Road 96 foi, para mim, um daqueles games que escapou. Ele me interessava, mas a auto-descrição como um roguelike narrativo de sobrevivência me afastou. Sempre que posso, eu evito jogar qualquer coisa que seja roguelike. E por causa disso, eu quase passei também a possibilidade de escrever esta análise Road 96 Mile 0. Ainda bem que não o fiz.

Tudo que fazia de Road 96 um roguelike simplesmente não está mais aqui. Esta é basicamente uma história interativa, com alguns interlúdios psicodélicos de ritmo que lembram muito Sayonara Wild Hearts. Ou seja, é muito minha praia.

ANÁLISE ROAD 96 MILE 0

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Road 96 Mile 0 é uma prequência de Road 96. Ele é focado na relação entre dois amigos. Kaito é filho de trabalhadores e está num caminho revolucionário, ou pelo menos quer sair de Petria, o país em que a história acontece. A outra é Zoe, filha do ministro do petróleo. Uma garota privilegiada que não tem motivos para desconfiar do pai ou do governo. Zoe é também uma das protagonistas de Road 96, o que coloca essa história interativa num ponto curioso: não interessa suas escolhas, o caminho dela está pré-traçado.

Então diria que foi até um benefício eu ter jogado Mile 0 antes de Road 96. Afinal, só descobri o papel de Zoe no jogo seguinte ao iniciar a pesquisa para esta análise Road 96 Mile 0. E veja só, sem querer, acabei escolhendo um caminho totalmente oposto àquele que ela iria seguir.

Fiz isso porque é bem claro desde o início que o jogo quer contar uma história revolucionária envolvendo um governo ditatorial. Então eu fiz todo o esforço necessário para levar a narrativa para o caminho oposto. E muitas vezes, a opção era apenas cosmética. Eu dizia que não queria fazer algo, o outro insistia. Eu repetia que não queria, e daí eventualmente a opção de negar simplesmente sumia. Como história interativa, Mile 0 não é das mais elegantes.

ANÁLISE ROAD 96 MILE 0 É INTERESSANTE

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O lado bom é que esse tipo de história, de revolução contra o governo, é bem comum. Então o que realmente fazia a coisa andar era a relação entre Kaito e Zoe. Durante a primeira metade, você joga com Zoe, vendo em primeira mão os confortos da sua vida, e de forma no mínimo ignorante o lado dos trabalhadores.

Na segunda metade, em que você assume Kaito, vê a verdadeira cara do governo, que desconfia, trata mal e exige muito sem dar nada em troca. Era até estranho eu continuar levando o meu Kaito para o caminho “governo bonzinho, revolucionários maus” diante de tudo que estava acontecendo.

O clímax intercala trechos com os dois personagens, mas a sensação de que está tudo pré-determinado é forte. Minha Zoe era completamente adestrada pelo governo, mas mesmo assim ela aceita ajudar Kaito a roubar o palácio. A relação entre os dois é legal, mas talvez a história funcionasse melhor sem dar opções, se fosse mais um desenho animado do que um game.

SAYONARA REVOLUTIONARY HEARTS

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O jogo de ritmo que vem depois de quase todas as cenas é mais tradicionalmente um game. Alternando controle entre Kaito e Zoe, você vai de skates ou patins por cenários psicodélicos, desviando de obstáculos e pegando moedinhas.

O game concede troféus se você tiver sua performance avaliada em A, S ou S+. Para conseguir essas pontuações, é necessário manter combos altos. Aliás, mais especificamente, é necessário estar com o combo alto no momento em que aparecer um dos três colecionáveis disponíveis em cada fase. Isso porque a pontuação que o colecionável dá é muito alta, a ponto de que bater um pouco antes de um deles, e perder o combo, torna inviável conseguir nota alta na partida.

Ao terminar cada uma dessas, digamos, fases de ação, o jogo pergunta se você quer tentar de novo para melhorar o placar ou então continuar a história. Road 96 Mile 0 é muito mais uma história do que estes pequenos estágios musicais. Inclusive, dá para escolher pular as fases de ação se achá-las muito difíceis. Eu gostei de jogá-las, e inclusive repeti todas várias vezes na esperança de conquistar meus troféus (só não consegui em duas).

MY HEART WILL GO ON

Eu terminei o jogo satisfeito, feliz com o que tinha vivenciado. Gostei das fases de ação, e também gostei da história. Mas como crítico, não posso ignorar o fato de que, tirando os últimos minutos, minhas escolhas foram totalmente ignoradas. Ou seja, não dá para dizer que ele funciona bem como história interativa, mas como experiência audiovisual, foi prazeroso durante toda sua duração.

A Plaion solicitou que não capturássemos imagens próprias para este review, então usamos imagens de divulgação.