É engraçado como Danny Boyle costuma ser citado como o diretor de Trainspotting e Quem Quer Ser um Milionário?, mas quando eu leio o nome dele, a única coisa que me vem à cabeça é o primeiro Extermínio, aka o filme de zumbis que despertou o interesse de uma nova geração por mortos vivos, mesmo sem ter, tecnicamente, mortos vivos.
Os dias de Extermínio, no entanto, são um passado distante para Dani Bola. Afinal, agora o cara disputa Oscars, com trabalhos como o morno filme do Show do Milhão, ou mesmo o excelente 127 Horas. Assim, muito me surpreende que Em Transe chegue aos cinemas tão longe da temporada dos oscarizáveis.
Após assistir, no entanto, vemos que Em Transe pouco ou nada tem de um oscarizável. Na verdade, ele está bem mais próximo dos filmes de Christopher Nolan, tanto para o bem quanto para o mal. Antes de entrarmos neste nível de detalhes, no entanto, vamos a ela, a sempre muito esperada, mas nem sempre anunciada…
SINOPSE
Esta é a história de um grupo de ladrões de arte. Eles conseguem roubar uma pintura que vale muitos milhões de libras, mas um deles (James McAvoy) escondeu a dita-cuja e agora não lembra onde a enfiou. Após uma amigável tortura, seus colegas resolvem enviá-lo a uma hipnoterapeuta (Rosario Dawson) para ajudá-lo a se lembrar.
A primeira coisa que fãs do diretor vão reparar é justamente a qualidade da direção. Danny Boyle sempre mandou bem, mas incrivelmente ele consegue melhorar a cada trabalho. A criatividade de seus planos e a forma como usa os closes (coisa rara em cinema, afinal, uma cabeça de cinco metros é uma coisa um tanto assustadora) são simplesmente o maior legal.
A trama em si também é bastante interessante e prende a atenção, em especial no início. Porém, aí entra o lado negativo da comparação com Christopher Nolan. O roteiro e a edição confundem “complexo” com “emaranhado” e “inteligente” com “complicado”. E isso cobra seu peso da narrativa.
Quando a trigésima quinta viradinha acontece, você já não está mais se surpreendendo, pois começa a ficar engraçado. E quando o expectador não consegue diferenciar uma sequência de sonho de uma real, ele não fica intrigado, fica entediado. Em muitos momentos, o filme simplesmente parece que não sabe aonde quer chegar, ou quais cenas realmente são parte da história e quais são apenas um sonho.
É um problema sério do cinema blockbuster atual (e diria que Christopher Nolan, por melhor diretor que seja, tem bastante culpa nisso), que tenta criar a ilusão de “entretenimento inteligente” quando é apenas “emaranhado”. Claro, no final, lá pela quadragésima segunda viradinha, tudo faz sentido, mas será que você ainda terá saco para acompanhar até lá?
Vale pela direção excelente, mas é uma pena que, como uma criança tentando citar Nietzsche, o roteiro se perca ao tentar exibir sua inteligência. Em Transe começa com potencial para levar o Selo Delfiano Supremo, mas termina pouco melhor do que um filme nada. Recomendado com força apenas para fãs de longa data do diretor. Ou para quem sempre quis ver um nu frontal da Rosario Dawson.