O trio galês Manic Street Preachers é uma das bandas mais legais surgidas no Rock britânico da década de 1990. Com uma sonoridade marcada por guitarras barulhentas, a voz rasgada de James Dean Bradfield e letras politizadas, construíram uma carreira sólida no Reino Unido, onde são adorados (mas, verdade seja dita, não são muito conhecidos fora de lá).
Com Futurology eles chegam ao seu décimo segundo disco de estúdio, mantendo a boa qualidade de cada lançamento, ainda que de vez em quando (principalmente em trabalhos dos anos 2000 para cá) eles se apresentem irregulares, seja por terem músicas demais (o que também contribui para um tempo de duração excessivo), seja pela qualidade variante das canções mesmo.
Não é o caso no novo trabalho, que com 13 músicas e 47 minutos de duração, ficou enxuto e no ponto. Mas não era exatamente a sonoridade que eu estava esperando encontrar nele, o que me pegou de surpresa e me deixou um tanto frustrado.
As canções de Futurology foram gravadas nas mesmas sessões de seu disco anterior, Rewind the Film (2013). Só que ao invés de lançarem um álbum duplo, optaram por separá-los, não só para lançamento físico, quanto também pela pegada. Assim, colocaram as canções mais delicadas e introspectivas, de sonoridade mais acústica e orquestral no belo Rewind the Film e deixaram as mais animadas e roqueiras para este Futurology.
Logo, passei um ano esperando por um disco mais pesado e acelerado, com alta quantidade de guitarras, e o entregue acabou se revelando de fato um trabalho mais para cima em relação ao anterior, só que menos Rock e mais Pop. Seu som oitentista lembra muito Lifeblood (2004), aquele que é seu álbum mais mal avaliado por jornalistas e público pelo excesso de sintetizadores e guitarras comportadas.
O irônico é que eu gosto bastante de Lifeblood e sua estética cafona anos 80 e, logo, teria tudo para gostar bem mais deste aqui do que gostei. Mas tudo se resume àquela velha questão de expectativa. Não era exatamente isso que eu queria ouvir, logo, acabei me decepcionando um pouco.
Ainda assim, o disco em si é bom, mas também passa longe de ser o mais inspirado que já fizeram. Ele abre com a faixa que dá nome ao disco, já dando uma boa amostra de como será a estética dele todo, mais radio friendly. O primeiro single, Walk Me to the Bridge, também reforça esse conceito.
The Next Jet to Leave Moscow, a balada Divine Youth (com participação da cantora e harpista galesa Georgia Ruth Williams), Between the Clock and the Bed e Misguided Missile são outras representantes desse som voltado aos anos 80, com teclados muito presentes e uma levada mais comportada.
Já Let’s Go to War, com sua guitarra hipnótica e a mais pesada Sex, Power, Love and Money (especialmente no refrão) são as que mais se distanciam dessa estética e, justamente por serem mais diferentes e mais aceleradas, acabam virando os grandes destaques do disco.
E há ainda um terceiro grupo de canções, que mescla a sonoridade oitentista com outros elementos mais contemporâneos. Europa Geht Durch Mich, esta com a participação da atriz alemã Nina Hoss, tem uma pegada mais eletrônica, com guitarras processadas, assim como Black Square, com beats artificiais, sendo esta outro ponto alto deste trabalho.
Também há duas instrumentais, Dreaming a City (Hugheskova), com a maior cara de trilha sonora de videogame e a faixa que fecha o disco, Mayakovsky, que, tecnicamente falando, não é puramente instrumental, visto que o nome do poeta e dramaturgo russo que a batiza é pronunciado algumas vezes, mas você me entendeu. Ela não é tão boa quanto a outra, mas para encerrar o álbum funciona.
Assim, ironicamente um disco batizado Futurology acaba se mostrando como um disco com um clima mais nostálgico e com menos guitarras do que poderia ter, optando por se aproximar mais do Pop. Dentro dessa proposta, é um trabalho que corresponde e não faz feio em sua discografia. Quem já conhece a banda deve gostar, mas para neófitos, não é um disco que cause uma boa primeira impressão. Nesse caso, é melhor procurar seus discos mais antigos.