No começo dos anos 90, os X-Men estavam em alta. Muito do sucesso veio graças à boa primeira série animada exclusiva dos filhos do átomo. Os bons roteiros, inspirados (mas não copiados) nas histórias clássicas da fase Chris Claremont (cujo auge ocorrera mais de 10 anos antes), combinados a uma roupagem mais adulta em alguns episódios fizeram história.
O problema é que o carinha de 12 anos que curtia pacas o desenho e passasse a comprar o gibi, não entenderia patavinas do que estava acontecendo. As revistas dos X-Men sempre foram as mais confusas dentro da cronologia da Marvel, apesar dos esforços recentes para que o Homem-Aranha tome seu lugar.
Com exceção da boa saga Massacre de Mutantes, os roteiros se perdiam em aventuras intergalácticas nonsenses ou personagens demais que iam e voltavam ao grupo sem maiores explicações.
Para resolver o problema e renovar o público, o então chefão da Marvel, Bob Harras (um dos nomes também por trás da temida Saga do Clone do Aranha), teve a idéia de recontar a origem dos mutantes o que, cá entre nós, não é novidade, em um universo paralelo e partindo de uma nova premissa: “e se Charles Xavier fosse assassinado antes de fundar os X-Men?”. Essas histórias na linha “e se…” (“What If” no original) são bem comuns na editora, mas apenas em especiais que não afetam a cronologia oficial das séries.
Desta vez afetaria e muito: durante seis meses, começando em janeiro de 1995 (nos EUA, aqui veio um tempo depois), todas as revistas dos mutantes entrariam de cabeça nesse universo alternativo sem maiores explicações.
Resumindo a história e sem revelar os segredos, a premissa parte do seguinte: no tal universo paralelo, Charles Xavier é assassinado pelo próprio filho, Legião, antes de dar prosseguimento à idéia da criação da escola para jovens superdotados de onde sairiam os X-Men.
Sem Xavier para promover a paz entre mutantes e humanos, o mutuna mais antigo e poderoso da história, Apocalipse, inicia a guerra contra a humanidade pela supremacia dos mais fortes (no caso, claro, os próprios mutantes) uma década antes do previsto pela linha do tempo “normal”, onde foi derrotado pelos X-Men. A guerra culmina com o extermínio de milhões de pessoas e a destruição das principais cidades, especialmente nas Américas.
Os humanos sobreviventes fogem para o que sobrou da Europa e Ásia e criam uma força rebelde para resistir ao Apocalipse e seus arautos. Entre os integrantes desta armada humana estão Tony Stark, Gwen Stacy, Susan Storm, Ben Grimm e Victor Von Doom. Antes que você estranhe este time, lembre-se que estamos falando de um universo paralelo e nenhum dos heróis ou vilões acima, de fato, se concretizou. Nesta realidade, os Vingadores e o Quarteto Fantástico nunca existiram.
Do lado mutante, nem todos também estão felizes com o domínio de Apocalipse. O melhor amigo do finado Xavier, Eric Lehnsherr (Magneto), segue os ensinamentos do defunto e acredita na paz entre mutantes e humanos. Em homenagem póstuma, o mestre do magnetismo lidera um grupo de jovens poderosos conhecidos como X-Men (em versão bastante diferente da que conhecemos e liderados por Mercúrio e Vampira, respectivamente filho e esposa de Magneto) contra o reinado de Apocalipse. Entre os X-Men, temos Dentes de Sabre, Solaris, Tempestade, Banshee, Homem de Gelo, Noturno e outros menos importantes, incluindo um Morpho saído diretamente do desenho animado que comentei nos primeiros parágrafos, para agradar aos fãs.
Além destes, temos também mercenários que não confiam na liderança de Magneto e trabalham sozinhos contra os planos de Apocalipse. Entre esses renegados, estão Arma X (esse mesmo que você imagina!) e sua namorada Jean Grey, além de dois grupos menos importantes para a história em geral, um liderado por Gambit (responsável pelas histórias mais chatas da saga) e outro por Colossus e sua esposa, Lince Negra.
Do lado de Apocalipse, a principal força mutante é comandada pelos irmãos Summers, Ciclope e Destrutor, além do cientista, Fera, cujos objetivos se assemelham muito ao do médico nazista Josef Mengele na busca pela raça superior e experimentos com humanos. Na verdade, o próprio reinado de Apocalipse nesta realidade é uma bela ironia ao nazismo alemão e sua lavagem cerebral.
Com os dois lados bem definidos, já teríamos uma bela saga, mas tudo se complica ainda mais quando o mutante conhecido como Bispo aparece na base dos X-Men alegando que veio de outra linha temporal e culpa Magneto por um misterioso acontecimento que levou à morte de Charles Xavier. Curioso? Mas ainda tem mais, pois um mutante psiônico chamado Nate Grey consegue fugir dos laboratórios de Apocalipse e, com a ajuda de seu mentor Forge, aprende que terá importância fundamental na guerra que está por vir.
Aqui no Brasil, a série foi publicada pela Editora Abril em 1996 e afetou todas as revistas mutantes também. Porém, por opções polêmicas, mas comuns na época, páginas inteiras foram cortadas e alguns diálogos alterados para que as histórias coubessem no formatinho. Sim, amigão, eu lamento estragar a sua juventude, mas muitas das histórias que curtíamos no famoso formatinho eram mutiladas para caber no número de páginas “padrão” das revistas. Atualmente, com o mesmo formato americano lançado pela Panini, as revistas não sofrem mais este tipo de corte.
A edição utilizada para esta análise foi o encadernado americano X-Men: The Complete Age Of Apocalypse Epic, dividido em quatro volumes grandões. No primeiro, temos apenas pequenas histórias e minisséries que ajudam a entender melhor o universo paralelo, mas não valem seu rico dinheirinho. A Era de Apocalipse começa mesmo no segundo volume e traz todas as histórias da época que fizeram parte da saga. Se você é fã dos mutantes da Marvel ou apenas um curioso fã de HQs, recomendo fortemente a leitura. Só não leva o selo delfiano porque todas as histórias envolvendo o Gambit e a Jubileu são chatíssimas e só estão aqui apenas por conta da popularidade dos dois no desenho animado. De resto, é uma excelente compra.