O Lenhador

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Eu adoro temas polêmicos. Para mim, nada é mais legal do que enfiar o dedo sem dó na ferida da nossa sociedade hipócrita (aproveite e leia a coluna Pensamentos Delfianos). E, convenhamos, em tempos de Kelly Key e Queer Eye For The Straight Guy, provavelmente mais nada relacionado ao sexo é tabu. Nada, a não ser o tema deste filme: a pedofilia, assunto no qual, admito, até mesmo eu tenho medo de tocar, pois é algo que exige muito cuidado para ser discutido.

Estrelado pelo “sósia do Bon Jovi com sobrenome de comida”, Kevin Bacon como o protagonista Walter, O Lenhador nos leva a acompanhar o personagem durante sua liberdade condicional, após passar 12 anos na prisão cumprindo pena por molestar garotinhas. Ele arranja emprego em uma serraria, onde conhece e começa a namorar Vickie (Kyra Sedgwick, a esposa de Bacon na vida real). Obviamente, o pessoal do trabalho acaba descobrindo sobre o vergonhoso passado de Walter e começa a julgá-lo. Paralelamente, Walter recebe freqüentes e humilhantes visitas do policial Lucas (o rapper Mos Def), que insiste que está de olho nele. E isso tudo acontece enquanto o próprio Walter luta contra seus desejos mais negros e a constante tentação das garotinhas que ele vê pelas ruas usando mini-saias e roupas reveladoras.

Um dos maiores trunfos de O Lenhador é justamente o de colocar no papel do protagonista um personagem que normalmente seria um vilão desumano. Com isso acompanhamos seu desenvolvimento, sua constante luta em vencer seus instintos sexuais e as memórias e o sentimento de culpa que o consome.

Como nunca nada é perfeito e esse é um filme proveniente dos “States”, ele simplesmente não poderia escapar de todos os clichês do gênero e precisava ter um vilão, personalizado pelo personagem Candy. Embora este personagem protagonize uma das melhores cenas do filme (a cena do rapto com narração esportiva), ele é completamente desnecessário. Afinal, este não é um filme de heróis e vilões, mas um filme sobre seres-humanos, com suas qualidades e defeitos. O que, na cabeça dos roteiristas, torna Walter melhor do que Candy (ou mesmo do que qualquer um de nós)? O arrependimento? Ora, isso parece ter sido tirado da Bíblia e desculpe, mas não me convence. Não temos todos nós momentos de nossas vidas dos quais nos arrependemos e nos envergonhamos? “Quem não tem pecados que atire a primeira pedra” para usar outra citação bíblica.

Apesar disso, a direção de Nicole Kassel e os atores desempenham seu papel excepcionalmente bem e algumas cenas são realmente ótimas. É o caso da supracitada cena do rapto, mas também do último diálogo de Walter com a garota Robin (que diz ter nome de pássaro, mas para mim ela tem é nome de super-herói).

Para concluir, fecho dizendo que O Lenhador é um dos melhores filmes dramáticos dos últimos anos. Tem algumas cenas chocantes e o tema é para lá de polêmico e justamente aí reside sua força. Não perca. Ele estréia nessa sexta, 4 de março.

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