Fazia tempo que eu não assistia a um filme sem esperar absolutamente nada dele, só para acabar tendo uma grata surpresa. É o caso do tema da resenha de hoje, Não Aceitamos Devoluções. Também sabia muito pouco da trama, algo que contribuiu igualmente para eu ter apreciado tanto o longa.
Por conta disso, darei só o básico da sinopse, para não estragar a surpresa de quem porventura vá assisti-lo. Valentín é um autêntico cafajeste do Guarujá de Acapulco que pega uma mulher atrás da outra. Um belo dia, um de seus casos, uma estadunidense, aparece em sua porta com um bebê a tiracolo, que alega ser filha dele, e larga a criança com ele.
Valentín tenta ir atrás dela nos EUA para devolver a criança, mas não consegue encontrá-la. O cara acaba ficando por lá com a filha, pela qual se afeiçoa, e a cria de uma forma totalmente tremendona, sustentando-a graças a um emprego de dublê de cenas perigosas em Hollywood.
Contar mais que isso não vale a pena. Mas acredite, isso é apenas uma pequena parte do todo. E acontece coisa pra caramba nessa história. O que mais surpreende, contudo, é a pureza dos sentimentos que ela consegue passar, aliado, ainda por cima, a um bom senso de humor.
O longa tem piadas e referências bastante divertidas, muitas delas de alto teor nerd. E é particularmente hilário quando mostra Valentín no seu trampo de dublê. E a relação dele com a filha, Maggie, é realmente bonita. O roteiro consegue se fazer valer de algumas situações clichês desse tipo de trama para fortalecer ainda mais a relação entre pai e filha e torná-la algo realmente especial.
A química entre os dois atores (Eugenio Derbez e Loreto Peralta, que, apesar do nome, é mesmo uma menina) é incrível e todo o universo particular construído entre eles é simplesmente mágico. Basta ver o apartamento onde eles moram, sensacional.
Contudo, o filme não fica só na comédia, e o drama também dá as caras. É aquele estilo tradicional mexicano, um tanto mais exagerado do que estamos acostumados aqui em terras brasilis, mas conseguindo relevar essa diferença, funciona muito bem.
E vai mesclando muito bem doses iguais de humor e partes mais sérias até te pegar totalmente desprevenido. E assim vai nessa toada até lhe dar um verdadeiro soco no meio do nariz em determinado momento. Algumas reviravoltas da trama possuem a capacidade de deixar o espectador à beira das lágrimas. Eu só não chorei porque críticos de cinema estão proibidos de fazê-lo, é uma regra do sindicato. Mas os civis estão liberados.
Às vezes esse trabalho de crítico tem suas coisas ruins (como ter de ver uma porrada de porcarias), mas em outras acaba compensando. Afinal, Não Aceitamos Devoluções é o tipo de longa que eu provavelmente nunca assistiria se não fosse pelo trabalho. Um pequeno grande filme. Longe de ser perfeito, mas com muito sentimento verdadeiro. Só isso já vale a pena.