Clássicos – Judas Priest – Painkiller

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Um dos cinco melhores CDs da década de 90. Uma década dominada pela artificialidade, por artistas e mercadorias descartáveis e pela fácil manipulação dos meios de comunicação exercida sobre uma geração de jovens vazios e consumistas. Com todos esses fatores e com a febre Grunge sendo capitaneada mais por mídia e gravadoras do que pela qualidade das bandas de Seattle, formava-se então um cenário propício para o esquecimento do Heavy Metal, uma vertente do Rock ‘n’ Roll que, historicamente, foi marginalizada pela grande mídia e, conseqüentemente, pelo grande público. Mas, eis que contra toda essa desfavorável atmosfera, o Judas Priest, a banda que melhor encarna o espírito Metal (seja na indumentária, seja na música) e que na década de 80 passou por momentos de apatia com um ridículo flerte com o comercialismo barato para conquistar o mercado estadunidense, lança um álbum antológico e demonstra aos headbangers que estes ainda teriam inúmeros torcicolos.

O clássico álbum atende pelo nome de Painkiller, um guerreiro fictício criado pela imaginária mente de Rob Halford (provavelmene viciado em analgésicos), cujo objetivo principal é desembarcar na Terra para salvar a humanidade de suas mazelas através do Heavy Metal. É nesse campo, ou seja, no campo lírico, que reside o único ponto fraco do álbum, já que predomina a abordagem de temas supérfluos. A música, como qualquer outro tipo de arte, deve ser analisada sob dois aspectos. O primeiro diz respeito ao conteúdo da arte, àquilo que ela procura transmitir, sua ideologia. O segundo ponto é tratar a arte como sendo uma pura e simples diversão, um meio de relaxamento e de evasão de idéias sem qualquer importância apenas para se desligar do atribulado cotidiano. Ao considerar tais aspectos, esse álbum e toda a discografia do Judas deixa muito a desejar no primeiro quesito, já que retrata majoritariamente assuntos irrelevantes. Por outro lado, é um prato cheio para aqueles que encaram a arte como diversão ou ainda para aqueles que a consideram uma mescla de senso crítico com frivolidades, como é o caso desse que vos fala.

Antes de partir diretamente para a análise musical do CD, há de se ressaltar a belíssima arte gráfica criada por Mark Wilkinson, que explicita basicamente o conceito que gira em torno do guerreiro Painkiller. Logo ao apertar o play do aparelho de som, o ouvinte rapidamente se surpreende com a rapidez, com o peso e com a maestria da bateria de Scott Travis, que introduz a clássica faixa-título, sem dúvida alguma a melhor música de Heavy Metal dos anos 90.

Há também os vocais ensandecidos e de extremo alcance de Rob Halford, as furiosas e melódicas guitarras, com pesados riffs e com solos milimetricamente calculados, o que é uma constante no álbum e o que denuncia o virtuosismo de uma das mais entrosadas duplas de guitarristas do Metal: Glen Tipton e K.K. Downing. O tímido e correto baixo de Ian Hill também se sobressai em uma produção extremamente limpa (como é de praxe nos grandes clássicos do estilo) comandada por Chris Tsangarides. Outras músicas que se destacam são: Hell Patrol (que mistura o peso da bateria com uma cativante melodia vocal), Leather Rebel e Metal Meltdown (com todas as características já mencionadas) e a dramática Touch of Evil, que conta com uma performance soberba de Rob Halford, deixando claro o porquê da Rainha do Metal possuir uma das melhores vozes da história do Rock.

Por fim, faz-se necessário lembrar que foi na turnê do Painkiller que os pioneiros do Heavy Metal moderno visitaram o Brasil no segundo Rock In Rio. Foi nesse álbum também que o Judas reuniu sua formação mais talentosa e foi com ele ainda que a banda voltou a ser respeitada como um dos principais grupos do estilo. Não é difícil fazer esse tipo de música. Basta apenas que se tenha um vocalista com uma voz potente e um ar de teatralidade, uma dupla de bons guitarristas, um competente e pesado baixista e um criativo baterista. Acha complicado? Ouça Painkiller e comprove como os Deuses do Metal fazem tudo isso fácil, fácil.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
classicos-judas-priest-painkillerAno: 1990<br> Gênero: Heavy Metal<br> Artista: Judas Priest<br> Produtor: Chris Tsangarides<br> Gravadora: Sony<br>