O Contador

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Quando você trabalha vendo filmes, acaba sendo bem mais difícil se surpreender com alguma coisa. Por isso, quando acontece sempre é legal. Foi o caso com O Contador. Esperava um thriller genérico escorado na popularidade do Ben Affleck, e acabei recebendo um dos mais improváveis heróis de ação dos últimos anos.

A bem da verdade, é preciso dizer, o filme seria sim bastante comum e facilmente esquecível, não fosse seu protagonista. E a melhor forma de explicá-lo é: imagine se o Rain Man tivesse o mesmo conjunto de habilidades muito específicas do Liam Neeson na série Busca Implacável. É, é algo que ficou ótimo.

Ben Affleck é o contador do título, chamado Christian Wolff. Ele tem um tipo de autismo que o torna muito bom de matemática, mas incapaz de expressar emoções (e sacanagens à parte, o fato é que o papel cai como uma luva para o ator) e com dificuldades de socializar com os outros. Christian também presta seus serviços de contabilidade para organizações criminosas, para lavagem de dinheiro e tal, o que o põe na mira do Departamento do Tesouro dos EUA.

Contudo, o bicho vai pegar mesmo quando, após um trabalho mais recente, ele passa a ser perseguido por gente querendo apresuntá-lo. Mas como eu já disse, o sujeito é bom tanto em matemática quanto em chutar traseiros. E como seu autismo faz com que ele não fique satisfeito até terminar uma tarefa, pode ter certeza que ele vai até o fim.

É um personagem muito bom e muito bem desenvolvido. Toda a história de como ele ficou tremendão desse jeito é contada através de flashbacks. É muito bacana ver um herói de ação que sai do estereótipo comum do gênero como o sujeito taciturno ou o fanfarrão cheio de frases de efeito. E ainda assim, o filme tem vários momentos engraçados justamente pelas reações de Christian, que para ele são normais.

O roteiro poderia ser menos cheio de reviravoltas (ainda que uma delas seja divertidona, mas não rende o esperado, algo que pode deixar parte da plateia decepcionada), mais simples e direto e funcionaria igualmente bem, se não até melhor. E personagens mais carismáticos, como os do Jon Bernthal e da Anna Kendrick, definitivamente mereciam muito mais tempo de tela.

Poderia se assumir mais como um filme de ação sem vergonha de abraçar seu lado Testosterona Total, mas prefere posar como um thriller mais adulto e sério. Como resultado, ele não tem tantas sequências de ação assim.

Mas enquanto isso não influi no ritmo geral da película, é inegável que se tivesse mais tiroteios e porrada seria ainda mais bacanão. Dava para tirar fácil todas as cenas dos agentes do Tesouro, que não servem para absolutamente nada, e trocá-las por mais sequências de ação numa boa.

Seja como for, O Contador acabou revelando-se uma grata surpresa, sendo bem divertido durante toda sua duração. Para quem gosta de um herói de ação diferente, sem dúvida vale a assistida. E o contador/badass do Ben Affleck poderia virar fácil o protagonista de uma franquia. Por isso, caso haja uma continuação, isso sim não será surpresa alguma.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
o-contadorPaís: EUA<br> Ano: 2016<br> Gênero: Thriller<br> Duração: 128 minutos<br> Roteiro: Bill Dubuque<br> Elenco: Ben Affleck, Anna Kendrick, Jon Bernthal, J.K. Simmons, Jeffrey Tambor e John Lithgow.<br> Diretor: Gavin O'Connor<br> Distribuidor: Warner<br>