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Quando o pessoal mais puritano acusa o Rock de lidar com “forças” obscuras, há uma certa ponta de razão. Que o diga o mago Aleister Crowley (1875-1947), autodenominado A Besta, uma fonte de inspiração para artistas distintos, como Beatlles, Raul Seixas e Ozzy Osbourne. Crowley é uma figura controversa, respeitado por uns e charlatão para outros. Autor do famoso Livro da Lei, no qual Raul se baseou para fundar o que chamaria de Sociedade Alternativa, Aleister Crowley deixou, entre outras coisas, a máxima citada pelo músico brasileiro: Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei.
Raul Seixas estava à frente de seu tempo. Para o público que entoava suas canções, e os que ainda fazem delas as mais longevas de nossa música popular, o baiano era um fanfarrão anarquista. Isto é uma verdade a seu respeito. Mas Raulzito (como é “carinhosamente” conhecido) encerrava em suas letras, um conteúdo hermético, ininteligível para os não-iniciados. Ele discorria, em meio ao deboche, sobre o transcendental.
Em meados da década de 1960, o mundo passava por uma transformação. A guerra do Vietnã, retratada em dois grandes momentos do cinema, Apocalipse Now (1979) e Nascido Para Matar (1987), foi o estopim da descrença de da rebeldia. A insurreição dos jovens tomou forma através do movimento hippie, fazendo história com o Woodstock (1969), um festival verdadeiramente artístico que culminou numa orgia de sexo e muita droga.
Anton LaVey foi o fundador da Igreja de Satã, e escritor da bíblia que regia a mesma. Seus rituais parodiavam os da Igreja Católica e seus preceitos formaram a base do satanismo moderno.
Em 1969, o lendário produtor William Castle deixou seu passado de filmes “B”, firmando uma parceria com o diretor Roman Polanski. Daí nasceu o filme baseado na obra de Ira Levin, O Bebê de Rosemary. Visto hoje, o impacto do longa já não é o mesmo. Mas seu conteúdo é denso e paranóico, versando sobre uma seita demoníaca. E o próprio LaVey serviu como consultor e fez o papel de Satã no filme.
O Bebê de Rosemary integra uma espécie de “trilogia informal”, e os outros vértices do triangulo são formados por O Exorcista (1973) e A Profecia (1976). Os três filmes foram concebidos isoladamente, mas refletem uma atmosfera pesada e mística que pairava sobre o período.
O surgimento de bandas como o Led Zeppelin e, particularmente, o Black Sabbath reforçaram o caos (no bom sentido) musical inaugurado no disco que pode ser considerado o mais importante de todos os tempos: Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles. Lançado em 1º de junho de 1967, o álbum provocou um reboliço, com inovações que iam desde a gravação até a capa, onde várias figuras famosas “posavam” – incluindo, veja só, o senhor Aleister Crowley. Acabou a era inocente dos Fab Four. Eles foram apresentados a um mundo obscuro.
Mas nem só de ocultismo e seitas satânicas viveu a década de 1970. Martin Scorsese concebeu Táxi Driver (1978) como um libelo sobre a decadência moral da sociedade e a ressaca do falido “paz e amor”. No filme, Robert De Niro é um ex-combatente do Vietnã que, trabalhando como taxista em Nova Iorque, se vê cercado pela miséria humana. Como conseqüência disso, é inevitável que ele enlouqueça.
Vista – e ouvida – hoje, a arte da época soa como uma predição para o que vivemos. Num contexto puramente secular, até mesmo as fantasias demoníacas soam como verdadeiras metáforas aos desastres pelos quais a humanidade enveredou. O 11 de setembro, a Guerra do Iraque e tudo aquilo que tem nos chocado nos anos 2000. Eles erraram ao dizer que o mundo acabaria no começo deste milênio, mas não passaram tão longe assim. Não por acaso (e para o ódio dos fãs), A Profecia ganhou sua versão 2006, atualizando as catástrofes que acompanham a chegada do Anticristo.