O Modest Mouse é o tipo de banda em que a princípio não se presta tanta atenção quanto se deveria. Sua sonoridade, a uma primeira ouvida, lembra um Pixies (muito por causa do vocal e das linhas de guitarra) em versão caipira. Mas ouvindo com mais cuidado, logo se percebe que ela está bem longe de ser algo derivativo e seu som, na realidade, é muito interessante e único.
O disco anterior da banda, We Were Dead Before the Ship Even Sank, de 2007, figura na minha lista pessoal de melhores dos anos 2000. E não é que lá se foram longos oito anos até que eles finalmente lançassem seu sucessor? É muito tempo e isso só serviu para criar uma expectativa ainda maior, que dificilmente seria saciada.
Bom, agora que o novo álbum, Strangers to Ourselves, já se encontra entre nós, dá para constatar. Realmente não está no nível do trabalho anterior, o que também não quer dizer que seja ruim. Pelo contrário, o disco no geral é bem bom, e em seus melhores momentos é excelente. Mas não pude deixar de achá-lo um tanto irregular.
O que mais impressiona nos discos recentes da banda é o nível de qualidade que eles conseguiam conferir a todas as canções. Em trabalhos de muitas faixas e de longa duração como We Were Dead… e seu predecessor, Good News for People Who Love Bad News (2004), impressionava que todas as faixas eram boas, não havendo nenhum filler, nenhuma que você pudesse pular sem dó.
Desta vez não tive essa impressão, mesmo após várias audições. Não ajuda o fato dele abrir com uma faixa mais sossegada, a que dá nome ao disco, que não é ruim, mas não dá aquela animada inicial que oito anos de ausência pediam. Felizmente, esse problema é consertado já na segunda música, Lampshades on Fire, uma típica faixa com a cara do grupo, excelente trabalho de guitarras e extremamente grudenta.
Talvez o problema seja esse. Eu realmente gosto das canções com o pedigree mais animado do Modest Mouse, guitarras apitando, uma estrutura extremamente pop e o vocal meio falado, meio berrado de Isaac Brock. Mas aqui um bom número de faixas sai desse padrão, seja buscando novos caminhos ou em composições mais lentas e suaves.
Eu sempre acho essa vontade de trilhar novas sonoridades louvável, mas nesse caso específico não bateu muito bem em mim. Pistol (A. Cunanan, Miami, FL. 1996), que lembra muito um batidão, é uma que se encaixa nessa categoria. E ela é seguida imediatamente por The Ground Walks, with Time in a Box, uma das melhores (e a maior) do disco, dona de todos os elementos que eu gosto no som deles.
As mais suaves, como as desaceleradas Shit in Your Cut e Pups to Dust, as mais climáticas Ansel e Be Brave e a balada e primeiro single Coyotes são boas, mas em comparação com as mais agitadas, tipo Sugar Boats (essa com um tecladinho circense ecoando Blur) e The Best Room, acabam ficando um tanto atrás na minha preferência.
Como um todo, o tracklist tem uma boa coerência, mas essa alternância de faixas mais guitarreiras com outras mais calmas acabou por não replicar para mim a mesma vibe dos álbuns anteriores, que não tinham muito espaço para respiro, e olha que eles também tinham canções mais sossegadas.
Strangers to Ourselves pode não ser o álbum forte que um período de longa ausência praticamente exigia, mas mostra que a banda ainda tem as manhas, continua afiada e em seus melhores momentos ele realmente compensa por outras faixas que não estão no mesmo nível. Perto do que as bandas novas fazem hoje em dia, mesmo este disco um tanto irregular posiciona-se vários degraus acima e merece atenção.