Happy Feet 2: O Pinguim

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O primeiro Happy Feet é uma das grandes pérolas da animação em todos os tempos. É também um daqueles casos em que perdemos a cabine e ficamos sem resenha delfiana, e depois acabou parecendo nas nossas listas de melhores filmes do ano, assim como 500 Dias Com Ela. Assim, devo dizer que estava bastante ansioso para esta continuação que, embora tardia, vem com o mesmo diretor do original.

Aqui Mano, o pinguim atrapalhado do primeiro filme, já é um adulto e tem até um pimpolho tão atrapalhado quanto ele. Ao se separarem da sua “tribo”, um movimento das calotas polares acaba prendendo toda a população dos pinguins emperadores, e agora cabe aos desgarrados e a alguns amigos encontrarem uma forma de resgatar a galera.

Paralelamente à aventura dos pinguins, temos a história de um par de krills tentando subir na cadeia alimentar. Sua participação se resume a pequenos episódios cômicos e quase independentes da história principal, dando um ar de ”mamãe-eu-também-quero-um-Scrat. Infelizmente, essa cópia carbono de um outro filme acaba dando a tônica do que se pode esperar de Happy Feet 2.

O visual é sensacional, e a trilha sonora idem, trazendo uma compilação de alguns dos maiores sucessos de vários estilos musicais. Os personagens são tão fofos que chega a ser falta de educação, mas isso é quase irrelevante, uma vez que pinguins estão lado a lado com os pandas entre os animais mais fofos da Terra.

Assim como no primeiro, também temos algumas mensagens ambientais interessantes e a participação de seres humanos em live-action, o que ajuda a dar ao longa o visual único pelo qual o primeiro filme ficou conhecido.

O longa começa bem, com um número musical épico, onde centenas de pinguins cantam e dançam um medley de alguns grandes sucessos da música pop. Essa abertura apoteótica termina com uma piada envolvendo xixi. Pronto. Quando um filme cai na armadilha de fazer piada com fluidos corporais logo nos primeiros minutos, é difícil se recuperar. E Happy Feet 2 não teve sucesso nesta empreitada.

Acontece que, se o primeiro era um exemplo de criatividade, tanto no visual único quanto no roteiro, servindo como prova que uma animação pode ser divertida para as crianças e relevante para os adultos, o segundo piora em absolutamente todos os aspectos.

Temos aqui todos os clichês das animações, como daddy issues, lições de amizade e a supracitada piada com fluidos corporais. Inclusive é difícil acreditar que o diretor dos dois filmes é o mesmo, considerando que o que temos aqui é um assassinato de tudo que o original tinha de bom. O roteiro é tão fraco que acaba encerrando sem dar uma conclusão ao personagem Sven, um dos que mais se destacam em todo o resto do filme.

A dublagem brasileira, como sempre, não ajuda em nada. As atuações, como é praxe no Brasil, vão de regulares a péssimas, e a adaptação não ajuda ao dar tanta importância a trocadilhos infames.

A música é muito importante aqui e, enquanto algumas com mais importância para a história foram traduzidas, outras foram mantidas na gravação original em inglês. Eu até concordo que músicas famosas como Under Pressure não devem ser traduzidas, mas no mínimo devem ser regravadas com os dubladores brasileiros cantando, como fizeram na versão em inglês.

Infelizmente, nunca fazem isso. E aqui fica pior, pois algumas músicas têm diálogos no meio da cantoria, daí você ouve a voz do dublador brasileiro, e logo em seguida ele fica com a voz do Robin Williams. Em inglês tem um adjetivo que descreve perfeitamente isso: “jarring”. Até procurei no dicionário uma tradução, mas “berrante” não passa o mesmo desconforto que da palavra em inglês.

Esse problema não existe nas músicas traduzidas, certo? Correto, mas essas sofrem por aquela tradicional tradução feita nas coxas, colocando o verbo no final da frase para forçar rimas, tipo “para o polo norte, eu vou voar”. Isso é horrível. Nenhum músico profissional criaria uma frase dessas em uma letra. Vale mais deixar sem rima do que fazer algo tão feio.

Em um filme com tanto foco em música, a versão brasileira detrai tanto de Happy Feet 2 que provavelmente se a cabine tivesse sido feita com versão legendada, teríamos uma resenha de filme nada, ao invés de um abaixo da média. Não é à toa que o momento mais tocante é uma rendição instrumental de We Are The Champions, que nada mais é do que um belo solo de guitarra.

Infelizmente, “um filme abaixo da média” é exatamente o que Happy Feet 2 é, e como um grande fã do longa original, escrevo isso com dor no coração. É daqueles casos que um novo filme, embora não modifique o excelente trabalho feito no original, acaba diminuindo a qualidade do conjunto da obra. Dessa forma, é realmente uma pena que esta continuação tenha sido feita, pois não acrescenta em nada e só prejudica o carisma dos personagens e o carinho que os fãs têm por eles. Pô, Hollywood! Mancada!

CURIOSIDADES:

– O diretor George Miller, além de ter dirigido o clássico Mad Max, esteve por um bom tempo envolvido no longa da Liga da Justiça. Inclusive, se você fizer uma busca por notícias do filme aqui no DELFOS, vai encontrar várias relacionadas ao cara.