Talvez o pessoal mais novo, que cresceu vendo o Renato Aragão como aquela figura meio piegas do Criança Esperança, ou requentando sempre as mesmas piadinhas bobas em A Turma do Didi, desconheça como Os Trapalhões foi uma das coisas mais engraçadas e geniais que este país já produziu.
O programa do quarteto formado por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias era uma raridade: capaz de agradar a todas as classes sociais e crianças e adultos em igual medida. Seu humor era anárquico, sacana, cheio de duplos sentidos e totalmente politicamente incorreto. Ou seja, hoje, jamais passaria na TV.
Eles também dominaram o cinema nacional nas décadas de 1970 e 80. Seus filmes, esses sim direcionados mais para as crianças, eram verdadeiros eventos de férias e muitos deles até hoje figuram entre as maiores bilheterias do cinema brasileiro.
E quem diria que, em pleno 2017, o nome Trapalhões voltaria a estampar um cartaz de uma nova produção cinematográfica? Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood faz alusão a um de seus filmes mais famosos, Os Saltimbancos Trapalhões original, de 1981, mas não é uma continuação direta, preferindo pegar só o espírito circense de seu antecessor.
Didi e Dedé são funcionários de um circo que anda meio mal das pernas. Para salvar as finanças do lugar e voltar a atrair público, Didi tem a ideia de conceber um novo número para ser apresentado no picadeiro. Enquanto tenta tirar a atração do papel, Didi, Dedé e o resto da trupe circense precisa também refrear o prefeito local, que deseja usar o circo para qualquer tipo de evento, menos os artísticos.
A história é simples, bobinha e sem grandes conflitos. Até os possíveis vilões nem chegam a representar grandes obstáculos. Infelizmente o que temos aqui está mesmo mais para A Turma do Didi e menos para Os Trapalhões. Renato Aragão requenta só as piadas mais bobas e inocentes de seu personagem (principalmente falar tudo errado), deixando as coisas bem longe dos dias de glória do grupo. Os únicos momentos que chegam a lembrar (bem pouco) os bons tempos de antigamente é quando o Didi zoa o Dedé.
Claro, como já estabelecemos, os tempos mudaram e hoje o humor do grupo sem dúvida ofenderia cada grupo possível da sociedade super sensível e coxinha em que vivemos. E convenhamos, é quase um sacrilégio seguir sem Mussum e Zacarias, que por acaso eram só os mais engraçados do grupo.
Assim, a experiência de assistir a este filme, para alguém da minha geração, é algo melancólica. Há uma boa vontade, alimentada pelo saudosismo, mas ao mesmo tempo é deprê ver que o tempo deles já passou e eles perderam a chance de ficar só nas boas memórias mesmo.
Não é um filme ruim. Comparado à média de qualidade das comédias nacionais que têm sido lançadas ultimamente, é preferível esse humor mais ingênuo e ultrapassado ao festival de gritaria e bordões que passam por comédia nacional. Mas como a marca Trapalhões está estampada no filme, aí a coisa pega e isso não chega nem aos pés dos melhores momentos do grupo.
Quem acompanhou a carreira do saudoso quarteto de perto, é melhor ficar mesmo na saudade e rever os antigos esquetes televisivos (faça-se um favor, digite “os trapalhões melhores momentos” no Youtube e seja feliz) ou filmes. Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood tem muito pouco a oferecer a este público. No entanto, para crianças mais novas, que não viram as mesmas piadinhas repetidas à exaustão, pode ser que funcione.
