Linkin Park – The Hunting Party

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Eu já contei no meu Eu e o Rock que o Linkin Park foi a primeira banda da qual eu virei fã. Eles me iniciaram não só ao Rock, mas a toda a experiência de fangirl, de realmente conhecer os músicos por trás do trabalho. Na época em que eles apareceram, com o multiplatinado Hybrid Theory e seu sucessor Meteora, no começo dos anos 2000, eles eram idolatrados por adolescentes em todo o mundo, com seu Nu-Metal competente e mais inofensivo que o de Fred Durst, Jonathan Davis e companhia. Até que, quatro anos depois, em 2007, eles lançaram o Minutes to Midnight, que trouxe uma sonoridade bem diferente dos dois primeiros álbuns.

Embora rejeitado ferozmente por muitos, eu o considero o melhor momento do Linkin Park. Pode ser que eu seja do contra mesmo, afinal eu também adoro o Humbug, do Arctic Monkeys, o Trompe Le Monde do Pixies, a dupla Load e Reload, do Metallica e tantos outros discos que ninguém parece gostar. Mas o fato é que o MTM marcou a real maturidade da banda. As faixas pesadas ficaram mais trabalhadas, as baladinhas ficaram mais inspiradas e toda a sonoridade mostrou que eles cresceram como compositores e instrumentistas. Tivemos menos dos vocais guturais de Chester Bennington, é verdade, mas em compensação a banda deixou para trás o jeitão adolescente e assumiu cara de gente grande, e isso garantiu uma longevidade que grande parte daquela geração não teve.

Ter uma grande base de fãs fiéis e, ao mesmo tempo, um certo distanciamento do mainstream, permitiu que eles seguissem um rumo bastante experimental nos álbuns seguintes, o A Thousand Suns, de 2010, e o Living Things, de 2012. A esta altura, todo o pessoal que torce o nariz para elementos eletrônicos desistiu de vez da banda. Pessoalmente, eu continuei curtindo. Para ser muito sincera, talvez seja só porque esses caras significam tanto para mim que eu acabo me afeiçoando a qualquer coisa que eles fazem. Mas por outro lado, o jeito com que eles abraçam influências que são tão prontamente rejeitadas é, no mínimo, corajoso.

A ERA CARNÍVORA

Agora dia 17 de junho, chegou oficialmente às lojas o The Hunting Party, sexto álbum de estúdio da banda. Num excelente artigo que escreveu para o Pigeons And Planes, o vocalista Mike Shinoda explicou que as bandas da cena de Rock atual parecem ter se tornado o que ele descreveu com a expressão japonesa “Soushoku Danshi”, ou “homens herbívoros”: mansos, isolados, indiferentes. Ou, como preferiu o nosso delfiano Cyrino, bunda-moles. Segundo ele, este álbum é o Linkin Park se propondo a dar o primeiro passo contra isto e assumir uma atitude mais “carnívora”.

Eles já tinham começado esta temática anunciando a Carnivores Tour, uma turnê conjunta com outras duas sobreviventes da sua geração: o 30 Seconds to Mars e o AFI. E agora ela está por todo este álbum, que é mais “cru”, mais orgânico, e com muito mais foco no instrumental. Você vai ouvir dizer que este álbum é a “volta às raízes” do Linkin Park, mas não é verdade. Como fã, posso te dizer que toda a evolução que eles fizeram nestes anos todos continua aqui. Só que dessa vez com mais agressividade.

Isso já fica claro desde o primeiro segundo, com Keys To The Kingdom. Uma das mais empolgantes do álbum, ela tem o guitarrista Brad Delson e o baterista Rob Bourdon como grandes estrelas, mas também dosa perfeitamente os vocais. O mesmo vale para a seguinte, All for Nothing, que conta com a participação especial de Page Hamilton, do Helmet. Logo depois vem Guilty All The Same, a primeira do disco a ser divulgada, e a grande responsável pelas altas expectativas. Uma das músicas mais “metálicas” da história da banda, ela vai ficando cada vez mais empolgante e é coroada pela participação da lenda do Rap Rakim. Fica muito visível a influência que ele teve em Mike Shinoda.

Depois de um rápido interlúdio, vem War. Esta foi uma surpresa especialmente agradável para mim, porque ela é inquestionavelmente uma faixa de Punk Rock, com cara de Rise Against, ou até dos meus outros queridinhos do Bad Religion. Uma lindeza.

Wastelands é mais focada na percussão e no rap. Não causa uma grande primeira impressão, mas depois de algumas ouvidas, eu passei a curtir ela também. Until It’s Gone, por outro lado, é só esquecível mesmo. E como sempre, foi escolhida para ganhar clipe. Parece que eles sempre escolhem a mais fraca do álbum para ser single de propósito. 😛

Para compensar, logo depois vem Rebellion, que conta com a presença de Daron Malakian, guitarrista do System of a Down. Dá para reconhecer logo de cara, e fãs dos ilustres armênios com certeza vão curtir. Curiosidade: o primeiro show da história do Linkin Park foi em abertura para o SOAD.

Mark The Graves também é mais pesada, portanto o vocal mais “fofo” pareceu não encaixar e acabou ficando meio estranha. Drawbar afastou meio Alfredo sozinha, só pelo desperdício: ela é a que tem participação do tremendão Tom Morello e eu estava ansiosa para ouví-la, mas não é nada além de um interlúdio instrumental. Tão decepcionante quanto ter Tom Hiddleston no novo filme dos Muppets e não darem nenhuma fala a ele. 😛

Final Masquerade é outro momento esquecível, mas A Line In The Sand fecha o álbum como se deve. Não sei bem por quê, mas eu sempre espero que a última faixa de um CD seja ótima. Muitos dos meus álbuns preferidos têm na última faixa o seu melhor momento, e isso talvez seja o que faz com que eles se tornem meus preferidos. No caso do LP, o Minutes to Midnight conseguiu isso com a linda Little Things Give You Away, e aqui, aconteceu de novo. Creio que Mike Shinoda nunca cantou tão bem quanto nesta faixa, e ela tem uma letra que eu não vejo a hora de berrar junto no show.

A impressão que fica do The Hunting Party é que ele tem a energia dos primeiros álbuns, mas com a maturidade dos mais recentes, e graças a isso, a banda soa confiante como nunca. Se você ainda os acompanha, provavelmente vai amar. Se não, talvez agora seja uma boa hora para dar uma segunda chance aos caras.