula do Bátima. Quadrado dá espadada, triângulo contra-ataca. Além disso, os golpes especiais são totalmente chupinhados do jogo do cruzado encapuzado. Tem um que mata direto um inimigo, outro que mata todo mundo que estiver caído e até uma sequência de espadadas que é bem parecida com o beat down do herói da DC.

Mas sabe que eu achei isso ótimo? Não só porque o combate da série Arkham é excelente, mas também porque ele criou uma nova fórmula, mais dependente de reflexos rápidos do que de decorar combos, e isso muito me agrada. O combate nos games do Batman e aqui são fáceis de aprender e difíceis de dominar, ao contrário dos de um Ninja Gaiden, por exemplo, que são tão complexos que eu ainda não os aprendi totalmente mesmo depois de ter terminado os três jogos.

E digo mais, gosto tanto dessa técnica que espero que isso se torne uma nova fórmula. Lá nas épocas de outrora, jogos em primeira pessoa eram chamados de “tipo o Doom”. Hoje, são FPS e abrangem muitos jogos totalmente diferentes entre si. Acredito que esse tipo de combate com um botão de ataque e um de defesa é bom o suficiente para se expandir para vários jogos e gêneros.

Além disso, cá entre nós, embora a inspiração seja óbvia, aqui o negócio é tão brutal e violento que você não se sente jogando com o Batman. E também é bem mais difícil e mais metódico.

SAINDO DO BÁSICO

Esses são os básicos. Se você quer uma geral do jogo, o tópico acima tem toda a informação necessária. Agora é hora de se aprofundar, e devo dizer, meu caro delfonauta, que a primeira impressão de Shadow of Mordor em mim não foi muito boa.

O tutorial, por exemplo, traz logo de cara um monte de informação, tudo muito rápido. Faltou timing, e minha primeira hora com o jogo foi bem confusa. Para você ter uma ideia, eu demorei muito para entrar na primeira missão, simplesmente porque os Uruks me matavam antes de eu conseguir chegar ao ícone dela. Este é um jogo de mundo aberto no qual o mundo é bem perigoso, e a stealth é uma necessidade, então não espere explorar Mordor sem precisar chutar uns traseiros.

O cartão de visita de um jogo sempre é o visual, e aqui os gráficos estão tecnicamente no nível do PS3 (eu estava jogando no PS4). As imagens parecem estar em baixa resolução, e os cenários não são tão detalhados e definidos. No entanto, artisticamente falando, o negócio é impressionante, pois é muitíssimo parecido com o visual dos filmes.

É aí que a coisa começa a melhorar, então vou até criar um novo tópico.

URUKS

Assim como nos filmes, cada um dos Uruks é diferente dos outros, todos têm nomes e personalidades distintas, o que é deveras impressionante. Tem um sistema aqui que faz com que um Uruk que te mate seja promovido nos exércitos de Sauron. Além disso, os Uruks estão constantemente se matando ou se ameaçando, o que aumenta o poder de alguns, mexendo nos rankings do exército.

No começo fiquei sinceramente impressionado com o fato de que cada um dos inimigos genéricos que me matava tinha um nome e uma aparência específica. Verdade, com o tempo, acabei vendo alguns se repetirem, mas existe uma grande variedade de modelos (cada um com formas de agir diferentes, não são apenas skins), o que talvez explique porque tecnicamente os gráficos ficaram tão simples.

Isso, que é muito legal, leva a um ponto que me incomodou bastante: quando você morre em uma sidemission, não tem a opção de tentar de novo. Ao invés disso, você é transportado para uma torre e tem que andar de novo até a fase, um estilo de gamedesign que era comum nos GTAs do PS2 e que há muito foi, pela benção de Odin, abandonado. Acontece que quando você morre, o tempo passa, e o exército de Sauron se movimenta, com alguns Uruks subindo de ranking e outros morrendo. Ainda assim, poderiam ter usado desse sistema sem abrir mão de checkpoints.

ESCALANDO

Uma coisa claramente inspirada por Assassin’s Creed é a necessidade de escalar algumas torres. A escalada é bem mais fácil aqui do que nos jogos dos assassinos crentes. Além disso, tem um número bem mais razoável de torres, o que não chega a tornar tão chato escalá-las. E caso você não queira escalar, não tem problema, pois elas não revelam o mapa, apenas os locais dos colecionáveis e sidemissions.

As sidemissions em si não são muito variadas e não acrescentam nada à história ou ao mundo do jogo. A maioria delas são desafios, como “mate 5 Uruks sem ser visto”, e vêm em três sabores: a adaga, para desafios de stealth; a espada, para os de porrada; e as do arco e flecha, para os de tiro. Eu até fiz cerca de metade deles, mas eles são tão arbitrários que não fiquei com vontade de fazer todos.

O outro tipo de sidemissions é de resgate, e consiste em salvar três prisioneiros em cada uma das fases. Existem 24 dessas missões, mas elas são todas praticamente iguais. Confira abaixo um vídeo comigo fazendo uma delas, que mostra bem a variação do jogo, passando do stealth para o combate.

UM PLAYGROUND VIRTUAL

Curiosamente, embora a história do jogo seja bem legal, as missões da campanha também não são assim tão boas. Muitas delas têm limite de tempo, o que ninguém gosta, e várias delas são naquele esqueminha do Assassin’s Creed de você simplesmente ficar andando e conversando com outro personagem. E assim como em Creed, o personagem anda sozinho. Além disso, a campanha é bem curta. Para você ter uma ideia, o jogo tem 20 missões, e na primeira vez que o rodei, fiz oito delas, o que me fez pensar que terminaria o jogo em duas ou três jogadas. Elas parecem ser apenas um tutorial para suas habilidades e para as coisas que você pode fazer no mundo aberto do jogo.

E é exatamente aí, estimado leitor, que está a genialidade de Sombras de Mordor. Se você ficar apenas nas missões e sidemissions, que é como eu costumo jogar games de mundo aberto, vai ficar com impressão de que está diante de uma boa ideia mal realizada. Isso porque a parte realmente divertida e única do jogo é brincar no seu mundo, não fazendo missões, mas criando seus próprios desafios. Tipo “será que eu consigo matar todos os capitães do exército do Sauron?”, ou então, se matar não for sua praia, você pode escravizar todos eles.

Não por acaso, vários dos troféus do jogo vão nessa linha, sugerindo desafios divertidos de serem realizados. E também não por acaso, a parte mais divertida das 20 horas que passei em Mordor foi tentando fazer dois dos troféus mais trabalhosos do jogo.

Um deles sugere que você deixe um genérico te matar para ele virar capitão. Depois disso, você deve ajudar o dito-cujo a virar War Chief (o ponto máximo que os Uruks chegam, depois de várias promoções) e só então matá-lo.

O outro troféu te desafia a escravizar cinco guarda-costas de um War Chief e daí, no meio de uma luta com ele, fazer todos o traírem ao mesmo tempo. Só que dificilmente um pintudão tem cinco guarda costas, o que faz com que você precise dominar outros capitães e comandá-los para eles virarem guarda-costas, o que cria uma missão de recrutamento, que você deve ajudar seu escravo a vencer.

Eu combinei os dois, fazendo com que um dos guarda-costas do War Chief fosse aquele genérico que me matou e comandando ele a trair seu chefe.

Parece complicado, e é mesmo. Só aí gastei algumas horas de jogo, mas eu recomendo que você vá atrás desses troféus também, não por causa dos troféus, mas porque é simplesmente muito divertido. É a coisa mais legal que eu fiz em Mordor e se você não usar sua criatividade para fazer esse tipo de atividade, talvez não goste tanto do jogo.

E como não poderia deixar de ser, é claro que eu fiz um vídeo do meu momento de triunfo, quando mandei os cinco guarda-costas traírem o War Chief e juntos matamos o dito-cujo, possibilitando que o genérico que me matou horas atrás assumisse seu posto, e finalmente fosse assassinado por mim. Bwa-haha! Confira:

E mesmo que você não esteja atrás de troféus, mas apenas caçando capitães, ainda é bastante divertido, graças ao excelente combate. Além disso, pode rolar alguns momentos marcantes. Eu estava lutando com um capitão, por exemplo, daí apareceu outro. A dificuldade aí subiu consideravelmente, então você pode imaginar meu desespero quando apareceu um terceiro. E além dos três capitães, ainda tinha um monte de genéricos me atacando, o que exigiu muita habilidade para eu conseguir sobreviver.

UM INTERTÍTULO SEM CRIATIVIDADE

Claro, existem também aqueles troféus básicos de “pegue todas as milhões de coisas espalhadas pelo mundo”, mas isso, como sempre falo por aqui, é algo que já deveria ter sido abandonado pelas desenvolvedoras.

Dando embasamento à minha ideia de que a história é um tutorial para brincar no mundo aberto, há o fato de que muitas habilidades legais (como a de comandar Uruks), são destravadas apenas no final da campanha. Além disso, eu terminei a história sem fazer um monte de upgrades.

Isso faz com que Sombras de Mordor melhore conforme você investe tempo nele. Logo, a primeira impressão fraca que ele causa é substituída pela tremenda diversão que você está tendo. A opinião sobre ele cresce ao longo do jogo.

Com isso, é uma pena que ele não tenha roubado outra ideia do Batman, aquela de criar um save separado para o New Game +, permitindo que o jogo seja recomeçado com todas as habilidades destravadas e dificuldade aumentada, mas mantendo todos os colecionáveis já coletados. Isso fez com que Arkham City fosse um jogo que merecesse ser jogado duas vezes, e é uma pena que não seja igual por aqui. Por mais divertido que tenha sido ir atrás daquele troféu do vídeo acima, eu não me vejo fazendo isso de novo.

A história curtinha (deve durar umas cinco horas apenas) deixa um gosto de quero mais, o que seria mais um motivo para um New Game +.

PECULIARIDADES

Tem algumas outras pequenas coisinhas que merecem ser comentadas. É possível montar em criaturas. Se liga em como foi quando eu montei um Graug:

Tem três chefes no jogo, e os três são bem legais. Curiosamente, a batalha final, que tinha tudo para ser épica, é reduzida a um quicktime event.

A trilha sonora é excelente, embora mal aproveitada. O game não toca músicas com muita frequência, mas são todas bem legais, repletos de corais pesados e fortes, que lembram as músicas do Therion.

E se, depois de brincar bastante no playground do jogo, você também achou que faltava mais conteúdo, especialmente missões de história, vamos torcer por uma continuação, pois o final dá margem a ela.

ONE RING TO RULE THEM ALL

Temos aqui sem dúvida o melhor jogo baseado no rico mundo criado por J. R. R. Tolkien. No entanto, assim como a diversão ao ler os livros do mestre vem da sua imaginação, aqui também o melhor do jogo vai depender da sua criatividade em explorar as possibilidades que ele oferece, o que, curiosamente, lembra um outro jogo que nada tem a ver com ele: refiro-me, claro, a LittleBigPlanet. Se a ideia de criar seus próprios objetivos e desafios te apetece, não tem como dar errado, pode comprar sem medo.

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