Esta semana estreia em nossos cinemas o remake de Desejo de Matar comandado por ninguém menos que Eli Roth. Você pode, inclusive, ler nossa resenha delfiana que já está no ar.
Na crítica em questão, o Corrales fala que não é um grande fã da série original estrelada pelo Charles Bronson e seu bigode em busca de vingança. Eu também não sou o que se pode chamar de um entusiasta, mas, diferente do meu xará, eu gosto da série moderadamente.
Vai ver porque ela me lembra da minha infância assistindo Domingo Maior, vai ver porque Charles Bronson – e sua expressão impassível que parece ter sido esculpida em pedra – foi um dos primeiros heróis de ação de que eu me lembro. Ou vai ver eu simplesmente ache o título “Desejo de Matar” legal bagarai.
Seja como for, um tempo atrás, quando fiquei sabendo que ia sair este remake (que ainda não assisti), considerei uma boa oportunidade para rever todos os filmes da série, algo que fiz no curso de uma semana no final do ano passado, assistindo um por dia.
E com a nova versão em nossas salas, por que não aproveitar a ocasião para relembrar da saga do arquiteto Paul Kersey, dos azarados membros de sua família que sempre acabam comendo capim pela raiz e de seu enorme desejo de matar todos os meliantes que cruzam seu caminho?
Vale o aviso de que alguns SPOILERS habitarão o resto desta matéria. Contudo, considerando que o último filme já tem mais de vinte anos, acho que o estatuto já prescreveu. Ainda assim, considere-se avisado. Então carregue sua pistola e venha comigo a um passeio noturno por ruas perigosas!
DESEJO DE MATAR (Death Wish – EUA – 1974)
Quem morre? A esposa e a filha do arquiteto novaiorquino e veterano da Guerra da Coreia Paul Kersey são atacadas por uma gangue de arruaceiros de rua. A esposa é espancada e morta e a filha é estuprada e acaba num estado catatônico devido ao trauma.
O “big mistake”: Este fato, além da incapacidade da polícia em pegar os meliantes e da sensação geral de insegurança pública em Nova Iorque faz com que Paul resolva comprar uma arma e virar um justiceiro urbano, metendo bala em qualquer criminoso que cruze seu caminho. Não demora muito para que a opinião pública fique do seu lado, o que vira um problema para a polícia, que não sabe o que fazer com ele.
Nível de desejo de matar: Moderado. Eu discordo do que o Corrales e seu amigo não identificado falaram na resenha da refilmagem sobre o original ser campy. Na realidade, este longa é bastante sério e pode até ser considerado mais um drama do que um filme de ação propriamente dito. À época, Nova Iorque vivia uma crise de segurança pública com altas taxas de criminalidade e o debate sobre fazer justiça com as próprias mãos e a filosofia do “bandido bom é bandido morto” estava em alta por lá, assim como hoje são temas bastante discutidos no Brasil por causa de nosso perene estado de insegurança pública. Desta forma, acaba sendo um retrato de uma época. O filme, assim como a série toda no geral, não foi recebido bem pela crítica, que detectou um tom panfletário em seu discurso. E embora a franquia descambasse para uma pegada mais abertamente de ação exagerada nos exemplares seguintes, este aqui é um filme de tom sério, mais realista, mais escorado na trama e menos nos tiros.
Curiosidade: Um jovem Jeff Goldblum faz aqui sua estreia no cinema como um dos membros da gangue que barbariza a família de Paul Kersey.
Nota: 3,5
DESEJO DE MATAR 2 (Death Wish II – EUA – 1982)
Quem morre? Após os eventos do final do primeiro filme, Paul agora está morando em Los Angeles. Mas isso não impede a violência de segui-lo. A empregada doméstica (sério!) de Paul e a filha traumatizada do protagonista são atacadas por uma nova gangue de bandidos. A empregada é estuprada e morta. A filha é sequestrada, estuprada e acaba cometendo suicídio.
O “big mistake”: diferente do filme anterior, onde Paul nunca encontrou os responsáveis pelo ataque à sua família, aqui a coisa fica pessoal! Afinal, neste ele faz questão de despachar um por um cada um dos responsáveis pela violência contra seus entes queridos.
Nível de desejo de matar: Alto. Os direitos da série foram adquiridos pela Cannon (o original foi produzido pela Dino De Laurentiis Corporation), uma folclórica produtora especializada em filmes baratos e de qualidade pra lá de questionável. Logo, o tom sério do primeiro filme começa aos poucos a dar tchau tchau. Esta sequência é basicamente o mesmo filme, apenas passado em outra cidade. Tipo o Duro de Matar 2, que é igual ao primeiro, mas num aeroporto.
Curiosidade: Se o primeiro tinha um estreante Jeff Goldblum como um dos bandidos que deixam Charles Bronson com desejo de matar, neste aqui um jovem Laurence Fishburne é um dos malfeitores que insistem em fazer mal à família do protagonista.
Nota: 2,5
DESEJO DE MATAR 3 (Death Wish 3 – EUA/Israel/Reino Unido – 1985)
Quem morre? Paul Kersey retorna a Nova Iorque para fazer uma visita a um amigo, apenas para encontrá-lo dando seu último suspiro. Acontece que ele foi espancado por uma gangue que dominou o bairro e está aterrorizando seus moradores.
O “big mistake”: Primeiro matam sua família, agora passam para seus amigos? Paul Kersey não admite isso e vai morar no apartamento do chapa morto, onde passa a arquitetar suas estratégias para livrar não só o bairro, mas todo o plano de existência, da gangue em questão.
Nível de desejo de matar: Gigantesco. Este é o meu favorito da série e o único que descamba para a fanfarronice total. Ele é praticamente uma versão sangrenta de Esqueceram de Mim, com Charles Bronson fazendo várias armadilhas caseiras para pegar e despachar os membros da gangue. A forma como ele se livra do líder é épica. A trama, passada num bairro dilapidado que mais parece uma zona de guerra de tão detonado e o visual totalmente exagerado da gangue mostra que a série perdeu de vez o senso do ridículo.
Curiosidade: O grande e malvado líder da gangue é a cara do Paul Bettany! Mas claro, não é ele… Em compensação, Alex Winter (O Bill da dupla com o Ted) faz um dos membros da gangue.
Nota: 4
DESEJO DE MATAR 4 – OPERAÇÃO CRACKDOWN (Death Wish 4: The Crackdown – EUA – 1987)
Quem morre? De volta a Los Angeles, Paul Kersey reconstruiu sua vida, com direito a namorada nova. Porém, quando a filha desta morre de overdose de cocaína, ele decide mostrar aos traficantes com quantas balas se faz uma metranca e vai desbaratar a principal quadrilha da cidade com métodos bastante criativos. E numa das maiores sacanagens da história da série, a namorada, que passa o filme todo viva, é morta nos últimos segundos da película, só para não quebrar a tradição!
O “big mistake”: Quando quem começa a morrer são os parentes postiços do protagonista, você sabe que a coisa já dispensou qualquer traço de seriedade há tempos. Ironicamente, este aqui é o exemplar que tem o roteiro mais trabalhado de toda a série, com direito até a reviravolta no final. Não estou dizendo o melhor, apenas aquele que recebeu mais atenção.
Nível de desejo de matar: Grande. Não chega a ser a pequena guerra civil do anterior, mas ainda assim, zerar toda uma organização de tráfico de drogas dá trabalho. Tanto que para cumprir a tarefa Kersey conta até com a ajuda de um benfeitor e de planejamento, sendo assim um vigilante mais cabeça e menos “saque e atire” do que antes.
Curiosidade: Neste aqui não tem nenhum futuro ator famoso num papel pequeno. Mas, segundo o IMDb. ele é o único da série onde ninguém paga peitinho.
Nota: 3,5
DESEJO DE MATAR 5 (Death Wish V: The Face of Death – EUA/Canadá – 1994)
Quem morre? Paul está de volta a Nova Iorque, vivendo na grande maçã com um novo nome, bem como com uma nova mulher, de quem está noivo. Porque, afinal, mesmo com a alta taxa de mortalidade, quem consegue resistir ao Charles Bronson? Enfim, mafiosos começam a assediar sua noiva para tirar dinheiro de seu negócio de moda. Ela acaba terrivelmente agredida e, mais tarde, assassinada. Você já sabe o que acontece.
O “big mistake”: Criminosos de rua, gangues de delinquentes, traficantes de drogas. Charles Bronson não faz distinção e mata todos com igualdade. Faltava pegar a máfia. Não falta mais. Os caras foram mexer com a noiva de Paul Kersey, agora vão se encontrar com Vito Corleone no inferno.
Nível de desejo de matar: Decepcionante. Embora mais uma vez a coisa seja pessoal, nota-se que a repetição já deu o que tinha que dar. O filme é pouco inspirado, barato e meia-boca, requentando situações de outros momentos da série, sem muita pegada.
Curiosidade: Este foi o último filme de cinema de Charles Bronson, que já tinha 71 anos durante sua produção . Depois deste, ele só fez mais três telefilmes e se aposentou de vez até falecer em 2003. Havia a ideia de fazer um sexto longa substituindo Bronson e seu Paul Kersey por um novo vigilante mais jovem, mas a coisa acabou não indo para frente.
Nota: 2
E assim concluímos nosso passeio pelas memórias de alta mortalidade da série Desejo de Matar. Para muitos, uma gigantesca tranqueira sem possuir sequer um mínimo de qualidade trash. Para outros, um gosto adquirido. E você, o que acha da saga? Não viu? Não quer nem dar uma chance? Vai assistir pelo menos ao remake do Eli Roth? Conte para nós suas opiniões sobre ela e até a próxima!