Noturnall – First Night Live

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Um dos meus primeiros textos aqui no DELFOS foi a resenha do primeiro álbum do Noturnall. A banda, que é quase toda composta por ex-membros do Shaman, teve uma gênese tão conturbada quanto a do próprio Shaman, com idas e vindas mais surpreendentes do que as d’A Usurpadora. Na época eu achei por bem mostrar o pano de fundo em que a banda surgiu para deixar claro que, assim como outras bandas com histórias complicadas, o background não tornava o som menos interessante.

Eu estou rememorando essa história pelo simples fato de que as semelhanças com o Shaman foram ainda mais além do que o nascimento conturbado. Lembra que o primeiro DVD do Shaman, foi gravado logo na primeira turnê da banda? Pois então, o Noturnall fez quase a mesma coisa, só que um nível acima: eles gravaram o DVD no primeiro show que a banda fez ao vivo após o lançamento do disco!

Quando eu fiquei sabendo disso eu fiz a mim mesmo a pergunta que você, delfonauta, provavelmente está se fazendo: isso vai dar certo? É claro que deu, até porque é importante lembrar que este não é exatamente o primeiro show da banda. À exceção do baterista Aquiles Priester, todos os outros músicos já se conheciam dos tempos de Shaman, então entrosamento eles possuíam.

Como se não bastasse, a apresentação do DVD não foi nem o primeiro show do Noturnall, pois eles já haviam se apresentado antes. Foi inclusive na apresentação anterior que a banda tocou Angels and Demons, do Angra, e isso fez com que muitos se perguntassem se eles tocariam essa música de novo na gravação do DVD – o que não aconteceu.

NADA MAIS DE POWER METAL

O que mais desperta a curiosidade no Noturnall é como eles usam os elementos do Power Metal e fazem algo completamente diferente das bandas do gênero. A temática da banda cria um clima sombrio à Slipknot e Rob Zombie, mas não traz uma performance tão caricata quanto essas bandas, criando uma mistura por vezes rara de se ver. Eu recomendaria essa banda a qualquer fã de metal – basta ter a mente aberta para ver elementos que você gosta aliados a outros que você não gosta tanto.

E essa mistura funciona muito bem ao vivo. A banda teve um cuidado exemplar para criar a atmosfera que permeia as músicas, com vídeos de fundo feitos especificamente para cada uma delas. É claro que nem todos funcionam tão bem, como por exemplo a introdução do show e a da música Zombies, cujos vídeos lembram bastante aquela introdução live-action do primeiro Resident Evil.

O problema desses vídeos é que as ideias eram boas, mas a execução deixou um pouco a desejar, o que apenas torna caricato algo que era para ser assustador. Tirando isso, contudo, todos os outros detalhes audiovisuais da apresentação ficaram bem legais, e aqui eu dou destaque a um que é exclusivo do DVD.

HOLOGRAMAS?!

Durante as performances, nós vemos os vídeos que estão passando no telão por cima das imagens do DVD, e em alguns momentos, quando estão passando legendas, a impressão que temos é que são hologramas que de fato existiam no show. Veja o vídeo abaixo que você vai entender o que eu estou falando.

Quem vê o promo-video de Hate!!! acha que realmente havia hologramas no show, mas ao longo do DVD você percebe que na verdade esses efeitos foram colocados posteriormente, na edição de vídeo. Contudo, o cuidado foi tanto em se colocar as legendas no lugar certo que o efeito acaba funcionando muito bem, criando uma experiência que só é possível no DVD – assim, ainda que você não tenha ido ao show e tenha perdido uma experiência única, você não será prejudicado, pois estará pagando para ter outra experiência única.

O curioso, contudo, foi reparar que não havia a opção para mudar o áudio. No menu não há essa opção e tampouco no encarte vemos algo a respeito. Estranho, principalmente se tratando de um DVD musical.

EM CIMA DO PALCO

O que deixa tudo mais legal, contudo, são as participações especiais, que nesse DVD correspondem ao vocalista Russel Allen e também ao violoncelista-prodígio Luiz Fernando Venturelli. Este último, por sinal, é uma das maiores surpresas do DVD, atraindo toda a atenção do público em sua participação no cover de Symphony of Destruction, do Megadeth – o que, é claro, tem um motivo: ele possui treze anos e fez do solo um duelo entre violoncelo e guitarra!

Falando agora sobre a performance da banda em si, repito o que já havia dito: a banda está super entrosada. Deixo um destaque especial aqui para Thiago Bianchi, que surpreendentemente consegue cantar de forma agressiva, sem fazer feio quando está na presença de um cantor como Russell Allen. Eu achava a voz do Bianchi extremamente limpa e tinha quase certeza de que ele não daria conta de preencher as músicas como a voz de Russell faz, mas tenho que admitir que estava errado.

Porém, uma coisa que eu não entendi é como o teclado de Junior Carelli sumia e reaparecia. Na primeira música, No Turn at All, eu via com frequência o tecladista tocando mas não ouvia som nenhum, ao passo que no momento seguinte ele tocava e o som do teclado surgia. Cheguei a cogitar o fato de que havia problemas técnicos – o som só sumia quando ele usava um dos três teclados que estavam no palco -, mas lá para o final da música ele usou o teclado que eu julgava estar com problemas e funcionou perfeitamente.

Fora isso, como eu já tinha destacado na resenha do CD, o teclado de Junior Carelli ainda está bastante apagado. Se por um lado as linhas de teclado aparecem mais no DVD do que no álbum, por outro elas não aparecem satisfatoriamente para eu dizer que este problema foi resolvido.

UMA BOA APRESENTAÇÃO, PORÉM IRREGULAR

Mas o grande problema do DVD para mim foi mesmo a maneira como o setlist foi organizado. O show começou frenético, com uma música mais pesada do que a outra, mas depois da sétima música veio o momento solo de Aquiles Priester, PsychOctopus. Depois, a banda convidou o violoncelista Luiz Fernando Venturelli para o palco, tocou uma das baladas do álbum (Last Wish) e seguiu então com Symphony of Destruction, do Megadeth. Logo após, veio o momento solo do guitarrista Léo Mancini, intitulado Brazillian Act.

O problema é que todas essas músicas, apesar de terem sido muito bem executadas, quebraram a atmosfera que a banda havia trazido até então. A balada Last Wish e PsychOctopus, por mim, poderiam ser excluídas por não acrescentar nada, ao passo que o Brazillian Act e a Symphony of Destruction poderiam ter sido deixados mais para o final.

Digo isso por um simples motivo: no fim do show, Russell Allen executou três músicas, Nocturnal Human Side, Stand Up and Shout, do Dio, e War Pigs, do Black Sabbath. Pense comigo, delfonauta: já que Russell iria executar covers no fim do show, por que não deixar o Brazillian Act e a Symphony of Destruction para o final também? Afinal, elas são músicas que também estão à parte da atmosfera própria do Noturnall, e entre elas e a entrada de Russell Allen faltavam apenas duas canções da banda.

Penso que seria mais lógico terminar a performance de músicas da banda completamente e deixar essas outras apresentações para um segundo momento do show, especialmente para performances especiais, pois do jeito que foi feito ficou bastante confuso: primeiro um solo de bateria, depois uma balada, depois um cover e por fim um solo de guitarra. Era tanta informação diferente do que tinha sido apresentado que foi só quando veio a música seguinte – Fake Healers – que eu me lembrei que estava assistindo a um DVD do Noturnall.

O EXTRA SURPREENDENTE

Quanto aos extras, não tem muito o que ser dito: a respeito do show em si, o DVD possui dois vídeos, um que mostra os equipamentos utilizados na gravação e um making of. Já quanto aos clipes, aqui temos os três clipes já lançados pela banda até agora (Nocturnal Human Side, No Turn at All e Woman in Chains), um clipe para a música Sugar Pill que nada mais é do que um apanhado de imagens da banda em estúdio e o mais legal de todos: o clipe feito por Juninho Carelli chamado Little Big Adventure.

Esse clipe não é uma produção do Noturnall e não tem rigorosamente nada a ver com a banda, mas é tão bem feito que surpreende. Provavelmente foi a parte do DVD que mais me surpreendeu, e justamente por ser algo completamente inesperado é que funciona tão bem. Felizmente, a banda colocou o vídeo no seu canal do Youtube, então para os que quiserem se surpreender, basta apertar o play.

NO TURNING BACK, NO TURN AT ALL

First Night Live se mostra um ótimo registro de uma banda que promete bastante. É um trabalho muito bem produzido e em certos momentos surpreendente, coisa que está faltando no mundo da música hoje em dia. Ainda que possa ter alguns equívocos em determinados momentos, não deixa de ser um produto de alta qualidade. E que venha o próximo disco da banda!

CURIOSIDADES

Rodrigo Silveira, o baterista da banda solo do Andre Matos, aparece rapidamente em dois momentos nos extras, trabalhando nos bastidores do show.

– A bateria do Aquiles está ainda maior do que era no show do Angra, e agora ela toma quase metade do palco. A impressão que eu tenho é de que a bateria é tão grande que deve ter algum roadie perdido lá dentro.

– Existe um erro no menu. Quando você vai na lista de músicas, a faixa Nocturnal Human Side está escrita Noturnall Human Side.

– A curiosidade acima não é uma curiosidade, é só um detalhe irrelevante que eu coloquei para prender você aqui por mais tempo – e o mesmo se aplica a este item que você está terminando de ler agora.