O Fada do Dente

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Alfredo, Alfredo de la Mancha, Delfos, Mascote, Alfred%23U00e3o, Delfianos

Quando eu era criança, adorava o céu, o universo e tudo mais. Um dos meus principais sonhos de consumo na época era ter um telescópio para ver as estrelas mais de perto. Daí eu colocava meu dentinho de leite no travesseiro e pedia um telescópio para a fada do dente. No dia seguinte, encontrava uma luneta. Explicava que aquilo era uma luneta e não um telescópio e, no próximo dente, ganhava outra luneta. Todos os meus dentes de leite viraram lunetas. O resultado é que hoje eu sou um adulto amargo que nunca viu estrelas de perto e tirei disso a única conclusão possível: a fada do dente é burra!

Agora, sejamos sinceros. O The Rock é um sujeito legal, mas quantos filmes bons ele fez? Ele tem carisma e porte para ser o sucessor do Arnoldão, mas não sei se por escolha própria ou por falta dela, dificilmente vemos o sujeito em um filme bom, mais ou menos como acontece com o também carismático Brendan Fraser.

Pois quem diria? O Fada do Dente, apesar de ter todas as características de uma bomba, é bem legal. Aqui conhecemos um jogador de hockey que não acredita em sonhos e fantasias. Daí, para aprender uma lição, as fadas do dente obrigam-no a criar asinhas e recolher dentes de crianças durante duas semanas. Desnecessário dizer que, a partir daí, rolam altas confusões.

Sim, eu sei. A história é ridícula de tão ruim. Alguns personagens (como o rival do time de hockey), são completamente bidimensionais e a solução clichezenta para resolver algo sempre é a escolhida. Isso tudo fica ainda mais grave no terceiro ato, que segue aquela fórmula Steve Screenwriter de fazer tudo na vida do sujeito dar errado num intervalo de dois minutos para, dez minutos depois, resolver tudo magicamente.

Como se isso não bastasse, nessa terceira metade tem alguns furos muito feios. A asa do nosso amigo, por exemplo, dobra de tamanho no final do filme. E ele começa a escondê-la de acordo com a sua vontade, do nada. Considerando que boa parte das piadas rola por causa das confusões causadas por asinhas brotando em momentos inconvenientes, isso foi beeem feio.

O lado bom é que, por pior que seja essa terceira metade, as duas primeiras metades são muito, muito engraçadas. É um humor bem bobo e inocente, girando em torno de confusões e horas inconvenientes. Até por isso mesmo, no entanto, é muito divertido. Eu cheguei até a ficar com lágrimas nos olhos de tanto rir – e não é fácil um filme conseguir isso.

A cena em que The Rock está com o sujeito que fornece os equipamentos das fadas, sozinha, vale o ingresso do filme. Esse personagem é tão legal que é uma pena que ele só apareça duas vezes. Saca só esse diálogo:

– O que é isso?
– Parece um cabo de iPod, não?
– Sim, mas o que é?
– (com cara de quem está falando uma coisa óbvia) É um cabo de iPod.

E esse é só um exemplo, pois a cena em questão é repleta de momentos gargalhatórios (quantas vezes tenho que me desculpar? Seis vezes). Além disso, é inegável que o The Rock transborda carisma e não estou exagerando ao dizer que ele leva o filme nas costas – e muito bem.

Assim, O Fada do Dente não só não é uma bomba, como é um filme divertidíssimo, que tem tudo para ser um clássico futuro da Sessão da Tarde. Se você gosta do gênero, não perca!