Playstation 3

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A pesquisa para adquirir um console da nova geração foi deveras árdua para mim, assim como para a maioria dos gamers que se aventuraram por esse novo território. Não podia mais esperar para colocar as mãos em uma das maravilhas tecnológicas que prometiam gráficos nunca antes experimentados e o máximo em entretenimento eletrônico.

Depois de ler toneladas de boatos, assistir a centenas de horas de vídeos e trailers de games das três plataformas que haviam sido lançadas, ainda muito inseguro, escolhi o Playstation 3 indo contra todos que me falavam sobre o valor do sistema, dos jogos e principalmente sobre a problemática que envolvia a nova tecnologia. O Playstation 3 foi uma escolha sentimental de minha parte porque passei muitas horas felizes ao lado de seus dois predecessores.

O TREINAMENTO JEDI

A primeira opção que descartei foi o Nintendo Wii. Jogador hardcore que sou, não fui atraído pela proposta familiar e pensei que me satisfaria mais com as histórias densas e o clima sério dos jogos das outras duas plataformas. Tudo bem que acabei ganhando o Wii de presente depois, então beleza (hum, namorada com videogame! É possível? Morra de inveja).

Já para descartar o Xbox 360 foi bastante difícil e exigiu algumas horas de pesquisa e análise de gráficos e de som. Difícil escolha, pois no Xbox há gráficos lindíssimos e jogos que me dão vontade de chorar por não poder jogar. O que desequilibrou a balança foi, em primeiro lugar, o descontentamento dos usuários com os problemas de superaquecimento e luzes vermelhas do mal que levam seu aparelho para outra dimensão (na maioria dos casos, mais de uma vez: leia aqui e aqui).

Em segundo lugar, as franquias exclusivas de PS3 são tremendamente imperdíveis e digo que, com uma pequena dor no coração, desisti de jogar o ótimo Gears of War para jogar Metal Gear 4 e God of War 3.

Outra coisa que fez alguma diferença na minha pesquisa é a tecnologia Blu-ray presente no PS3, que está se expandindo lentamente, mas que já venceu o HD-DVD e que promete para o futuro a mesma substituição que aconteceu do VHS para o DVD. Essa vitória se deve ao fato de que, em comparação com o HD-DVD, o Blu-ray tem uma taxa maior de transferência de dados, quase o dobro da capacidade de armazenamento, suporta mais formatos de mídia e é mais resistente a arranhões devido à tecnologia Durabis II.

Enfim, suando frio, os joelhos tremendo e o bolso doendo, encaminhei-me à loja de games com a qual tinha fechado negócio pelo telefone. O vendedor deve ter ficado com certo receio das minhas pupilas dilatadas e meu rosto molhado quando efetuei o pagamento e saí correndo da loja abraçado na caixa que me surpreendeu pelo seu peso. Ofegante devido ao sedentarismo, parei para dar uma avaliada: Satanás que me perdoe, o bagulho deve pesar uns 20 kg!

Já em casa, com a caixa aberta em cima da cama, retirei o controle Sixaxis sem fio, que tem o design igualzinho ao do PS2, salvo o botão PS no centro dele que serve para acessar o menu do sistema e ligar/desligar à distância (semelhante ao Home do Wii e ao Guide do Xbox 3RL). Os botões L2 e R2, que se prendem à parte de trás do controle apenas por uma pequena mola, permitem apertar mais fundo, pois ele é analógico, ou seja, tem sensibilidade a pressão. Portanto, em um jogo de corrida, se você quer acelerar só um pouquinho, é só não apertar o botão até o fundo.

Não é que o console é pesado mesmo? Pesado e grande, mas nada que atrapalhe a beleza da minha nova aquisição. Devidamente posicionado ao lado da televisão, pude ver o meu reflexo na cor preta brilhante dele e quase chorei! Ao olhar a parte de trás, notei as saídas do cabo de força, dos cabos de áudio e vídeo, uma saída Ethernet, uma saída para o cabo HDMI de alta definição e na frente quatro entradas USB.

Estava tirando os vários cabos da caixa e já olhando com olhar maroto para cada uma das entradas quando percebi de relance o manual de instruções parado ao canto do quarto (como ele chegou lá? Ninguém sabe). Dei uma folheada rápida e sem paciência. Conectei tudo em suas respectivas entradas traseiras, com exceção do controle, que precisa ser conectado pela primeira vez através da entrada USB da parte dianteira (exatamente da mesma forma que fazemos para carregar a bateria interna dele mais tarde).

UMA NOVA ESPERANÇA

Para ligar o brinquedo não é preciso apertar nenhum botão, é só pousar o dedo em cima do símbolo liga/desliga que tudo já funciona imediatamente, caindo na tela de configurações iniciais, onde você cria o perfil, escolhe o idioma, etc. A euforia era tanta que fiquei com saudade das antigas plataformas que só precisavam ser plugadas para já estarem prontas para jogar.

Quando escutei o som de inicio e o menu do sistema apareceu diante de mim, tive vontade de misturar o PS3 com alimentos de tão bonita que é a interface do sistema operacional com seus cliques e barulhinhos.

O menu é bem intuitivo e conta com a aba de usuário (user) com as suas configurações iniciais salvas e um recurso de senha para você manter seu irmãozinho longe dos seus arquivos e jogos salvos.

Cada console tem uma conta de usuário Master (mestre) que é o administrador do sistema, o único que pode fazer modificações nas preferências principais. Com essa conta, você cria outras chamadas Children (crianças), de usuários mais básicos, mas que ainda podem salvar suas preferências.

Na aba Games você pode acessar todos os jogos salvos na memória, bem como o disco que está dentro do console no momento. Seus jogos salvos aparecem ali, em pequenas imagens e com uma rápida descrição de em qual momento do jogo você estava.

Há ainda a seção Network, que conta com um navegador de internet e um teclado virtual que seria a maior inutilidade se não incluísse um dicionário que completa as palavras que são digitadas, pois é horrível digitar letra por letra com a setinha do controle.

Dentro de Network há a pasta Friends que permite que você converse com outras pessoas online e salve seus contatos. A maioria dos jogos produzidos para o Playstation 3 vem com a opção de jogar online de graça com outros jogadores (morram de inveja, proprietários do Xbox 3RL), assim você adiciona seu inimigo mortal colega de jogatina à sua lista para poder dar um pau nele brincar de novo mais tarde.

O IMPÉRIO CONTRA-ATACA

Além do navegador, você tem a Playstation Store, onde é possível acessar online uma grande quantidade de downloads de demos jogáveis, papéis de parede, músicas, jogos de plataformas antigas e conteúdo extra para jogos que você já tem. Tudo isso é organizado de forma simples e intuitiva. Cada usuário cadastrado no console pode se cadastrar na Playstation Network e assim ganhar automaticamente uma conta na Playstation Store de onde é possível comprar downloads de jogos inteiros e seus conteúdos adicionais.

Isso é bom, pois como a conta está ligada ao seu nome de usuário, você pode fazer o download de graça novamente se decidir apagar um jogo para liberar espaço na memória. Existe um limite de até cinco downloads de graça de cada jogo comprado. Isso é NA TEORIA, pois eu estava tentando comprar lá com um cartão de crédito internacional e não consegui! Depois de pesquisar em alguns fóruns sobre o assunto, descobri que eu não era o único, pois como não consta a opção “Brazil” na lista de cadastro da loja, não tem como comprar nela nem com cartões de crédito internacionais emitidos no Brasil. Falta de mercado, de incentivo brasileiro ou descaso mesmo? Acredito que o Brasil tem muito mais potencial no mercado que a Sony quer atingir do que muitos dos países que aparecem na lista da loja e é uma grande estupidez, babaquice, idiotice, cretinice, imbecilidade, burrice não autorizar a venda online para nós. Tudo isso não pode deixar de levar à reflexão de que imenso mercado para a área dos games seria o nosso Brasil, se não houvesse impostos fabulosos e se o governo facilitasse a criação de indústrias em nosso território.

Quase todos os jogos de PS3 têm a opção de jogatina online que é totalmente gratuita e com o mínimo de lag possível. Recentemente, comprei um jogo online sensacional de guerra em terceira pessoa chamado Warhawk, que acompanha um headset sem fio muito interessante para você se comunicar com o seu time. Warhawk comporta 32 pessoas divididas em dois times diferentes e com alguns modos de batalha como “mate o máximo que puder” ou então “capture o território inimigo”, com vários veículos e até caças aéreos. Era o jogo online mais movimentado e divertido que eu havia jogado desde Counter-Strike e funcionava perfeitamente com meu modem de 256kbps.

Só que depois de uns três meses, começaram os problemas (eu me pergunto: será que algo tinha que dar errado mesmo?). Sim, do nada o jogo morreu, a lista de servidores para participar ainda aparecia, mas eu não conseguia entrar em nenhuma. A Playstation Store funcionava normalmente, o navegador da internet também, só o jogo não funcionava mais. Mandei incontáveis e-mails para a SCEA (Sony Computer Entertainment America) e finalmente eles me responderam que não era possível dar suporte para o meu Warhawk pois o jogo não foi feito para jogar online no Brasil. Enchi o saco deles mais algumas semanas e acabei me resignando sem resposta alguma, pois todos os outros funcionam perfeitamente. Irônico o único jogo que só dá para jogar online não funcionar online, né?

O controle sempre serviu bem aos meus propósitos do PS2 e não seria diferente no PS3 não fosse um pequeno detalhe: ELE NÃO VIBRA! Depois fui perceber que a Sony lançou um pacote com o maldito controle que vibra junto com Metal Gear Solid 4. Não quero nem saber o valor desse negócio porque ainda tenho um pouco de raiva no coração.

O RETORNO DE JEDI

É óbvio que só se tem uma idéia do potencial do console analisando os jogos, então aguarde que as resenhas de PS3 começam amanhã, com o todo poderoso Metal Gear 4.

Enquanto isso, comecemos falando por alto deles. O primeiro que testei foi Heavenly Sword, uma guerreira ruiva que tem que salvar seu povo do exército inimigo (hum… ruiva brava com bacon frito…), mais ou menos como um God of War feminino. Fiquei boquiaberto com a grandeza dos cenários e a riqueza dos detalhes, mesmo sem uma televisão de alta definição. Em certas fases do jogo, a quantidade de inimigos é imensa e o console não tem sequer uma perda de velocidade ou de qualidade. Heavenly Sword é um jogo que mostra o que o PS3 pode alcançar com relação ao processador e à qualidade gráfica.

Outro que demonstra muito bem a qualidade técnica do PS3 é Burnout Paradise, jogo de corrida com gráficos lindos, velocidade absurda e batidas monumentais que realmente amassam e quebram seu carro até sobrar só a carcaça velha e sem pintura. O áudio também é de assustar. Na hora das batidas, você vai ter que abaixar o som bem rápido para não acordar a casa inteira. A única falha é o estilo GTA enfadonho de ficar procurando as corridas dirigindo pela cidade.

Um jogo que mostra bem as qualidades da nova geração é Folklore, um RPG de ação onde o personagem principal é um jornalista cético de uma revista de ocultismo investigando assassinatos em uma vila isolada. Até aí nada de mais, certo? A história começa a ficar interessante quando o repórter descobre que a vila tem uma passagem para os mundos dos mortos! Sim, são vários mundos dos mortos. A jogabilidade é muito diferente e interessante, pois nas lutas que você tem contra diferentes criaturas, você absorve a alma delas dando um puxão no controle e a partir daí você pode usar a criatura absorvida como arma nas próximas batalhas. São centenas de “armas” diferentes que você adquire e configura nos botões do controle como preferir, cada uma com uma característica diferente, seja de ataque ou de defesa e era isso que eu mais procurava na nova geração de consoles: complexidade e variedade imensa de interação e coisas que você pode fazer no jogo.

Uma característica que ainda não tive a oportunidade de experimentar é a retro-compatibilidade. Que diabos é isso? Significa que o Playstation 3 roda os jogos do Playstation 1 e 2, desde que sejam compatíveis com uma lista de requerimentos técnicos. A boa notícia é que 97% dos jogos analisados pela Sony cumprem esses requerimentos, ainda que com pequenas falhas no áudio e na fluência do jogo. Está na hora de ver se algum CD meu do PS1 sobreviveu a todos esses anos. O PS3 se conecta também com o PSP, permitindo várias atividades como troca de arquivos de mídia e de jogos de PSP para o Playstation 3.

Nunca vi gráficos tão belos e tão poucas falhas na jogabilidade como tenho visto com meu brinquedo novo, mas uma coisa que assusta é que alguns dos meus poucos jogos de PS3 são extremamente curtos. Heavenly Sword, por exemplo, dá para ser terminado em uma jogada ou duas. Nada que atrapalhe muito, considerando o nível alto de diversão que você vai ter nessas poucas horas.

Sem dúvida a diversão casual vem tomando o nível de experiência, tanto auditiva quanto visual, e não tenho dúvidas ao afirmar que o Playstation 3 satisfaz a maior parte das minhas expectativas, e cria o desejo ansioso de sempre querer saber o que está por vir.

PS: Com este texto, analisamos todos os videogames da nova geração. Qual você comprou/vai comprar?

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
playstation-3Ano: 2006<br> Gênero: Videogame<br> Preco: Cerca de R$ 2000,00 (ou: salgado demais)<br> Fabricante: Sony<br> Versao: 60gb<br>