Se há algo que não falta no cinema pop brasileiro são filmes sobre artistas da música. Do sertanejo à MPB, passando pelo rock, há cinebiografias para todos os gostos. Legalize Já – Amizade Nunca Morre chega agora para contar o que viria a ser a gênese do Planet Hemp.
Como o subtítulo já entrega, ele é centrado na relação de amizade entre os vocalistas Marcelo D2 e Luis “Skunk” Antonio. Os dois se conhecem por acaso e rapidamente viram amigos dados seus gostos musicais parecidos e o fato de ambos estarem igualmente na pindaíba. Insatisfeitos com os rumos sociais do país, Skunk incentiva Marcelo a transformar seus escritos em letras de música.
Mas é claro que o que sairia desse encontro fortuito também seria mostrado. Assim, vemos a formação do Planet Hemp e sua mistura de rock, rap e hardcore, ou “raprocknrollpsicodeliahardocoreragga”, como a própria banda definia sua sonoridade.
Acompanhamos seus primeiros dias, até o lineup ser completado com Rafael na guitarra, Formigão no baixo e Bacalhau na bateria. Os primeiros ensaios, as primeiras apresentações e a morte de Skunk, em decorrência da AIDS, antes mesmo da banda gravar seu primeiro disco (seus vocais no álbum foram assumidos por B Negão).
Eu tenho uma relação afetiva com a banda. Ouvi muito este primeiro disco, Usuário (1995), na minha adolescência. E até o reescutei na ida e volta da cabine para entrar no clima. Logo, estava bem curioso para ver o filme.
E gostei bastante do que assisti. Ele é muito bom. A começar pelo visual bem diferente. Sua fotografia é praticamente preta-e-branca, quase num tom de sépia, com as cores bem lavadas, totalmente desbotado. Ficou mesmo bem diferente e me agradou.
D2 MAS MANTENHA O RESPEITO
Os dois protagonistas estão ótimos em suas performances (bem como todo o resto do elenco) e, uma raridade no cinema nacional, os diálogos são muito bem trabalhados. Conseguem passar a sensação de naturalidade, de “é assim que se fala na vida real”, onde poucas produções brazucas obtêm sucesso. E as conversas entre D2 e Skunk arrancam risadas em vários momentos.
Ironicamente, a maior marca registrada da banda, a maconha, não possui um papel de destaque no longa. Sim, eles aparecem fumando e falando a respeito, mas é bem menos do que se poderia imaginar de um grupo que leva a erva até no nome.
A história prioriza as letras de Marcelo mais críticas à sociedade, tratando de desigualdade social, violência policial e corrupção política, como Futuro do País e A Culpa é de Quem?, por exemplo, mostrando que eles sempre tiveram muito mais a falar do que apenas a respeito daquela erva natural que não pode te prejudicar.
O delfonauta a essa altura já sabe bem que embora eu despreze musicais, sempre gostei muito de filmes relacionados à música, mesmo que eu não goste ou não conheça os artistas radiografados. Este aqui cai muito bem nessa categoria. Não só pela minha já mencionada relação afetiva com o grupo, mas pelo fato de que ele é muito bem feito, sendo um dos melhores do tipo que assisti até aqui na cinematografia nacional.
Assim, se você é fã do Planet Hemp, ou mesmo se, como eu, gosta desse tipo de história, mesmo não tendo nenhuma relação com o biografado, Legalize Já – Amizade Nunca Morre tem tudo para deixar os dois tipos de espectador mais do que satisfeitos.