Os Indomáveis

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Alfredo, Alfredo de la Mancha, Delfos, Mascote, Alfred%23U00e3o, Delfianos

Engraçado como existem atores que sabem escolher muito bem os projetos cinematográficos dos quais farão parte. Acredito que não é apenas uma questão de “comprar” a idéia do roteiro, por mais estruturada e bem desenvolvida que ela seja. Não acho que seja apenas isso. Há um tipo de “entrega” do ator que não é sempre que podemos vislumbrar nos filmes de nossos dias, até porque são poucos os grandes atores espalhados por aí. Aproveitando que o Corrales disse aqui que não viu um filme de Natalie Portman que não tenha gostado muito, posso dizer o mesmo sobre o Christian “só faço coisas de qualidade” Bale, mais conhecido como Bruce Wayne.

Realmente, o cara vem tendo uma visão quase “mediúnica” para escolher seus papéis nos últimos anos. Ele com certeza não é o único, mas é um dos poucos, ao lado de Edward “vou fazer o Hulk do jeito que ele merece” Norton, entre outros que se pode contar em uma mão. Você, delfonauta, seria capaz de citar alguma recente “bomba” cinematográfica que tivesse a participação do “Cavaleiro das Trevas”? Pois acho difícil isso acontecer quando vêm à lembrança filmes como Equilibrium, O Operário, O Grande Truque e Batman Begins. Com esse Os Indomáveis, Bale prova que continua calibrado em suas escolhas, o que é até compreensível para alguém que já começou com o pé direito, fazendo, na infância, um filme de um certo Spielberg chamado Império do Sol.

Os Indomáveis tem um enredo bem simples: Russel Crowe é o sanguinário Ben Wade, atirador rápido no gatilho e líder de uma quadrilha de saqueadores que, após uma distração ao lado de uma mulher (afinal, mulheres gostam de nos meter em enrascadas do gênero), é capturado pela cavalaria. Nessa captura, há um tiroteio, muitos morrem e, no final das contas, cabe ao pobre camponês Dan Evans (se é que posso chamar de camponês um trabalhador rural do velho oeste, onde só tem deserto por todos os lados) levar o bandidão até o trem que parte às 15:10 para Yuma (daí o título original), onde ele ficará preso até que seja condenado à forca. O problema é que o tal trem passa em um vilarejo distante de onde o “Gladiador” foi capturado e, na longa estrada, a quadrilha de Wade tentará resgatá-lo de qualquer maneira, dando muito trabalho ao “Batman”, que, por sinal, receberá somente 200 dólares caso coloque o cara no trem e consiga permanecer vivo. E olha que ele já não tem parte de uma das pernas e usa uma espécie de prótese para conseguir andar e cavalgar. Corajoso, né? Devíamos até fazer um Tremendões com esse Dan Evans.

Confesso que este foi um dos faroestes que mais gostei, ao lado de Era Uma Vez no Oeste de Sergio Leone e Os Imperdoáveis de Clint Eastwood (aliás, o título brasileiro deste aqui claramente visa fazer uma alusão ao de Clint).

Além de ter um ótimo ritmo de edição para o gênero e cenas de tiroteio de prender a respiração de tanto nervoso que dá, o filme não fica só no bangue-bangue. O personagem Dan Evans desenvolve com seu algoz Ben Wade uma estranha amizade, pois, apesar de um deles ser muito correto e o outro um arrogante fora da lei, ambos compartilham a rejeição e a desaprovação da sociedade diante de suas vidas marginais. É até emocionante notar no silencio de ambos, enquanto cavalgam lado a lado, como estes dois caras são tão parecidos e tão diferentes ao mesmo tempo e como o destino foi, com cada qual à sua maneira, duro e um tanto cruel. E esse é o tipo de coisa que certamente não seria perceptível se esses personagens não fossem interpretados por atores do nível de Christian Bale e Russel Crowe. Tá certo que o segundo não escolhe tão bem os seus papéis quanto o primeiro, tendo em vista filmes como este, mas seu talento como ator é inegável.

Para concluir, há também participações notáveis como a de Peter Fonda, Ben Foster e até mesmo Luke Wilson faz uma ponta em um de seus poucos papéis sérios. De fato, o elenco todo foi muito bem dirigido por James Mangold, de Johnny & June. Só não concedi o Selo Delfiano Supremo a este Os Indomáveis porque senti que faltou um papel feminino mais participativo e um filme em que se vê homens o tempo todo, por mais hetero que seja o enredo, não é tão legal assim. A presença feminina é escassa e fica por conta de Vinessa Shaw, uma das vítimas de Viagem Maldita. A falta do bacon e do Delorean escondido na caverna a gente até releva, mas faltaram as ruivas. Uma pena. De resto, um ótimo filme de bangue-bangue.