Operação Big Hero

0

A Disney, você se lembra, comprou a Marvel em 2009. E, apesar de certa apreensão inicial de que poderíamos ver crossovers entre Capitão América e Pato Donald nas telonas, por exemplo, nada disso aconteceu e a empresa mãe concedeu à sua subsidiária a mesma autonomia que esta possuía quando era independente.

A Marvel Comics continuou lançando seus quadrinhos e o Marvel Studios continuou produzindo seus filmes de super-heróis como se nada tivesse acontecido, enquanto a Disney continuou a lançar suas populares animações. Mas era mesmo somente questão de tempo até que rolasse um bem-bolado entre os dois e o resultado pode ser conferido em Operação Big Hero.

Isso porque a nova animação dos estúdios Disney é baseada numa HQ da Marvel Comics. E a exemplo de Guardiões da Galáxia, é focada num grupo obscuro do qual o grande público nunca deve ter ouvido falar. Mais uma vez, devo admitir que sequer sabia que esse tal de Big Hero 6 existia. No entanto, diferente dos Guardiões, que estão por aí desde os anos 70, uma rápida pesquisa na Wikipédia mostra que esta equipe é muito mais recente, tendo feito sua estreia em 1998, época em que eu já não acompanhava mais a Marvel tão de perto.

Seja como for, antes de saber do longa em si, convém falar um pouco do aperitivo, o curta-metragem que a Disney passou a exibir, a exemplo da Pixar, antes da atração principal. Então vamos lá.

Chamado Feast (“banquete”, em tradução literal. A cabine foi exibida com som original e sem legendas, então não sei como o curta será oficialmente batizado por aqui), mostra um simpático cãozinho comilão e como a relação com a comida que seu dono lhe serve muda quando este arranja uma namorada. Sem falas, tem um visual bem bonitinho, mas é apenas isso, um pequeno preâmbulo fofinho para a atração principal.

O ROBÔ MAIS ABRAÇÁVEL JÁ FEITO

Agora sim, voltemos a Operação Big Hero e sua sinopse. Hiro Hamada é um jovem gênio da robótica que desenvolve uma tecnologia revolucionária de mini robôs na esperança de ganhar a oportunidade de estudar no mesmo instituto que seu irmão mais velho. Mas acontece um acidente e, quando os robôs de Hiro voltam a aparecer, controlados por uma figura sinistra, ele decide descobrir o que está acontecendo.

Ao lado do robô enfermeiro Baymax e de seus colegas de instituto igualmente geniais, acabarão por tornar-se uma nova equipe de heróis, numa clássica história de origem, que consegue ser bastante divertida, mas também, por usar dos mesmos artifícios que já vimos em praticamente todos os longas de super-heróis existentes, sem grandes novidades e até um tanto batida.

Sem dúvida o mais legal da animação é a relação entre Hiro e Baymax. O robô inflável branco é a grande estrela do filme, protagoniza os melhores momentos e as piadas mais engraçadas. E, além disso, é extremamente fofinho, neste caso literalmente. Dá a maior vontade de imitar os personagens do filme e abraçá-lo. Sem dúvida, a molecada vai adorá-lo e ele vai render uns brinquedos bem legais.

O design geral do filme é outra grande sacada, com sua mistura de elementos. Como ele se passa na cidade de San Fransokyo, um cruzamento de San Francisco com Tóquio, realmente integraram elementos de ambas as localidades em uma só. Temos as grandes ladeiras de San Francisco com placas e prédios com decorações e arquitetura japonesas, por exemplo. E a ponte Golden Gate com os pórticos vermelhos tipicamente nipônicos, ao estilo daqueles do bairro da Liberdade, em São Paulo, outra grande sacada visual do longa.

Ele é realmente bonito e essa ótima mistura de elementos visuais ocidentais e orientais deixa tudo ainda mais charmoso, mas achei determinadas cenas escuras demais, o que não combina muito com o tom leve e bem-humorado da aventura, que presta boas homenagens aos quadrinhos, principalmente quando o grupo passa a bolar seus uniformes e traquitanas.

Deram um jeito de colocar até a tradicional ponta de Stan Lee, e de um jeito que homenageia de forma muito bacana o pai da Casa das Ideias. O longa é muito bem sucedido em ser praticamente um filme da Marvel (só que em animação) para um público mais jovem (e que agrada também os adultos). É movimentado, engraçado e absurdamente fofo, enquanto fundamenta as bases para ser uma franquia em potencial.

Como o primeiro longa animado baseado em um produto Marvel, mas produzido diretamente pela Disney, Operação Big Hero é um tremendo acerto e mostra que aquela preocupação toda dos primórdios, de Pluto entrar nos Vingadores, era completamente desnecessária. Este filme mostra um caminho muito mais interessante para a Disney explorar. E se os produtos que se seguirem tiverem a mesma qualidade dessa animação, teremos coisas boas por aí nos próximos anos.

CURIOSIDADE:

– Seguindo a tradição dos filmes da Marvel, este aqui também tem uma cena pós-créditos e é muito bacana. Vale a pena ficar até o final.

REVER GERAL
Nota
Artigo anteriorJohnny Marr – Playland
Próximo artigoAs Férias do Pequeno Nicolau
Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
operacao-big-heroPaís: EUA<br> Ano: 2014<br> Gênero: Ação/Comédia/Animação<br> Duração: 108 minutos<br> Roteiro: Robert L. Baird, Daniel Gerson e Jordan Roberts<br> Elenco: Scott Adsit, Ryan Potter, Daniel Henney, T.J. Miller, Jamie Chung, Damon Wayans Jr., James Cromwell e Alan Tudyk.<br> Diretor: Don Hall e Chris Williams<br> Distribuidor: Disney<br>