Sem mais delongas, daremos continuidade à saga de Jesse Custer e sua patota alegre em busca do criador. Vale lembrar que este artigo é uma continuação deste, publicado semana passada, então leia o do link primeiro. Abaixo, você confere a análise de todos os volumes da saga. Boa leitura e que Deus esteja convosco (ou não, você é quem sabe)!
Vale lembrar, alguns especiais não são ilustrados por Steve Dillon. Neste caso indicarei quem foi o responsável. Como a publicação do gibi por aqui foi errática, eu li no inglês original. Mas para fins de melhor informar nosso querido delfonauta, utilizei a tradução da Panini, última editora a publicar o material em nosso país, para os títulos dos nove encadernados. E vale dizer também que, para quem não leu a série, as análises dos volumes abaixo podem conter spoilers. Esteja avisado.
A CAMINHO DO TEXAS (Gone to Texas)
Reúne as edições 1 a 7 da revista, em dois arcos. A editora Brainstore o lançou pela primeira vez como Indo pro Texas, enquanto a edição mais recente, da Panini, chama-se A Caminho do Texas.
O primeiro arco, em quatro partes, é o começo da trama, com apresentações dos personagens, da história e o início da jornada de Jesse atrás de Deus. Em suma, tudo que falei na sinopse do começo do texto na primeira parte desta matéria.
Já no segundo, Cidade Nua (Naked City), em três partes, o trio vai a Nova Iorque, onde um amigo jornalista de Cassidy pode ter informações sobre o paradeiro de Deus. Enquanto isso, a cidade está sendo assolada pelos ataques de um serial killer. Acho que já dá para imaginar o que acontece.
Momento mais insano: Jesse usa a “palavra de Deus” e manda um xerife se fo%$#. Ele obedece, de maneira bem literal.
Nota: 5
ATÉ O FIM DO MUNDO (Until the End of the World)
Formada pelos números 8 a 17, o primeiro arco, em cinco partes, apresenta a sinistra figura da avó de Custer, responsável por ele se tornar um pastor. Ela captura Jesse e Tulipa com a ajuda de seus capangas Jody e T.C. (dois caipiras sádicos) para ensinar ao neto que não se deve fugir da vovó. No cativeiro, Jesse conta todo seu passado, desde a infância, para a Tulipa e ela finalmente fica sabendo porque ele a abandonou anos atrás. Também é aqui que vemos Deus pela primeira vez.
Depois há o arco em cinco partes Caçadores (Hunters) onde Herr Starr e O Graal são apresentados. Starr tenta capturar Jesse pela primeira vez para que este lhe sirva como Messias no plano d’O Graal, mas ao invés de Custer, acaba levando Cassidy por engano. Também conhecemos dois investigadores sexuais (seja lá o que isso for) e Jesus de Sade, o maior organizador de orgias bizarras do mundo.
Momento mais insano: T.C. come um frango. E não no sentido gastronômico da palavra.
Nota: 5
ORGULHO AMERICANO (Proud Americans)
Contendo as edições 18 a 26, este volume começa com uma história simples, estrelada pelo pai de Jesse na Guerra do Vietnã (lembre-se, um dos temas preferidos de Garth Ennis).
Depois há o arco em seis partes Cruzados (Crusaders), onde Jesse e Tulipa vão à França, onde se localiza a fortaleza d’O Graal, para resgatar Cassidy, que está sendo torturado por um sujeito chamado Frankie, o Eunuco (outro nome autoexplicativo). Também conhecemos o grande (literalmente) chefão d’O Graal.
Para finalizar o volume, há a história em duas partes onde Cassidy conta a Custer seu passado, incluindo informações valiosas sobre como se tornou um vampiro, como foi parar nos EUA, e qual seu primeiro nome.
Momento mais insano: A revelação de que o suposto Messias d’O Graal, descendente direto de Jesus Cristo, é só um molequinho retardado devido à reprodução consanguínea.
Nota: 4,5
HISTÓRIAS ANTIGAS (Ancient History)
Este volume reúne a minissérie em quatro partes Santo dos Assassinos e as edições especiais A História de Você-Sabe-Quem e Os Bons Companheiros.
A mini Santo dos Assassinos (Saint of Killers), com arte de Steve Pugh e Carlos Ezquerra, conta a origem do Santo. Quem ele era em vida, e os fatos que o levaram a se tornar o impiedoso executor de Deus. Ennis aproveita para homenagear mais uma vez os faroestes, gênero que adora e é uma das grandes influências de toda a saga de Preacher.
A História de Você-Sabe-Quem (The Story of You-Know-Who), ilustrada por Richard Case, trata de outra origem, a do Cara-de-cu, a qual já tinha sido mencionada anteriormente, mas agora podemos testemunhar em detalhes como ele ficou com o rosto daquele jeito. Conhecemos um pouco mais do jovem grunge que venerava Kurt Cobain e era espancado constantemente pelo pai, xerife da cidade. E como a morte do seu ídolo vai levá-lo a fazer uma grande besteira. Detalhe: o especial ganhou esse título porque a DC não permitiu que a palavra “arse” (seu nome no original é Arseface) saísse na capa. O interessante é que arse é menos pesado para eles (significa “bunda”, numa gíria usada pelos britânicos, mas virtualmente desconhecida nos EUA) do que como foi traduzido aqui no Brasil.
Por fim, o especial Os Bons Companheiros (The Good Old Boys), ilustrada por Carlos Ezquerra, trás de volta os personagens Jody e T.C., os caipiras dementes e psicóticos do arco Até o Fim do Mundo, em uma trama anterior que serve como uma grande tiração de sarro aos Testosteronas Totais, com Ennis sacaneando impiedosamente os clichês do gênero. Mas no fim das contas, fora o fator diversão, essa história não tem nenhuma importância para a trama principal de Preacher.
Momento mais insano: Em Santo dos Assassinos, pode-se conferir a expressão “quando o inferno congelar” ganhando vida.
Nota: 4
RUMO AO SUL (Dixie Fried)
Reunindo as edições 27 a 33 da revista, mais o especial Cassidy: Sangue & Whisky, o volume começa com o arco em sete partes onde Tulipa reencontra sua melhor amiga Amy, Cassidy faz uma besteira monumental, Cara-de-cu tenta se vingar de Jesse e o grupo vai para Nova Orleans onde, através de vodu, Custer tenta acessar as memórias de Gênesis. Mas um grupo de aspirantes a vampiros, ligados ao passado de Cassidy, vai atrapalhar.
Cassidy: Sangue & Whisky (Cassidy: Blood and Whiskey), também desenhado por Steve Dillon, aproveita a deixa e mostra a primeira passagem de Cassidy por Nova Orleans, seu primeiro encontro com os Les Enfants du Sang (a gangue dos góticos que querem ser vampiros) e a única vez em que encontrou outro de sua raça, sem contar a criatura que o transformou. Apenas ok, poderia ser melhor.
Momento mais insano: Cassidy é decapitado. Para completar, seu carrasco ainda bate um tiro de meta com a cabeça dele e lhe chuta as bolas. Violência exagerada é mesmo uma coisa muito divertida.
Nota: 4
GUERRA AO SOL (War in the Sun)
Reunindo as edições 34 a 40, mais o especial O Homem da Guerra, este volume começa com o arco em quatro partes que lhe dá nome. O trio vai para o deserto de Mojave, onde Custer pretende tomar um pouco de peiote (um alucinógeno usado por algumas tribos indígenas estadunidenses), para ver se Gênesis lhe revela mais alguma coisa importante. Herr Starr vai usar a oportunidade para tentar capturá-lo mais uma vez. E agora ele conta até com o apoio do exército. Mas o que parece fácil pode virar uma carnificina com a presença do Santo dos Assassinos.
No arco seguinte, Herr Starr conhece uma família de canibais que o acham muito gostoso, Tulipa fica na pior e Cassidy se aproveita, Cara-de-cu vai parar na grande mídia e Jesse encontra um ermitão que queria ser astronauta e agora se dedica a enviar um recadinho para a NASA.
O Homem da Guerra (One Man’s War), ilustrado por Peter Snejbjerg, revela como Starr foi recrutado pelo Graal, e como bolou seu plano de tomar a organização para seus propósitos. Estranhamente, aqui o personagem é tratado de uma forma mais séria, sem o mesmo humor patético de antes.
Momento mais insano: Não dá para evitar, vou ter de escolher dois. Primeiro: Starr detona uma bomba atômica no deserto de Mojave para deter o Santo dos Assassinos (que não sente nem cócegas). Segundo: o ermitão dinamitando no deserto uma enorme mensagem nada educada para ser lida do espaço. É genial.
Nota: 4,5
SALVAÇÃO (Salvation)
Compreendendo as edições 41 a 50, o primeiro arco, em oito partes, tem toda a pinta de filme de ação. Sente só se a história não se parece com Matador de Aluguel ou Com as Próprias Mãos: dando um tempo em sua missão principal, o reverendo chega à cidadezinha texana de Salvation, onde rapidamente encontra rostos do passado e vira o xerife do lugar. Ele vai bater de frente com Odin Quincanon, dono do abatedouro local, principal fonte de renda da região, e que por isso se acha acima da lei. Obviamente, até o velhinho sacana aprender que as coisas não são bem assim, muitos traseiros serão chutados.
Depois há mais duas histórias autocontidas. Na primeira, Jesse finalmente consegue tomar o peiote, enfrenta seus demônios internos e descobre o que aconteceu com seu olho. E na segunda descobre mais um fato importante sobre seu pai.
Momento mais insano: Quando descobrimos o que Odin Quincanon fazia no frigorífico quando queria ficar sozinho.
Nota: 5
ÀS PORTAS DO INFERNO (All Hell’s A-Coming)
Formado pelos números 51 a 58, mais o especial O Cavaleiro Altivo. No primeiro arco, em quatro edições, Tulipa consegue se livrar da má influência de Cassidy e se reencontra com Jesse. Em paralelo, vemos flashbacks de seu passado. É o arco mais fofinho de toda a série.
No segundo, também em quatro partes, Jesse descobre pedaços sórdidos do passado de Cassidy que este não lhe contara. E Starr, cada vez mais nervosinho (e hilário), enfrenta uma espécie de agente da corregedoria d’O Graal.
O Cavaleiro Altivo (Tall in the Saddle), desenhado por Steve Dillon e arte-finalizado por John McCrea encerra este volume. Em seu passado de crimes, Jesse, Tulipa e Amy auxiliam um velho xerife a deter uma gangue de ladrões de cavalos cujo objetivo é abastecer a exótica culinária francesa. Garth Ennis estava pouco inspirado e parece só ter escrito essa história para chegar no número de seis especiais. Tanto que é o mais fraco deles.
Momento mais insano: Starr perde uma parte vital da anatomia masculina na boca de um cachorro. E o ermitão do deserto consegue ser bem sucedido quando um ônibus espacial avista sua mensagem. Eu estou rindo disso até hoje.
Nota: 4
ÁLAMO (Alamo)
Compreendendo os números 59 a 66, as sete primeiras edições tratam do clímax da trama. Jesse traça um plano para finalmente pegar Deus, mas para isso terá de contar com a colaboração do Santo dos Assassinos. É aqui que também ocorre o acerto de contas entre Custer e Cassidy (que no fim das contas é bem mais importante que a trama principal) e Starr tenta sua última cartada, mas Tulipa vai entrar em seu caminho.
A última edição é o epílogo da série e mostra o desfecho entre o Santo dos Assassinos e Deus e o destino final do trio de personagens principais. Bela conclusão.
Momento mais insano: Deus tremendo de medo frente ao Santo dos Assassinos no acerto de contas final. Não posso contar mais sem soltar estragões, mas é um típico momento hell, yeah!
Nota: 5
ÚLTIMAS PRECES
A história editorial de Preacher no Brasil é uma grande bagunça. A revista passou por diversas editoras de pequeno e médio porte que nunca conseguiram uma periodicidade estável. Entre idas e vindas, o Brasil varonil ficou anos sem ver o final da série (e por essas e outras, li a versão original em inglês).
Até que finalmente a editora Panini a publicou na íntegra em nove encadernados lançados entre 2010 e 2014. O detalhe é que eles começaram soltando os três últimos volumes, contando os arcos que nunca haviam sido publicados por aqui e só depois relançaram os volumes anteriores, cujas histórias já haviam, em um ou outro formato, dado as caras através de diferentes editoras. E assim finalmente Preacher foi publicado na íntegra em nossa terrinha garantindo um final feliz para os leitores. Agora resta apenas acompanhar a série de televisão para saber se ela faz jus à alta qualidade alcançada pela HQ, um verdadeiro clássico da nona arte. Alguns mais fervorosos poderiam até dizer que se trata de uma santa leitura!