Karate Kid

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Eu já disse várias vezes por aqui que tenho medo de crianças, especialmente se elas estiverem cantando. Sabe, porém, o que é ainda mais assustador do que uma menininha cantando? Um moleque que é igualzinho ao pai. É o caso de Jaden Smith e, por causa disso, eu tenho medo dele.

Outra coisa que dava medo em mim e em muita gente era este remake do clássico da Sessão da Tarde Karate Kid, que prometia arruinar nossa infância. E sabe de uma coisa? Como você deve ter percebido pelo majestoso selo que ilustra esta página, não arruinou. Muito pelo contrário, temos aqui um remake muito legal. Até porque a história é relativamente diferente, mas o coração é o mesmo.

Aqui conhecemos Dre (Jaden Smith, filho do Will), um moleque obrigado a se mudar para a China por causa do emprego da mãe. Como se isso já não fosse difícil o suficiente, chegando lá ele imediatamente começa a ser torturado pelos bullies locais. Yada, yada, yada, ele está treinando Kung Fu com o senhor Han (Jackie Chan) e em breve vai participar de um torneio onde vai ter que encarar toda a turminha da academia do mal.

A história é diferente da original, mas mantém suas similaridades. Sai o popular Daniel-San e entra Xiao Dre (Pequeno Dre). Sai wax on/wax off e entra o jacket on/jacket off. Ou seja, como disse antes, a história é outra, mas o coração é o mesmo. E na hora que o senhor Han finalmente liga o exercício da jaqueta ao Kung Fu, eu voltei a ser criança, meus olhinhos brilharam e meu cérebro exclamou silenciosamente um “nooooossa!”. É por cenas como essa que o cinema existe. Foi mágico! *_*

Convenhamos, analisar um filme do gênero Sessão da Tarde não é a mesma coisa que analisar uma real obra da sétima arte. Afinal, todos nós conhecemos esse roteiro de cor e salteado. Você sabe antes de entrar no cinema que a última luta vai ser com o bully principal, que ele vai jogar sujo e qual será o resultado final. Você sabe que vai ter a partezinha triste onde tudo dá errado ao mesmo tempo e logo em seguida tudo dá magicamente certo ao mesmo tempo. Faz parte da brincadeira. E já que todo mundo conhece o roteiro de trás para frente, sobra fazer aquela coisinha básica que, na maior parte dos filmes, a gente acaba esquecendo: relaxar e se divertir. E é justamente nesse ponto que Karate Kid brilha.

É um filme divertido, bonitinho e positivo, daqueles que descem redondo numa tarde de sábado de verão. E olha só, é exatamente isso que ele se propõe a ser. Portanto, não seria justo julgá-lo como algo a mais. Seria como procurar no Kiss a profundidade do Pain of Salvation.

Ainda assim, vale citar algumas coisinhas que me incomodaram. O protagonista Dre parece não ter uma personalidade muito bem definida. É fácil gostar dele quando o foco é na relação com a mãe ou com o senhor Han, mas ele fica bem irritante quando está perto da garota que gosta. Na hora que ele liga a música do celular na frente dela e começa a dançar sozinho eu cheguei a ficar até com vergonha alheia.

Outra reclamação já é básica em quase qualquer filme com cenas de ação: a maldita tremedeira das câmeras. As coreografias são nada menos que sensacionais, mas infelizmente não é sempre que você consegue entender o que estava acontecendo.

E já que falamos nas lutas, seria legal ter uma cena final onde o professor do bem (o Jackie Chan) e o do mal lutassem entre si. Seria uma luta final bem épica e empolgante, já que todo o roteiro é construído para que você pense que “não existem maus alunos, existem maus professores”.

Portanto, amigo delfonauta, pode respirar aliviado. Dessa vez Hollywood não estragou uma carinhosa memória da nossa infância, apenas nos deu a possibilidade de sentir novamente aquilo que sentimos ao ver um dos filmes mais marcantes do nosso início de vida. E isso é positivo.

CURIOSIDADES:

– Tem uma cena que está lá apenas para responder de forma bem meia boca porque o filme chama Karate Kid e não Kung Fu Kid. A saber, “Karatê, Kung Fu, tanto faz”. Legal, não?

– Já eu acho que seria uma boa transformar isso em uma série. Esse seria o Kung Fu Kid e o próximo poderia se passar no Brasil e chamar Capoeira Kid.

– Aliás, o pôster oficial que você confere ali em cima estaria perfeito para o Capoeira Kid, não? Até o cabelinho é igual.

– Já leu nosso especial Sessão da Tarde? Tá esperando o quê, mano? Clique aqui e regozije-se de nostalgia.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
karate-kidPaís: EUA / China<br> Ano: 2010<br> Gênero: Sessão da Tarde<br> Duração: 140 minutos<br> Roteiro: Steve Screenwriter, sob o pseudônimo de Christopher Murphey<br> Elenco: Jaden Smith e Jackie Chan.<br> Diretor: Harald Zwart<br> Distribuidor: Sony<br>