Roteiro de Casamento

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Particularmente, eu gosto muito do cinema argentino. Acho que ele humilha a produção tupiniquim em termos de temáticas e diversidade de gêneros. Contudo, é preciso reconhecer também que nem todas as aventuras cinematográficas de nossos hermanos é ouro puro, como bem atesta Roteiro de Casamento.

Na trama, Fabián Brando é um ator argentino reconhecido internacionalmente e cheio de si. No set de seu mais recente longa ele conhece a atriz Flor, que está tendo dificuldades com o trabalho. Ele se mostra solícito e atencioso e ambos acabam se apaixonando, o que resulta num casamento relâmpago.

É só depois de atarem os nós que Flor se dá conta de que havia se enamorado pelo personagem que Fabián estava interpretando no filme. Na vida real, a verdadeira personalidade do ator não é tão atraente assim, o que a deixa decepcionada. Ao entreouvir uma conversa onde Flor admite que se casou com um idiota (explicando assim o título original, que nada tem a ver com ela ter se unido em matrimônio com um sujeito de colhão descomunal), Fabián decide se tornar mais parecido com o personagem por quem Flor se apaixonou e assim conquistar de vez seu coração.

Não dá para negar que, para uma comédia romântica, a premissa é bem interessante. O problema é que ela nunca funciona, o que torna este filme bastante capenga, um verdadeiro desastre, durante toda sua duração. E sem dúvida o maior problema é que Fabián simplesmente não é o idiota que o título original faz acreditar.

Claro, ele é vaidoso, egocêntrico e gosta de se autopromover. Contudo, essas são características bastante comuns a atores, e esses traços sequer são exagerados para transformá-lo num personagem antipático e insuportável. O maior pecado que a película mostra da parte do cara é ele jogando videogame com os camaradas ao invés de dar atenção à esposa. Sério, em pleno 2016 ainda se usa esse clichê como exemplo de individualismo?

Na realidade, é a mulher que acaba sendo a grande “boluda” da película. Para começar, ela é tonta o suficiente para se apaixonar por uma projeção e não pela pessoa verdadeira. E ainda tem mais um monte de atitudes para lá de antipáticas enquanto Fabián tenta melhorar como pessoa para satisfazer os padrões dela. Para completar a desgraça, é o tipo de personagem que chora por qualquer coisa, o que causa mais ódio no espectador do que risadas.

O roteiro simplesmente não consegue estruturar uma história coerente com sua premissa básica, falhando totalmente como comédia romântica. Afinal, não tem como comprar o fato de que o mano realmente quer ficar com essa mina, enquanto da parte da mina, não dá para entender porque ela não quer ficar com um mano que claramente está se esforçando para agradá-la.

Para completar, a produção no geral mira num tom mais popularesco, que o deixa com uma estética geral (fotografia, cenografia, estilo de atuações) bem próximo do que temos por aqui nas comédias da Globo Filmes. Pois é, viu só como os argentinos também fazem tranqueiras?

Roteiro de Casamento talvez seja o pior filme argentino que já vi. Ele até tinha uma ideia interessante que poderia ter rendido muito mais com realizadores e, sobretudo, um roteiro mais competente. Da forma como ficou, resultou apenas numa história desestruturada que não sustenta sequer sua premissa básica. Melhor esquecer isso aqui e procurar alguma coisa que tenha o Ricardo Darín, daí a qualidade é mais garantida.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
roteiro-de-casamentoPaís: Argentina<br> Ano: 2016<br> Gênero: Comédia Romântica<br> Duração: 100 minutos<br> Roteiro: Pablo Solarz e Juan Taratuto<br> Elenco: Adrián Suar, Valeria Bertuccelli e María Alche.<br> Diretor: Juan Taratuto<br> Distribuidor: Paris Filmes<br>