A geração do Xbox 360/PS3 foi mágica para a Ubisoft. A empresa lançava jogos fantásticos e diferentes. Na mesma época, tivemos Assassin’s Creed, Prince of Persia, Rayman, I Am Alive, o remake de Flashback, Call of Juarez Gunslinger, Far Cry 3 e este Scott Pilgrim game, além de muitos outros. Sim, algumas dessas séries, em especial Assassin’s Creed e Far Cry, ainda existem, mas elas são em 2021 muito diferentes de como foram criadas e muito parecidas entre si.
Hoje, a expressão “jogo da Ubisoft” é quase um gênero em si. RPGs de mundo aberto extremamente longos, recheados por microtransações e lojas que vendem “economia de tempo”. Veja só, os três jogos lançados por eles em 2020, Assassin’s Creed Valhalla, Watch Dogs Legion e Immortals Fenyx Rising se diferenciam quase apenas pela estética e ambientação, sendo em todo o resto muito parecidos, até mesmo na interface, hud e opções.
2021, no entanto, se inicia com uma bem-vinda variação. O relançamento do jogo baseado no filme baseado no gibi Scott Pilgrim Contra o Mundo. Trata-se de um RPG beat’em up que eu joguei muito no meu PS3. E na época fizemos uma senhora cobertura, tanto para o game, quanto para o gibi e para o filme (confira alguns links no final deste texto). Assim, este é um excelente candidato para um novo texto da nossa série “… de cabeça fria”. Como é jogar Scott Pilgrim vs. The World: The Game em 2021? Me acompanha?
SCOTT PILGRIM GAME
Lembro de, quando escreveu a notícia com o primeiro trailer do jogo, o Homero ter falado: “É o jogo pelo qual o Corrales esperava desde que terminou o terceiro Streets of Rage“. E é fato. Quando saiu em 2010, pixel art e beat’em ups eram raríssimos. Eu devorei Scott Pilgrim game com uma fome que normalmente reservo a hambúrgueres recheados com quatro queijos.
Embora eu não o jogasse há muitos anos, vira e mexe eu ouvia sua trilha sonora. Criado pela banda de chiptune Anamanaguchi, Scott Pilgrim: The Game é um deleite para os ouvidos.
O visual também é fantástico. Desde então, pixel art se tornou uma estética comum. Porém, normalmente as desenvolvedoras tentam emular as limitações e a falta de cores do Nintendinho. Scott Pilgrim é retrô, mas é também moderno, trazendo um visual pixelado altamente elaborado, que não seria possível em consoles antigos.
Sem exagerar, eu não me lembro de cabeça de outro jogo pixelado tão bonito. Talvez tenha algum que eu não esteja lembrando, mas simplesmente não tenho nada de negativo a declarar sobre Scott Pilgrim em relação ao visual. Além de artisticamente belíssimo, é altamente apropriado para a temática e a história originais do gibi.
Já o gameplay… bem, para esse aspecto eu tenho algumas críticas.
GAMEPLAY DE RPG OBTUSO
Scott Pilgrim vs. The World: The Game não é um brawler tradicional e perfeitamente tunado, como Streets of Rage. Faz parte do gameplay tunar suas próprias estatísticas, mais ou menos como em Double Dragon Neon. Para isso, você deve coletar dinheiro, e ir a uma das lojas da primeira fase, onde pode comprar itens que afetam sua força, velocidade, defesa, etc.
Isso exige aquele tipo de rotina que considero perda de tempo. Você precisa repetir as fases pelas quais já passou para ganhar dinheiro, upar seu personagem e ter alguma chance de vencer as mais avançadas. Eu jogaria Scott Pilgrim game muitas vezes com vários personagens, mas a necessidade de repetir fases com cada um deles para poder upar o suficiente para terminar me faz ter vontade de simplesmente rodar o The Takeover pela vigésima vez.
Tornando isso ainda mais grave, o jogo não te fala o efeito de cada upgrade até você comprá-lo. Como você vê na imagem acima, o disco do The Clash at Demonhead tem apenas a descrição “eles são tão profundos”. Só depois que você já gastou o dinheiro, ele te mostra rapidamente que você ganhou +8 de força de vontade. Além disso, é possível maximizar suas estatísticas sem o jogo te falar isso. Eu fiquei gastando um dinheirão em força e defesa muito depois de já ter chegado ao máximo de 100. A única forma de ver suas estatísticas é pelo menu de opções da TELA TÍTULO!
Eu nunca vi um outro RPG que exija customizar as estatísticas do personagem sem te mostrar no que você está investindo. Isso torna necessário jogar com um guia do lado. Eu recomendo este guia do Shack News, que mostra todas as lojas e os benefícios de cada compra. Mas convenhamos, o simples fato de esse guia existir é um absurdo. E não faz sentido nenhum que não tenham deixado os efeitos mais claros neste relançamento de 2021.
GAMEPLAY DE PORRADINHA
Aqui é onde o jogo mais brilha, mas está longe de ser uma máquina azeitada, como Streets of Rage 4. Scott Pilgrim game acerta em muitos pontos vitais para um beat’em up. As animações têm peso, e os golpes têm impacto. A primeira fase, que foi perfeitamente tunada para ser jogada com um personagem sem estatísticas aumentadas, mostra o imenso potencial do jogo.
Depois disso, as limitações começam a aparecer. A segunda e a terceira fase têm um salto absurdo de dificuldade, exigindo que você as repita mais do que gostaria para conseguir passar. Nelas, você começa a encarar muitos inimigos ao mesmo tempo, com seus golpes muito fracos e velocidade muito lenta. Curiosamente, depois de passar cada fase, você pode reiniciar em trechos específicos dela, mas se você morrer no chefe, é obrigado a voltar ao início.
Depois que suas estatísticas estão mais altas, a coisa melhora consideravelmente, e o gameplay fica muito melhor. O difícil é aguentar até lá.
O jogo também traz um sistema de níveis, que vai aos poucos liberando novos golpes e movimentos. Isso é legal para aprender o jogo, mas significa também que, durante boa parte da campanha, você não terá nenhum golpe que quebra a defesa dos inimigos. Quando um meliante começa a defender, não tem absolutamente nada que você possa fazer para avançar a luta, além de esperar ele parar – o que costuma demorar muito, às vezes alguns minutos.
Também falta uma forma de quebrar o combo dos inimigos. Normalmente em beat’em ups, você tem um golpe invencível que tira um pouco da sua vida, mas interrompe e derruba todo mundo. Aqui sua única opção é esperar os inimigos pararem de te bater. E, não raro, eles fazem sequências que tiram de 60 a 80% da sua vida. Pior, quando apanha muito, os heróis fazem uma cara de raiva e ficam imobilizados por dois segundos. Adivinha só se isso não leva a mais porrada nas fuças?
CENÁRIO DESTRUTÍVEL
Outra coisa que incomoda é que seus golpes afetam os itens do cenário. Dar um soco perto de uma pedra faz a pedra deslizar e, quase sempre, voltar na sua direção, tirando sua vida. Isso é bem difícil de evitar, porque o chão é repleto de caixas, pedras e outros detalhes suscetíveis aos seus golpes.
No vídeo abaixo você vê um pouco do gameplay do jogo. Repare que o que mais tirou minha vida nesses trinta segundos foi a lata de lixo e a caixa de papelão.
O mais triste é que boa parte das coisas mais chatinhas do jogo poderiam ter sido resolvidas neste novo relançamento. Ok, tirar o RPG e tunar o jogo apropriadamente provavelmente daria um grande trabalho, mas ele já melhoraria bastante se você não levasse porrada de caixas de papelão e se soubesse o que está comprando nas lojas, e isso seria bem fácil de resolver.
Assim, dez anos depois, é fácil dizer que Scott Pilgrim vs. The World: The Game não é mais tão legal quanto era antes. Desde seu lançamento, muitos jogos pixelados e muitos beat’em ups saíram. Ele ainda mantém parte do seu charme (o visual, em especial, não envelheceu nada), mas simplesmente não tem a qualidade e o polimento para competir com lançamentos recentes do gênero, como The Takeover e Streets of Rage 4.
A série “… de cabeça fria” envolve voltarmos a vivenciar algo antigo e que às vezes até já resenhamos aqui no DELFOS com a cabeça fria e com nossas experiências atuais. Se você gostou, mostre pra gente fazendo comentários e compartilhando, pois nos esforçaremos para fazer muitas outras.
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