O primeiro Truque de Mestre foi um hit um tanto inesperado. Um filminho legal e divertido, com um elenco entrosado e muito espetáculo. Eu concedi a ele a honraria de cinco Alfredos e quase levou o cobiçado Selo Delfiano Supremo.
Sua continuação volta com um novo diretor e quase todo o mesmo elenco do original (a linda Isla Fisher – bacon! – foi substituída pela também bela Lizzy Caplan – almôndegas!), e com o acréscimo de um Harry Potter com barba. E isso me faz pensar, quando os primeiros filmes do Haroldo Cerâmica estavam sendo lançados, eu tinha amigos com mais de 20 anos que não conseguiam ter barba. Esses mesmos amigos ainda não conseguem esta proeza máxima de virilidade, e até o Harry Potter consegue. Que puxa!
Admito que embora eu tenha me divertido muito com Truque de Mestre, ele não me marcou tanto e me lembro apenas vagamente dele, pois não o assisti novamente desde a cabine. Para você ter uma ideia, sequer lembrava de Morgan Freeman e Michael Caine no elenco.
No começo de O 2º Ato, os “cavaleiros” estão vivendo escondidos, procurados pelo FBI pelo que aprontaram na história anterior. Eles têm planos de dar um grande golpe, mas são raptados por um bruxinho de Hogwarts que quer que eles roubem um chip para ele. Está armada a confusão – e principalmente a desculpa para várias mágicas legalzudas.
As mágicas são os melhores momentos do longa. São os equivalente de Truque de Mestre às cenas de ação de um Testosterona Total e são igualmente empolgantes e visualmente impressionantes. Aliás, se há um pecado nesse aspecto é que o show ficou tão exagerado que parece que os protagonistas têm poderes mágicos de verdade.
Por exemplo, um truque comum é escapar de algemas, mas as algemas normalmente são props que facilitam a brincadeira. Aqui, no entanto, eles escapam de algemas do FBI e levam a melhor em cenas de porrada usando nada mais do que truques.
Isso sem falar no fato de que eles parecem ter super recursos. Lá no final da projeção, seus shows são sincronizados com as luzes públicas de Londres e nem tem um hacker ou algo parecido na equipe para tentar dar sentido ao absurdo.
Não que eu me importe tanto assim com absurdo. Cinema, assim como truques de mágica, servem para você se divertir, e nesse aspecto Truque de Mestre 2 é quase tão bom quanto o primeiro. Mas teve uma coisa que me incomodou bastante.
Pouco mais de uma década atrás, era comum que os filmes tivessem reviravoltas, mas também era comum que você conseguisse matar elas pelas dicas deixadas pelos roteiros. No cinema hollywoodiano pós-Christopher Nolan, os roteiristas colocam tantas reviravoltas, tantos agentes duplos e tantas traições que o negócio não fica complexo, mas emaranhado.
Já tinha criticado o filme anterior pelo mesmo motivo, mas por incrível que pareça, perto desta segunda parte, o primeiro é até bem amarradinho. Seria o caso de dizer “desligue o cérebro e divirta-se”, mas o negócio é tão complicado que se você desligar mesmo o cérebro simplesmente não vai conseguir acompanhar o básico da história. E mesmo com um bônus +42 de inteligência, creio que qualquer pessoa teria dificuldade de explicar tintin por tintin tudo que aconteceu no longa.
Claro, a história básica você pega, mas o roteirista Ed Solomon claramente estava tentando impressionar além de suas habilidades e acabou construindo um roteiro que esconde o fato de não ter pé nem cabeça fingindo ser aparentemente complexo.
Apesar da mudança do diretor, as cenas de mágica continuam estilosas. A cena em que os cavaleiros têm que esconder algo enquanto são revistados, em especial, se destaca como um momento tremendão em um filme cheio deles. E acaba sendo também o que mais faz sentido no fato de que os personagens são habilidosos, mas não são de fato feiticeiros.
É a regra de que continuações têm que ser sempre maiores, o que normalmente nem é um problema. Truque de Mestre – O 2º Ato peca ao tentar ser mais do que um filminho deveras divertido. Isso o impede de ser tão legal quanto o primeiro, mas veja só, ainda é um filminho deveras divertido.