Unisonic – Unisonic

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Michael Kiske marcou seu nome na história do metal com apenas 18 anos, quando gravou, ao lado de Kai Hansen, os famosos álbuns Keepers of the Seven Keys I (1987) e II (1988), junto com o Helloween. Era impressionante, desde aquela época, ver como o jovem conseguia alcançar notas tão agudas de maneira tão fácil, com um controle perfeito e um timbre impressionantemente belo. Não é à toa que ganhou o apelido de rouxinol aqui no DELFOS.

Mas o jovem, de carreira promissora, acabou saindo da banda anos depois, por brigas e desentendimentos especialmente com o outro guitarrista, o Michael Weikath. E, enquanto o Helloween seguiu muito bem, lançando ótimos álbuns como Master Of The Rings (1994) e The Time Of The Oath (1996), Kiske viveu em briga com os palcos, lançando esporadicamente alguns álbuns, fazendo participações em trabalhos de outros, etc.

Mas, em 2009, finalmente o cantor anuncia uma volta aos palcos, com sua nova banda Unisonic. O projeto, que empolgou a todos os fãs, ganhou um sabor especial quando, em 2011, Kai Hansen se juntou à banda. Finalmente, teríamos os dois de volta numa banda fixa, o que não acontecia desde os Keppers.

É por isso que a expectativa era altíssima para este trabalho, e não podia ser diferente. Mas, logo de cara, sou obrigado a avisar: não espere encontrar aqui um novo álbum do Helloween. Unisonic é um disco muito mais na linha dos trabalhos mais recentes de Kiske, como o Place Vendome, e em poucos momentos lembra os antigos clássicos do final dos anos 80.

Unisonic, a faixa de abertura do álbum, é poderosa e inspirada. Ela ganhou até mesmo um clipe que o delfonauta deve ter visto por aqui.

Muito bem escolhida como single, a faixa lembra um pouco a sonoridade do Pink Bubbles Go Ape (1991), com um refrão nascido para ser cantado ao vivo. É uma pena que a banda não tenha seguido essa linha em todo o CD, pois, para mim, ela é a melhor do álbum. Em Souls Alive, já conseguimos ver uma mudança de direção. A música, que nos foi apresentada no mini-álbum Ignition, já lembra mais os trabalhos de Kiske junto ao Avantasia de Tobias Sammet, principalmente no refrão. O que não é, necessariamente, algo ruim.

Em Never Too Late temos uma faixa extremamente divertida e simples. É o momento onde Kiske se aproxima mais do velho Helloween.

Nesse momento, você se anima, esperando mais riffs divertidos no mesmo estilo, mas o clima do CD já muda novamente. I’ve Tried e Star Rider, que vêm logo a seguir, são duas boas faixas, mas a fofura vai toda embora.

Sim, fofura. Aquela fofura das músicas do Helloween, com refrões divertidões, letras positivas e algumas vezes debochadas, que Kiske costumava cantar tão bem, não dão as caras mais por aqui. Isso frustra um pouco, já que, com a reunião de Kiske e Hansen, creio que muitos esperavam mais daquele velho clima. Até mesmo os vídeos de divulgação da banda, com brincadeiras e risadas, davam essa impressão. Mas, ao analisar o disco inteiro, fica claro que a fofura ficou fora deste trabalho.

Chegamos então à metade, com Never Change Me. Extremamente pop, essa música poderia estar em um CD do Bon Jovi. Ela parece ter sido feita para a trilha sonora de um filme de comédia romântica água com açúcar. Eu quase consigo ver o casal passando bons momentos, depois brigando, lembrando um do outro e fazendo as pazes no final da música. É aquela música boa para você mostrar pra sua namorada. Eu achei um belo escorregão no meio do álbum.

Graças a Odin, o CD se recupera com o bom riff de Renegade. Por falar nisso, o trabalho, como um todo, apresenta uma parte técnica impecável, com belos solos, instrumentação competente, etc., mas os riffs não são muito marcantes. Temos apenas alguns que se destacam e, mesmo assim, nenhum deles vai te fazer sair cantarolando por aí.

Continuando, temos a já conhecida, também do EP Ignition, My Sanctuary, seguida por King for a Day e We Rise. Boas faixas, com destaque para a primeira, que tem agressividade e peso, mas as três acabam indo por caminhos já conhecidos e, nessa altura do CD, podem se tornar um pouco cansativas.

Unisonic poderia muito bem acabar aí. Mas alguém achou que faltava uma coisa: uma balada!

Eu sei muito bem o “poder da balada”. Muitas pessoas vão achar a música perfeita, vão chorar, ouvir com a namorada, etc., mas No One Ever Sees Me é, para mim, outro escorregão feio no CD. Piegas, maçante e extremamente sem criatividade, eu precisei de algumas audições para me acostumar, pois da primeira vez quase dei um tiro na minha própria cabeça.

Aliás, o conselho vale para todo o CD. Talvez não seja assimilado da primeira vez, principalmente se você esperava outra coisa. Eu mesmo confesso que esperava algo mais próximo da linha dos clássicos do Helloween, principalmente pelo clipe de Unisonic, mas me decepcionei um pouco durante a primeira audição. Precisei ouvir algumas outras vezes, com a cabeça livre de expectativas, para não roubar os merecidos Alfredos que o disco tem de direito.

Até porque, apesar das críticas, temos aqui um bom disco. Não é um clássico do metal, nem uma nova pedra fundamental do estilo. Unisonic tem seus momentos altos e baixos, carece um pouco de frescor e inspiração e prefere seguir linhas já definidas. Mas o resultado é bom, e talvez as faixas funcionem melhor ao vivo. Mantenha as expectativas no lugar, e não espere ouvir o verdadeiro Keeper Of The Seven Keys III. O Helloween de riffs fofos e refrões divertidos ficou no passado, pois nem mesmo o próprio parece conseguir achar novamente essa fórmula.

De qualquer forma, é bom ver Kiske e Kai juntos novamente, e ver que o jovem de 18 anos, agora com 44, voltou a cantar e continua impressionando a todos com seus agudos precisos. Bem vindo de volta, rouxinol! Aguardo ansioso para ouvi-lo ao vivo!