Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots

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A responsabilidade de escrever a resenha de um jogo tão tremendaço para um site que tem o meu respeito e amor incondicional (por causa de lavagem cerebral, possessão, etc) é tão grande que me deu tremedeiras e demorei bastante para colocar em prática o desejo de falar sobre um dos jogos mais aguardados para as plataformas da nova geração: Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots.

Brevíssima história da franquia: Tudo começou há 21 anos, quando o nerd Hideo Kojima lançou, para um videogame que só três pessoas e um cachorro conheciam, um jogo focado em evitar ser descoberto pelos inimigos, criando o conceito conhecido hoje como Action Stealth Game. Devido ao sucesso, resolveram publicar esse jogo para o (então mais famosinho) NES em 1988.

Após o lançamento de dois jogos em 2D, a franquia atingiu grande sucesso em 1998, com a adaptação de Metal Gear para o abiente 3D do Playstation vendendo milhares de cópias. Foi quando coloquei minhas mãos na obra pela primeira vez. A princípio, essa coisa de evitar os inimigos não me cheirava bem, pois sempre fui fã da sutileza de personagens como Kratos e pancadarias ao estilo de God of War, porém o jogo foi se tornando viciante e descobri o charme de fazer tudo pelo lado mais difícil ao invés de acabar com todo mundo com uma big funckin’ gun. Metal Gear Solid (1998) conta com jogabilidade fora do comum para os padrões da época, diálogos dramáticos muito bem escritos e um roteiro digno de hollywood (e digo isso com lágrimas nos olhos).

O sucesso está estabelecido. Os outros dois jogos da franquia: Metal Gear Solid 2: Sons Of Liberty e Metal Gear Solid 3: Snake Eater continuam a história principal adicionando belíssimos gráficos, ótima jogabilidade e detalhes que dão ao jogo sua identidade singular, como em Metal Gear 3, onde, se você tiver levado muita bala durante uma peleja, precisa procurar medicamentos, agulha e linha para costurar os novos ferimentos, ou vai perdendo vida até morrer e se encontrar com Hideo Kojima o criador.

Agora vamos ao que interessa: você é Solid Snake, um soldado no melhor estilo “destrua exércitos sozinho em duas lições”, especializado em combater terroristas e riscar armas de destruição em massa do mapa. Neste mundo, a guerra não é mais um acontecimento isolado em pequenos focos, mas uma constante batalha onde quer que você esteja. Este mundo de guerra está cheio de mercenários que vendem seus contratos para o melhor pagante, tentando ter o melhor desempenho em campo de batalha para obter mais e mais contratos, o que gera um círculo vicioso de mais e mais destruição.

Snake é inserido no jogo disfarçado de inspetor da ONU, mas sua missão é encontrar e assassinar Liquid Ocelot, dono dos maiores exércitos de mercenários do mundo. Isso não é nada fácil, pois além de cercado por seus exércitos, ele ainda é protegido por quatro fêmeas fatais. Soldados meio mulheres, meio máquinas, (hum… mulheres/máquinas com carne crua…), todas tão lindas e bem feitas que eu deixaria que fizessem miséria comigo, depois faria miséria com elas e ainda deixaria que fizessem miséria comigo mais uma vez. Elas são chamadas de Beauty and the Beast Corps (Grupo Armado A Bela e a Fera) e são preparadas especialmente para dar cabo da sua pobre vida.

A história das beldades é um dos pontos altos no roteiro do jogo, pois todas são refugiadas de guerra e traumatizadas por terem presenciado o assassinato de um monte de gente quando eram crianças, incluindo suas famílias. Como boas fêmeas fatais, elas se vingaram de seus algozes da forma mais cruel possível.

Para completar o mar de rosas em que se encontra nosso herói, ele está sofrendo de envelhecimento precoce causado pela degeneração de suas células! Tem que ser muito primo do Chuck Norris para ter esperança de escapar dessa vivo, coisa que nosso herói não é. Ele só quer completar sua última missão. Em meio a gigantescas cutscenes, algumas de mais de 20 minutos, você presencia um roteiro cheio de reflexões sobre a brutalidade da guerra, a humanidade e suas faces, o valor da vida e do amor.

Como fanático pela série, eu classifico a qualidade gráfica do jogo como uma experiência quase visual/espiritual. Fico às vezes por minutos sem conseguir apertar um botão, pois estava babando no cenário dinâmico e nas terríveis explosões da treta que se desenrola enquanto você caminha no meio do tiroteio entre dois exércitos. Todos os detalhes são extremamente precisos mesmo quando a câmera está muito próxima.

Uma ferramenta divertidíssima dessa alta definição é a camuflagem do nosso personagem principal cuja roupa, quando está parado perto de uma parede, assume os padrões e as cores dela, deixando você praticamente mesclado ao ambiente, como um camaleão (apesar de a vestimenta ser baseada nas habilidades de camuflagem do polvo).

Outro detalhe que sempre me deixa com vontade de sair sacrificando bodes em agradecimento é o sangue espatifando na parede quando você se aproxima de um soldado sem ser visto e descarrega covardemente seu pente de balas na nuca do sujeito. Não é mais um quadradinho pintado de vermelho e sim um borrifo mais bonito que jogar xarope de groselha no leite.

Em suma, belíssimo divertimento visual cheio de interatividade com o ambiente. Muito dessa beleza visual vem do inédito sistema de câmera que, além de dar uma visão bem ampla ao jogador, consegue dar ritmo à ação proporcionando a opção de se jogar tudo em primeira pessoa ou por cima de qualquer um dos ombros do personagem principal. Fica claro que a produtora deu uma atenção especial em fazer com que a câmera funcione exatamente do jeito que você quer.

Nem tudo é visual, pois os sons do game também detonam. As armas soam diferente em ambientes fechados e abertos, além de explosões de deixar com a cabeça tonta e o ouvido zunindo (o que acontece literalmente no jogo). Quando você está escondido, o game é silencioso, mas quando é descoberto, rola uma música empolgante e forte que vai te deixar com o coração pulando enquanto passa fogo nos inimigos ou corre para um lugar seguro. As músicas dos outros jogos da série, bem como um bom número de outras composições, estão disponíveis em um iPod que o jogador pode usar para aplacar o estresse do velho herói, mas isso eu conto daqui a pouco.

A jogabilidade impressiona com uma formula (impossível?!) simples e ao mesmo tempo cheia de opções. O combate corpo a corpo é feito com o básico P+P+K (Soco+Soco+Chute) aplicados com um único botão. Além de sentar a bala com uma infinidade de armas customizáveis que vão de uma pistolinha de tranqüilizante até um lança-mísseis, você pode nocautear seus adversários com sua faquinha de dar choque, torcer o pescoço dos filhos da mãe, rendê-los e fazê-los de refém-escudo-casaco e muitos etcs mais.

Como já dizia o jogador hardcore: “quanto mais difícil e mais complicado, melhor”. Digo que a dificuldade está de bom tamanho, apresentando um dos sistemas de inteligência artificial mais espertos que eu já vi. Não é só ficar parado apontando a arma onde vai surgir a cabeça do infeliz para abatê-lo, se você ficar muito tempo nessa posição o cara vai chamar reforços, lançar granadas ou dar a volta para fazer miséria com você pelo outro lado.

Não se pode confiar na camuflagem como se fosse te deixar invisível. Os soldados do lado oposto também têm bons olhos e podem ver você ao menor movimento. A grande variedade de inimigos força a mudar o estilo de combate. De “escondido e silencioso”, quando forem inimigos mais fortes e bem armados para “Eu sou o Rambo e cuspo fogo em todo mundo com o meu canhão!” quando os inimigos forem menos preparados para enfrentar toda a sua tremendice. Apesar de tremendão, você está a cada dia mais velho, ou seja: se ficar agachado tempo demais, suas costas vão doer e você vai ficar mais lerdo até colocar salompas no lombo para sarar. Se você for descoberto muitas vezes em pouco tempo, ou uma bomba explodir perto demais ou ainda só de ficar exposto em campo aberto numa batalha, seu nível de estresse vai aumentar, o que prejudica a sua pontaria, a velocidade com que recupera sua vida e até a força de seus socos. Mas não se desespere, tem até uma psicóloga de plantão no seu comunicador para ajudar a relaxar.

Apesar da linearidade do jogo e de sua história, há vários momentos em que mudanças bem-vindas aparecem. Um exemplo são as fases em que você está no controle de uma super-metralhadora instalada acima de um veículo blindado fazendo buracos em tanques de guerra bípedes. Ou então na batalha entre dois super-robôs-lançadores-de-mísseis-nucleares que se digladiam e destróem o cenário todo em cima de uma plataforma. E o melhor: você está no controle de um deles!

A seqüência final de luta é uma das mais realistas e cruéis que eu já joguei. Apesar de pecar um pouquinho pela jogabilidade, tem tudo o que eu gosto: personagens grandes na tela, seqüências de golpes fantásticas e muito sangue.

Você que teve paciência de ler até aqui deve estar se perguntando o porquê da ausência do Selo Delfiano Supremo se o jogo parece ser uma das sete maravilhas do mundo. Bom, querido delfonauta, nem tudo são rosas. Meu critério de avaliação de games é dos mais pentelhos e pessoais, pois gosto muito de jogos que alguns odeiam…

Depois de arrasar com uma cidade inteira, três chefões e uma beldade mortífera, você vai assistir dezenas de minutos de filminho. Que fique bem claro, sou apaixonado pela história e toda vez que rola um desses, eu fico babando nas seqüências de luta que são animais. O problema é que isso tudo dá tempo para você esfriar, ainda mais quando contém meia hora de diálogos de personagens não tão legais. Não dá para controlar a seqüência indo para frente ou para trás, mas dá para pular totalmente apertando start e escolhendo skip. Também é possível pausar com o mesmo botão. Só não dá para desgrudar os olhos da tela, pois há momentos em que você tem que apertar um botão para assistir a flashbacks que geram pontos no jogo e esses pontos liberam mais armas.

Sim, é uma das maravilhas do mundo moderno. Um trabalho redondo e definitivo e um motivo para muita gente ainda ter fé nessa nova geração de consoles. Só que você não quer que aconteça como aconteceu comigo: fui para casa, louco para terminar o jogo mais tremendão dos últimos tempos, acabei com o último chefe e me recostei para assistir o final. Uma seqüência maravilhosa que fecha direitinho a série. Dormi. Só fui ver o final do jogo no dia seguinte, quando descobri que ainda tem que ver os créditos até o fim para ver o resto da história. Não me crucifique, eu estava na ativa desde cedo, fui trabalhar, fui para a faculdade e terminei o jogo de madrugada. Então agora que você já sabe disso, clique aqui para comprar.

ADENDO DO CORRALES: SOBRE AS CUTSCENES

Na resenha acima, o Fábio focou no jogo, mas eu gostaria de falar um pouco sobre as cutscenes. Na verdade, o jogo não mostra apenas algumas dezenas de minutos de filminho, mas algumas centenas. O final, por exemplo, dura duas horas e meia (desde que você mata a última chefa até voltar para a tela título, embora tenha algumas pequenas cenas interativas aí no meio que não podem ser consideradas exatamente “jogo”).

Por um lado, isso é legal. Como amante do videogame como arte, é legal ver o quanto eles evoluíram, a ponto de que um produto assim tenha não só sido considerado viável, como também muito elogiado por toda a crítica. Por outro, isso traz alguns problemas que merecem ser abordados.

Quando consideramos que são raras as cutscenes presentes aqui com menos de meia hora, não consigo entender porque Kojima e sua turma não colocaram no jogo as mesmas opções de um DVD-vídeo ou de um Blu-Ray. Por que diabos não dá para voltar se você perdeu um diálogo? Por que não dá para “salvar” até onde você assistiu a cena e continuar depois? E, principalmente, por que não dá para ver quanto cada uma delas vai durar?

Por exemplo, em determinado momento, eu tinha pouco mais de uma hora para jogar, pois iria ao cinema. Achei que era o suficiente. Joguei uns poucos minutos e um filminho começou. E continuou. E não acabava nunca. E eu começava a me atrasar e não sabia quanto tempo ainda faltava até que pudesse salvar. Isso não pode acontecer.

Pensa comigo, se você quer assistir a um filme, você não vai escolher Senhor dos Anéis se não tiver pelo menos três horas livres, pois é possível saber sua duração, tanto no DVD quanto quando estava no cinema. Você vai escolher um mais curto ou então parar no meio e continuar depois. Qualquer aparelho de DVD permite isso, por que Metal Gear 4 não?

Outro problema é que algumas cenas simplesmente não precisam ser longas. A maioria delas conta com dois ou mais personagens conversando sobre o mesmo assunto durante mais de meia hora. Façamos uma analogia: é quase um episódio completo de Lost composto de uma única cena! Outras desnecessariamente arrastadas são as que vêm depois dos combates com as chefas, onde cada uma delas fica agonizando por quase cinco minutos, levantando e caindo sem parar, o que acaba deixando o negócio mais cômico do que qualquer outra coisa. Me lembrou até o Cascão se fingindo de morto nos planos infalíveis do Cebolinha.

E outra, por que nem todas as cenas são animadas? Muitas delas têm a animação substituída por uma seqüência de desenhos totalmente desconexos, enquanto outras bem longas trazem só o áudio enquanto na tela fica apenas aparecendo um logotipo.

Agora o mais grave de tudo é que Metal Gear 4 parece um jogo longo, mas não é. Na verdade, deve ser o mais curto desde a época dos 16-bit. Quando terminei o bicho, o reloginho deu umas 18 horas de jogo, o que é bastante. Porém, eu sinto que joguei menos de três horas. Na verdade, confesso que terminei o bicho antes de ter me acostumado completamente com os controles.

Parece que a turminha do Kojima usou a história longa como pretexto para não precisar fazer muito jogo. Isso, na minha opinião, é errado. Não vejo problemas em ter 15 horas de cutscenes, mas seria legal que fossem mais espaçadas e que você jogasse mais de cinco minutos entre cada uma (o que dificilmente acontece). Quando me habituei a isso, eu comecei a colocar o disquinho quando estava a fim de assistir algo, não quando estava a fim de jogar. E isso provavelmente vai acontecer com você também.

Da forma que está, a sensação é de que, ao comprar Metal Gear 4, você leva a temporada completa de uma ótima série de TV, não um jogo. Claro, vale a pena jogar/assistir com calma e desfrutar cada minuto para vermos como essa mídia evoluiu, mas não espere tanto conteúdo jogável quanto nos acostumamos a ter nos últimos anos. O que vai ser bem legal é quando tivermos cutscenes desse nível, sendo todas completamente animadas e com um recheio maior de jogo entre elas. Aí sim, eu mal posso esperar! *-*

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REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
metal-gear-solid-4-guns-of-the-patriotsAno: 2008<br> Gênero: Ação “Stealth” em terceira pessoa<br> Plataforma: Playstation 3<br> Fabricante: Kojima Productions<br> Versao: Playstation 3<br> Distribuidor: Konami<br>