Como prometido, hoje eu voltei para revisitar a discografia do Linkin Park, a minha primeira banda preferida, que me iniciou no Rock e na experiência de ser fã em geral, como uma pequena homenagem ao vocalista Chester Bennington, cuja morte pegou a todos de surpresa uma semana atrás.

Eu conheci e me afeiçoei pelo Linkin Park quando era literalmente uma criança, passei anos obcecada por eles e, embora tenha me interessado por coisas muito diferentes com o passar dos anos, nunca deixei realmente de acompanhá-los. Eu já sabia que eventualmente, quando a banda se desfizesse ou um deles morresse, eu sentiria. Só não imaginava que aconteceria tão cedo, e em circunstâncias tão tristes.

Embora não há quem tenha escapado de In The End, Crawling e Numb no começo dos anos 2000, existem facetas na trajetória da banda que passaram despercebidas. Hoje vamos falar exatamente sobre elas. Vamos, álbum por álbum, falar das músicas mais subestimadas, esquecidas, que não foram singles, não passaram na MTV e nem apareceram nos setlists dos shows.

HYBRID THEORY (2000)

Começando pelo álbum-milagre da banda. Eu descobri o Linkin Park por volta de 2004, e naquela época eu não fazia ideia de nada disso, mas pensando hoje no que estava sendo lançado, dá para perceber que o timing do Hybrid Theory foi perfeito.

O chamado New Metal já estava estabelecido há uns anos, com bandas como Korn, Deftones e Limp Bizkit, mas foi preciso uma banda como o Linkin Park – de refrões mais grudentos, letras menos agressivas e sem palavrões – para que a cena realmente atingisse o mainstream.

O álbum ainda segura o recorde de debut mais vendido deste século, e embora em retrospecto ele seja extremamente adolescente, ainda dá para entender porque ele estourou. É um álbum competente, conciso, e que mostra um respeito à parte Hip Hop da equação que faltava em boa parte daquela cena.

Um bom exemplo disso está em faixas como Papercut, Points Of Authority, A Place For My Head e em outra faixa que não teve tanta atenção quanto estas, mas que ilustra perfeitamente quão bem a banda mistura o Rap e o Rock: a (ironicamente intitulada) Forgotten:

Ela tem todos os elementos característicos do gênero, todos os contrastes e dualidades que caracterizam a banda, e ainda forma um todo surpreendentemente coeso. Se eu tivesse que resumir o New Metal numa música, provavelmente seria esta.

METEORA (2002)

O sucessor do Hybrid Theory é basicamente isso: um sucessor. Ele sai dos mesmos moldes do primeiro álbum, e foi feito para continuar nas rádios, apesar da cena já estar perdendo força. Seis de suas treze faixas viraram singles.

É um álbum misto. Ele tem faixas muito fracas, com jeitão de filler, mas as que são boas são muito, muito boas. Faint e Lying From You são duas das melhores faixas da banda até hoje, e Breaking The Habit foi a primeira vez que eles se mostraram dispostos a quebrar a própria fórmula. O clipe dessa música me impressionou tanto a primeira vez que eu ouvi, que até hoje ele me dá arrepios. Unido aos clipes do Gorillaz que estavam saindo na mesma época, fez com que eu criasse uma predileção por clipes animados.

Mas a faixa que todo mundo lembra neste álbum é a baladinha Numb. E por mais que eu jamais passe uma oportunidade de uivá-la no karaokê, eu sempre achei Easier To Run uma baladinha muito mais respeitável. Chester brilha nessa faixa, e ouvir a letra dela agora tomou uma dimensão mais sombria.

MINUTES TO MIDNIGHT (2007)

Se em 2002 o New Metal já estava perdendo tração, em 2007 o mainstream já tinha superado aquela cena há bastante tempo. O Linkin Park também, aparentemente: recrutaram um produtor mais “gente grande” – Rick Rubin, que tem no currículo nomes como Red Hot Chili Peppers, System of a Down e Slayer – e se repaginaram completamente. A reação foi péssima e o álbum ainda torce muitos narizes, mas eu me apaixonei por ele imediatamente e defendo que ele é o melhor álbum da banda, o responsável por eles terem se mantido relevantes.

Este álbum foi o amadurecimento da banda: ele é mais equilibrado, mais coeso, e eles parecem mais seguros do que nunca. Mike Shinoda se arrisca cantando pela primeira vez, as letras ficaram mais trabalhadas, o guitarrista Brad Delson aparece mais do que nunca, e temos uma faixa em que um dos gritos do Chester dura DEZESSETE SEGUNDOS.

Eles conseguiram montar um álbum que soava familiar para quem curtia a sonoridade anterior, mas que, intencionalmente ou não, ainda conversava com a cena Emo que estava no auge naquele ano, especialmente nas letras. O “Sometimes solutions aren’t so simple/sometimes goodbye’s the only way” de Shadow Of The Day é outra das letras que ficaram mais pesadas agora.

Este álbum inteiro conta como momento underrated, mas eu tenho de destacar duas faixas: No More Sorrow, uma das mais pesadas da história da banda cuja letra foi feita para ser berrada por uma multidão num estádio:

E Little Things Give You Away, que fecha o álbum. Uma baladinha que começa meio creepy e vai crescendo até culminar em harmonias vocais, outro solo de guitarra ótimo e o momento mais criativo do baterista Rob Bourdon neste álbum. Um exemplo do entrosamento da banda e minha faixa preferida deles até hoje:

A THOUSAND SUNS (2010)

Agora, com a liberdade de estarem divorciados de vez do rótulo de New Metal e com a segurança de ter uma base de fãs fiéis, eles realmente começaram a experimentar. O A Thousand Suns é um álbum conceitual, com jeitão de sci-fi distópico. A sonoridade dele é realmente muito diferente de tudo até aqui, mas como fã, eu curti perceber a ousadia e a confiança que eles mostram aqui. Dá para notar quão detalhistas eles foram na construção deste álbum, e quanto eles trabalharam para que ele fosse realmente um projeto artístico e não só uma compilação de músicas novas. Até os clipes têm cara de trailer de filme:

Embora muitas faixas dele nunca tenham me conquistado, ele tem momentos sólidos como Burning In The Skies, Wretches and Kings, e Waiting For The End. Mas nas últimas semanas, uma faixa em particular tem sido lembrada nos muitos memoriais ao Chester:

Esta faixa curtinha e totalmente crua, que quebra a estética do álbum em todos os aspectos para encerrá-lo de um jeito simples e positivo. É como uma cena fofinha no meio de um filme de desastre.

LIVING THINGS (2012)

Assim como o Meteora soa como um Hybrid Theory parte dois, o Living Things também pareceu uma sequência para o A Thousand Suns. Tudo o que deu certo lá aparece aqui de novo, mas dessa vez ainda mais radio friendly.

Pouco depois que este álbum saiu eles anunciaram que viriam para o Brasil pela terceira vez, e dessa vez eu finalmente já tinha idade para ir. Ou seja, pode apostar que eu aprendi TODAS as letras deste álbum, e até hoje faixas como Victimized e Until It Breaks são especiais para mim não só por serem as melhores do disco, mas porque me lembram do show e daquela época em geral. Mas considerando toda a trajetória dos caras, ele é o álbum mais fraco. Mas aí tem Roads Untraveled, provavelmente a música mais fofa que eles já fizeram e com uma letra que parece um poeminha:

Uma graça.

THE HUNTING PARTY (2014)

Se no Living Things eles pareciam estar ficando confortáveis demais, aqui eles resolveram dar um passo na direção oposta e resgatar a agressividade que parece estar em falta na cena de Rock. Eu já falei desse álbum por aqui, então se você quiser saber o que eu achei dele com mais detalhes, dá uma olhada na resenha.

E enquanto eu mantenho que ele é um álbum sólido e competente, ainda fico chateada de perceber quantas pessoas não sabem da existência de War – uma faixa inegavelmente Punk Rock no meio da discografia do Linkin Park.

ONE MORE LIGHT (2017)

E o novo álbum acabou de chegar, falando predominantemente de segurar as pontas em fases difíceis. A faixa que deu nome ao álbum, especialmente, falava de perder alguém querido:

Não há faixa mais adequada para fechar esta lista em que a gente lamenta a perda de um artista tão talentoso e icônico, que tantas vezes parecia validar os nossos dramas pessoais e traduzir nossos sentimentos.

RIP, Chester!